Siga aqui o nosso liveblog sobre a guerra da Ucrânia

“Atingimos um nível de tecnologia que nos coloca num impasse.” A frase foi dita pelo comandante das Forças Armadas Ucranianas, Valery Zaluzhny, numa entrevista à revista The Economist, e obrigou Volodymyr Zelensky a surgir em público (já depois do vice-chefe do gabinete do Presidente ucraniano) para negar a tese de impasse.

O desacerto entre o chefe de Estado ucraniano e o alto funcionário militar surge cinco meses após o início da lenta contraofensiva de Kiev contra a Rússia e numa altura em que o conflito entre Israel e Hamas toma conta da atualidade política internacional — e o próprio Zelensky já tinha alertado para o facto desta situação tirar o foco da guerra na Ucrânia.

As declarações do general Valery Zaluzhny, na entrevista ao The Economist, justificavam o facto de a Ucrânia só ter conseguido avançar 17 quilómetros desde que iniciou a contraofensiva, frisando que o atual momento de guerra faz recordar a I Guerra Mundial e argumentando que só um enorme salto tecnológico poderia permitir uma reviravolta.

“Tal como na I Guerra Mundial, atingimos um nível de tecnologia que nos coloca num impasse. Provavelmente não haverá um avanço profundo e bonito”, explicou o comandante das Forças Armadas Ucranianas, mostrando-se pouco esperançoso de uma mudança repentina que permita à Ucrânia um avanço mais notório. Na entrevista, Zaluzhny sublinhou que houve várias mudanças de planos quando os ucranianos perceberam que a contraofensiva não estava a resultar como previsto, mas frisou que a Rússia perdeu pelo menos 150 mil soldados e que “essas baixas, em qualquer outro país, já teriam levado a interromper a guerra”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Valery Zaluzhny referiu ainda que, após avanços e recuos em diversas estratégias, começou a analisar o que aconteceu na I Guerra Mundial e percebeu que, tal como naquela época, o nível de desenvolvimento de ucranianos e russos, tinha levado ao tal impasse que refere, por considerar que ambos estão equipados com tecnologia igualmente avançada. Aliás, o comandante considera que o atraso na entrega de armamento, nomeadamente caças F-16, também é um obstáculo.

A entrevista espoletou uma reação do Presidente da Ucrânia, em primeiro lugar através de Igor Zhovka, vice-chefe do gabinete de Zelensky, que recusou a ideia de que existe um impasse na guerra da Ucrânia. O governante não só disse que a entrevista foi “lida cuidadosamente e anotada” como foram tiradas conclusões. E perante as chamadas de parceiros em “pânico”, Zhovka deixou uma pergunta: “Era este o efeito pretendido com este artigo?” “Muito surpreendido”, o vice-chefe do gabinete de Zelensky questionou o método e sugeriu que este pode ser “um plano estratégico muito profundo” do comandante com que se deseja atingir “algum sucesso”.

Seguiu-se Volodymyr Zelensky que, numa conferência de imprensa ao lado de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, se sentiu obrigado a desmentir a ideia de impasse.

“Isto não é um impasse”, assegurou, reconhecendo que “as pessoas estão cansadas”, mas recusando a ideia de que se está nesse ponto. “A Rússia controla os céus. Nós tomamos conta dos nossos militares. Ninguém quer simplesmente abandoná-los, como a Rússia faz, enviando os seus cidadãos como se fossem meros pedaços de carne”, argumentou o chefe de Estado.

Aos olhos de Zelensky, a resposta está na capacidade de a Ucrânia controlar os céus e volta a relembrar a importância de receber os F-16 cedidos pelos países parceiros. “Quando tivermos defesa aérea na frente de batalha, os nossos militares poderão avançar e usar o equipamento que têm recebido”, frisou.

Até ao momento não é conhecida qualquer consequência para o comandante das Forças Armadas Ucranianas que deu a entrevista, mas as declarações demonstram que há opiniões diferentes sobre o momento da guerra na Ucrânia que se vive atualmente, quando a contraofensiva está a ser lenta e as atenções para com a Ucrânia a serem divididas com a situação na Palestina.

Zelensky convida Trump para visitar Ucrânia e avisa-o: “Não pode resolver a guerra”