7.000 testemunhos, 4.000 declarações, dezenas de fotografias espalhadas e um corpo exumado. A polícia de Glasgow, capital da Escócia, não poupou esforços para tentar encontrar o assassino de Patricia Docker, Jemima MacDonald e Helen Puttock, que foram mortas no final dos anos 60. No entanto, o caso nunca foi encerrado e a melhor pista parece ter chegado quase 60 anos depois.
A polícia decidiu reabrir a investigação para descobrir quem é o famoso Bible John — nome pelo qual ficou conhecido o serial killer, que alegadamente terá feito referências à Bíblia durante uma viagem de táxi que partilhou com uma das vítimas — devido a declarações de vários especialistas feitas durante um podcast da BBC.
Lançado no ano passado, Bible John: Creation of the Serial Killer foi criado por Audrey Gillan, antiga jornalista do Telegraph e do The Guardian, de forma a reviver as histórias de três mulheres que acabaram mortas depois de uma saída à noite em BarrowlandBallroom.
Para tal, falou com diversos detetives já reformados, que, dos anos 70 até meados dos 90, seguiram todas as informações e passos de Bible John. E os seus palpites sobre a sua identidade acabaram por levar a polícia a mexer em documentos antigos.
Os investigadores acreditam que o serial killer era John McInnes. O homem, que se suicidou nos anos 80, chegou a ser considerado um suspeito, mas, segundo os próprios, foi “encoberto”, por se tratar do primo de Jimmy McInnes, grande amigo do responsável pela investigação, Joe Beattie. Na origem da desconfiança está o facto de o nome de McInnes nunca ter aparecido nos registos, apesar de ter sido foi identificado pela irmã de uma das vítimas. A mulher viajou no mesmo táxi que Helen e o assassino.
A descoberta, na cena do crime, de um cartão de visita da loja de decoração onde trabalhava levou a que o corpo de McInnes tivesse sido exumado, em 1995, para serem feitos novos testes. No entanto, os resultados foram inconclusivos.
Um assessor da polícia escocesa revelou que esta força de segurança “está a avaliar o conteúdo do podcast recente, juntamente com o Crown Office e o Procurator Fiscal Service”. “Os homicídios de Helen Puttock, Jemima McDonald e Patricia Docker continuam por resolver. No entanto, tal como acontece com todos os casos como este, estão sujeitos a revisão e qualquer nova informação sobre as suas mortes será investigada”, explicou, citado pela BBC.
Ainda assim, as famílias mostram a sua desconfiança relativamente ao resultado final desta nova fase do processo. “Não espero nada demais, para ser honesto. Vão provavelmente admitir que os homicídios não foram bem investigados inicialmente e pedir-nos desculpa”, lamentou Allan Mottley, filho mais novo de Jemima MacDonald, citado pelo The Guardian. No entanto, apesar da pouca esperança, não esconde que foi surpreendido pela decisão. “Quando a polícia nos ligou a dizer que iam voltar a investigar, foi como se uma bomba tivesse rebentado. Nunca imaginei que pudessem pegar no caso outra vez e olhá-lo com outros olhos”, confessou.
Patricia Docker tinha apenas 25 anos quando foi morta, em fevereiro de 1968. Ao seu assassinato, seguiu-se o de Jemima MacDonald, que, em agosto de 1969, tinha 31 anos. Já Helen Puttock foi a última vítima conhecida do Bible John, tendo sido morta em outubro de 1969, aos 29 anos.
A criadora do podcast, Audrey Gillan, mostra-se feliz com o resultado de “15 meses de investigação, que levaram à descoberta de alegações sérias e deram uma luz de esperança a uma história que atormenta a Escócia há mais de cinco décadas”. “Fazer este podcast foi tentar contar as histórias de Pat, Jemima e Helen o melhor possível, de maneira melhor à que tinha sido feita no passado”, confessou, citado pelo Telegraph.