A OpenAI reuniu pela primeira vez um grupo de programadores para revelar novidades, quase um ano depois de agitar o setor tecnológico com a disponibilização global do ChatGPT. A OpenAI não tinha desvendado grandes detalhes sobre a conferência, chamada OpenAI DevDay, a não ser que “tinha ótimas coisas novas” para mostrar, conforme prometeu o CEO na rede social X.
openai devday is in a week–11/6 at 10 am
we have some great new stuff for you!
will be livestreamed on https://t.co/VaGG9g2o5x
— Sam Altman (@sama) October 30, 2023
Embora também tivesse uma componente presencial, em São Francisco, nos EUA, o evento foi transmitido em direto no site da empresa e no YouTube. A apresentação principal ficou a cargo do CEO da companhia. Algumas horas antes do arranque da conferência, Sam Altman escreveu no antigo Twitter que sentia uma “verdadeira energia de véspera de Natal”, num comentário que aguçou a curiosidade à volta do evento.
We’re all ready to kick off our first ever OpenAI DevDay! See you soon!
Tune into the keynote at 10 AM PST: https://t.co/58pPC7gpwj pic.twitter.com/oWN4Fltm2y
— OpenAI (@OpenAI) November 6, 2023
A grande novidade saída do evento é que a empresa vai lançar um novo modelo, chamado GPT-4 Turbo, que “vai responder a muitas das coisas que os programadores pediram”, prometeu o CEO da OpenAI. Se já interagiu com o ChatGPT e recebeu a resposta “o meu conhecimento só vai até setembro de 2021”, a conversa vai ser outra, uma vez que o novo modelo vai contar com informação até abril de 2023.
A versão mais recente, o GPT-4, que foi lançado em março, também só funcionava com informação de há dois anos. “Ficamos tão aborrecidos quanto vocês, provavelmente mais, até, por só haver informação até 2021”, brincou Altman. “Vamos tentar que nunca mais fique assim tão desatualizado.”
Além de mais conhecimento sobre acontecimentos globais, o GPT-4 Turbo vai conseguir apresentar mais informação num único pedido — o exemplo dado pela OpenAI é a de que vai conseguir incluir o “equivalente a mais de 300 páginas de texto numa única interação”. Além de mais contexto, o modelo também vai “ser mais preciso” nestes casos.
A versão Turbo do GPT-4 também vai conseguir interagir com outras criações da OpenAI, como o Dall-E (modelo gerador de imagens), o Vision (capaz de processar imagens e criar descrições) ou a nova versão text-to-speech, de texto para voz, com seis tipos de vozes à escolha.
Houve ainda destaque para uma questão sempre relevante: preços. “O GPT-4 Turbo é o modelo líder na indústria e é mais inteligente que o GPT-4. Ouvimos do programadores que há muita coisa que querem fazer com o GPT-4, mas que não fazem porque é caro”, contextualizou Altman. Assim, explicou que houve um trabalho da empresa para reduzir os custos associados ao uso do novo modelo.
Os modelos deste género funcionam com “tokens”, a unidade de texto ou código que os grandes modelos de linguagem (LLM, em inglês) lêem, que têm custos. Neste caso, o GPT-4 Turbo vai ser “consideravelmente mais barato”, disse o CEO. Os preços revelados foram de 0,01 dólares por mil ‘input tokens’ e 0,03 dólares por mil ‘output tokens’. “Para muitos clientes, vai ser 2,75 vezes mais barato para usar do que o GPT-4″, garantiu o principal rosto da OpenAI.
O novo modelo vai estar disponível em modo de pré-visualização a partir desta segunda-feira, na interface de programação de aplicações (API) e é esperada uma versão “estável para produção” ao longo das próximas semanas.
Empresas vão poder personalizar o ChatGPT para diferentes propósitos. E vem aí a loja GPT
Num evento para programadores, era inevitável falar em personalização. Depois do sucesso do ChatGPT, que passou a ser usado por empresas para diversos fins, a OpenAI prepara-se para lançar os GPTs, versões do serviço de IA que podem ser adaptadas a cada caso. Num evento que teve várias demonstrações ao vivo, praticamente sem percalços, Sam Altman mostrou uma versão personalizada para dar conselhos a empreendedores — algo de que precisou quando liderou a incubadora de startups Y Combinator.
