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Na abertura da assembleia do Sínodo dos Bispos, em Roma, o Papa Francisco foi claro sobre o que espera do encontro. Não quer um olhar puramente natural, “feito de estratégias humanas, de cálculos políticos ou de batalhas ideológicas” — “Isto não serve”, sublinhou. Ao invés, convidou os participantes do sínodo a olhar e discernir o presente, para ser “uma Igreja que, no meio das ondas por vezes agitadas do nosso tempo, não desanima, não procura escapatórias ideológicas, não se barrica atrás de convicções adquiridas, não cede a soluções cómodas, nem deixa que seja o mundo a ditar a sua agenda”.
“Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar, nem um plano de reformas. O protagonista é o Espírito Santo. Estamos aqui para caminharmos juntos com o olhar de Jesus”, afirmou esta quarta-feira durante a homilia na missa, na Praça de São Pedro, que inaugurou a 16.ª assembleia do Sínodo dos Bispos. Com o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, vai juntar em Roma, até ao dia 29 de outubro, mais de 400 pessoas ligadas à Igreja — incluindo bispos, leigos e variados especialistas. A oração, destacou o Papa, assume um papel essencial e constitui os “momentos mais poderosos do sínodo”.
Francisco disse ainda que o objetivo do sínodo é recentrar o olhar em Deus, lembrando a mensagem do seu antecessor também a propósito de um sínodo. “Como disse o Papa Bento XVI, a questão para nós é a seguinte: ‘Deus falou-nos, quebrou o grande silêncio, mostrou-se, mas como é que podemos trazer esta realidade para as pessoas de hoje, para que se torne salvação?’“, destacou. “Esta é a questão fundamental, a tarefa fundamental do sínodo: recentrar o nosso olhar em Deus, ser uma Igreja que olha com misericórdia para a Humanidade, uma Igreja que é unida e fraternal, que escuta e dialoga, que abençoa e encoraja, que ajuda aqueles que procuram o Senhor, que excita benevolamente os indiferentes, que abre caminhos para iniciar as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus no centro e, por isso, não é dividida internamente, e nunca é dura exteriormente”, apontou. A Igreja, que deve ter as portas “abertas a todos, a todos, a todos”, acrescentou, deve “arriscar em Jesus”.
Entre desafios e dificuldades, a Igreja deve procurar o “diálogo sinodal”
A todos os que vão acompanhar durante o mês de outubro o sínodo, “com as suas expectativas, esperanças e até medos”, o Papa disse que este momento deve servir para promover a “comunhão”. “Num tempo tão complexo como o nosso, onde novos desafios culturais e pastorais emergem, apelo a uma atitude interior calorosa e gentil, para que possamos encontrar-nos sem medo, num diálogo sinodal”, apontou,
Se o Povo santo de Deus, com os seus pastores, de todas as partes do mundo, nutre anseios, esperanças e até qualquer receio sobre o Sínodo que iniciamos, recordemos mais uma vez que esta não é uma reunião política, mas uma convocação no espírito. Não é um parlamento polarizado, mas um lugar de graça e comunhão.”
O Papa alertou ainda para as “tentações perigosas”, que podem conduzir a “uma igreja rígida, que se arma contra o mundo e olha para trás; uma igreja tépida, que se rende às modas do mundo; ou uma igreja cansada, fechada em si mesma”. Deixou, por isso, uma mensagem sobre a necessidade de purificação e reparação da Igreja.
A 16.ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, um acontecimento que tem sido classificado como um dos momentos mais importantes da vida da Igreja desde o Concílio Vaticano II, vai decorrer até ao dia 29 de outubro. Traz várias novidades, como o facto de, pela primeira vez na história, haver mulheres com direito de voto sobre o documento final — o encontro tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres. Portugal vai estar representado por José Ornelas, bispo de Fátima, e por Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, que são também, respetivamente, presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
O próprio modelo do encontro mundial em Roma é este ano diferente. O Papa anunciou, ainda em 2022, que a conclusão do Sínodo dos Bispos não consistiria apenas numa assembleia em outubro de 2023, mas numa dupla assembleia geral. A primeira parte decorre a partir desta terça-feira até ao final do mês e uma segunda parte em outubro de 2024, com “o objetivo de dispor de um tempo de discernimento mais prolongado”.