(em atualização)
Marcelo Rebelo de Sousa insistiu que não pôs qualquer cunha no caso das gémeas lusobrasileiras que fizeram um tratamento de saúde milionário no Serviço Nacional de Saúde português. O Presidente da República, que falava aos jornalistas em Setúbal à margem do 5.º encontro de Cuidadores Informais, frisou que não pode haver qualquer suspeição sobre o chefe de Estado no que diz respeito a esta matéria. Assim, embora ponha de lado avançar com processos judiciais contra jornalistas, Marcelo não descarta essa hipótese se surgir alguém a dizer que falou com ele sobre este assunto.
“Nunca ponho processos contra jornalistas e contra a comunicação social”, disse Marcelo, lembrando que sabe como o trabalho dos jornalistas é difícil, por já ter trabalhado na área e, inclusive, durante o tempo da censura. “A segunda questão é: o Presidente interferiu ou não?”, questionou Marcelo.
“Ontem disse que não tinha feito isso”, acrescentou o Presidente, sublinhando que, se o tivesse feito, o assumiria e faria um pedido de desculpas. No entanto, garante que não o fez. “Não falei com o primeiro-ministro”, nem com qualquer outro responsável da cadeira hierárquica, frisou Marcelo Rebelo de Sousa.
Outra coisa diferente são laços que a família das gémeas possa ter com familiares do Presidente da República. “Só há um Presidente, a família do Presidente não foi eleita, sempre disse isso”, acrescentou Marcelo, mas sem detalhar eventuais ligações que o seu filho que vive no Brasil — como se afirma na reportagem da TVI que lançou a polémica — poderá ter com a família das duas crianças.
“Na reportagem ninguém diz que falei com essa pessoa. Fala-se em ‘consta que’, ‘parece que sim’, mas não aparece uma única pessoa a dizer ‘o Presidente falou comigo’”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa. “Se aparecer alguém, não tenho outro remédio que não seja ir para tribunal para comparar a minha verdade com a verdade dessa pessoa.”
De resto, Marcelo Rebelo de Sousa diz que não é a defesa da sua honra, mas a honra do Presidente da República que está em causa. “O Presidente não pode ter a suspeição de que interfere na cadeia administrativa”, acrescentou, sublinhando que os portugueses têm de poder acreditar que quando o Presidente diz que não fez, foi mesmo assim. “Não podem ficar dúvidas”, concluiu Marcelo.
Sobre o valor do tratamento que as gémeas receberam — cerca de 4 milhões de euros —, o Presidente diz que não se irá pronunciar.
As gémeas vieram ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, receber o tratamento com Zolgensma, medicamento muito falado em 2019 devido ao caso da bebé Matilde. Nessa altura, a família da bebé que sofria de atrofia muscular espinal — a mesma doença das gémeas e que, na altura, afetava outras 10 crianças portuguesas — também procurava o tratamento do medicamento mais caro do mundo, que pode travar a doença, e que custa dois milhões de euros.
Matilde. Medicamento será sempre pago pelo Estado se for administrado em Portugal
No caso das gémeas, por serem duas, a fatura sobe para quatro milhões.