Na apresentação dos GPTs, notou que é um “primeiro passo”, dado com “cuidado”, para a personalização de agentes. “Podem construir uma versão personalizada do ChatGPT para quase tudo”, explicou, e podem “publicá-los para serem usados por outros”. Foi apresentado um GPT criado pela Canva, a plataforma online de design, em que o utilizador pode descrever em linguagem natural o que pretende criar. “Se dizer que quer um poster para a conferência de hoje, vai apresentar algumas opções”, mostrou Sam Altman. O utilizador vai poder dar indicações ao GPT até receber o poster que pretende.
Os programadores vão poder criar GPTs privados ou partilhá-los com outros. A OpenAI anunciou que, para essa partilha acontecer, vai lançar uma loja, a GPT Store, no final deste mês. A ideia é que seja semelhante ao que é feito nas lojas de aplicações.
Os programadores vão poder fazer as suas criações, mas só aquelas que forem feitas por programadores verificados é que vão ser partilhadas (terão obrigatoriamente de respeitar os critérios e verificações de segurança da OpenAI). Tal como nas lojas de apps, vão poder ser pesquisados e haverá mesmo uma tabela dos GPT mais usados. A OpenAI promete que, “nos próximos meses, também vão poder ganhar dinheiro consoante a quantidade de pessoas” que estão a usá-lo. “Vamos pagar uma parte das nossas receitas às pessoas que construam os GPTs mais úteis e usados”, reforçou Sam Altman.
GPTs are a new way for anyone to create a tailored version of ChatGPT to be more helpful in their daily life, at specific tasks, at work, or at home — and then share that creation with others. No code required. https://t.co/SPV4TcMiQw pic.twitter.com/PcmorZwtMF
— OpenAI (@OpenAI) November 6, 2023
Um convidado especial: Satya Nadella, o CEO da Microsoft
A Microsoft tem sido um dos grandes investidores na OpenAI – as duas empresas têm mesmo uma parceria de vários anos e o novo Bing, que já funciona com IA, é baseado no modelo de IA desenvolvido pela OpenAI. Satya Nadella esteve na conferência da OpenAI, para mostrar que a dona do Windows quer continuar a trabalhar a longo prazo com a dona do ChatGPT.
Altman quase nem deu tempo ao CEO da Microsoft para se habituar ao palco, disparando a pergunta “o que é que pensa da parceria?”, situação que gerou risos entre a plateia. “Tem sido fantástico para nós”, respondeu Nadella, recordando que a ligação das duas empresas até começou com um pedido de créditos Azure, a infraestrutura desenvolvida pela Microsoft. “Queremos construir o nosso Copilot, como programadores. Estou muito comprometido com isto”, disse o líder da Microsoft.
Em relação ao futuro da parceria, o CEO da Microsoft frisou que a empresa está “profundamente comprometida” em garantir que a OpenAI e os programadores “têm os melhores sistemas e computação” para continuar a trabalhar. “Acho que temos a melhor parceria na tecnologia e estamos entusiasmados por construir AGI juntos”, respondeu Altman, referindo-se à inteligência artificial geral.
As conferências deste género, viradas apenas para programadores, já se tornaram um clássico no mundo da tecnologia. Tanto a Google como a Apple realizam eventos do género anualmente: a primeira tem o Google I/O, que se realiza habitualmente em maio, e a Apple tem a WWDC, a conferência anual global de programadores, em junho. A Amazon também realiza reuniões do género, ainda que mais viradas para o negócio da computação em cloud, a Amazon Web Services (AWS).
A OpenAI, que começou como uma organização sem fins lucrativos, dedica-se ao desenvolvimento e investigação de modelos de IA. Em novembro de 2022, lançou o ChatGPT, um modelo de linguagem com capacidade de gerar texto a partir de pedidos simples. A curiosidade à volta do modelo e a facilidade de interação fez com que o ChatGPT se tornasse na aplicação de consumo com o crescimento mais rápido, ao chegar a um milhão de utilizadores em apenas alguns dias. No evento, a OpenAI atualizou que atualmente “há 100 milhões de utilizadores ativos semanais no ChatGPT”. “O que é incrível é que chegámos a estes números apenas com o passa-palavra”, explicou Sam Altman.
Ao longo dos últimos meses, a OpenAI foi lançado novas funcionalidades e até um novo “motor” para o ChatGPT, o GPT-4, uma evolução “subtil” do antecessor GPT-3.5 com capacidade de processamento de imagens. No entanto, todos os lançamentos foram feitos sem “pompa” e sem direito a eventos especiais.