O Millennium BCP lucrou 651 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, em termos consolidados, com a atividade em Portugal a gerar lucros de 556,8 milhões, quase o dobro (+93%) em relação ao período homólogo. Tal como a generalidade dos bancos, o BCP está a beneficiar de um aumento da margem financeira.
A margem financeira (consolidada) do BCP, que também tem operações na Polónia e em África, aumentou 37% para 2.117,5 milhões de euros. Este é o indicador que, em termos simples, reflete a diferença entre os juros cobrados pelo bancos nos empréstimos que concede e, por outro lado, os juros pagos pelas fontes de financiamento do banco (designadamente os depósitos).
Esta rubrica da margem financeira aumentou 64% para 1.097,7 milhões de euros só na operação portuguesa.
Os resultados líquidos em termos consolidados dispararam mais de 600%, já que o resultado do homólogo tinha sido inferior a 90 milhões de euros devido a um efeito não-recorrente: o banco reconheceu várias centenas de milhões de euros em perdas relacionadas com o problema dos créditos indexados a francos suíços na Polónia, que há vários anos têm vindo a pressionar as contas (consolidadas) do banco. Nestes nove meses de 2023 o banco até aumentou as provisões relacionadas com os créditos em francos suíços que foram concedidos até 2008 – mas isso foi compensado pelos outros impactos positivos nas contas, com o aumento da margem financeira à cabeça.
“Os resultados vêm materializar o trabalho feito ao longo de vários anos, saindo de uma situação mais debilitada que está ultrapassada”, diz Miguel Maya, presidente da comissão executiva do BCP na apresentação dos resultados, na sede do banco no Tagus Park em Oeiras. “O banco tem uma situação de capital muito robusta, está pronto para apoiar a economia”, diz Miguel Maya, que viu a carteira de crédito cair mais de 3% num contexto em que os bancos centrais estão precisamente a querer limitar a procura por crédito.
“Recomendo vivamente” novas medidas para o crédito “desenhadas de forma inteligente”
Na conferência de imprensa de apresentação dos resultados, Miguel Maya disse considerar que “as medidas de apoio foram desenhadas de forma muito inteligente e são um contributo muito relevante para dar maior previsibilidade às famílias”. “Recomendo vivamente que as famílias” recorrem a estas medidas, diz presidente-executivo do BCP, contrastando com aquilo que disse o concorrente presidente do BPI, que recomendou que só quem precisa mesmo é que deve recorrer às medidas.
“O BCP esta semana, quando irá entrar em vigor a nova legislação, já estará 100% preparado para operacionalizar as medidas desde o dia de entrada em vigor dessas medidas”, garante Miguel Maya, defendendo que as famílias devem aproveitar para “ganhar esta previsibilidade e ter esta tranquilidade de conseguir ter previsibilidade nas prestações de crédito”.
Miguel Maya diz que é verdade que se nota realmente “mais dificuldade dos clientes em pagar” as prestações do crédito, devido ao aumento do custo de vida. “Há uma maior dificuldade, houve um aumento do custo de vida, é claríssimo. Dito isto, quando olhamos para o caso concreto, há casos em que os clientes precisam de apoio. Mas se olharmos para a ‘floresta’ não vemos que exista um problema de natureza sistémica”.
Há uma nova “moratória” para os juros do crédito à habitação. Saiba como vai funcionar
Só este ano, o banco renegociou 15.900 contratos de crédito à habitação, até ao final de setembro. Desde junho do ano passado, a altura em que os juros começaram a subir, já houve cerca de 20 mil renegociações. O banco também tem 2.400 clientes que estão a receber bonificação de juros, ao abrigo do decreto-lei lançado pelo Governo: 32 euros por mês, em média, por cliente.
“Ao abrigo do decreto-lei são menos mas o que importa é que o cliente tenha visto a sua capacidade financeira ajustada às responsabilidades financeiras”, diz Miguel Maya, garantindo que o banco tem tido uma postura “dialogante” e “proativa” nesta matéria.
(Em atualização)