Investigação revela documentos que ligam Abramovich a “testas-de-ferro de Putin” em negócio de 36 milhões de euros

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Apesar de Roman Abramovich já ter negado por diversas vezes as ligações financeiras com o Presidente russo, Vladimir Putin, tendo até processado a jornalista Catherine Belton, que provou essa conexão no seu livro Os Homens de Putin, uma nova investigação veio comprovar a proximidade entre ambos.

Os recentes documentos divulgados pela investigação Cyprus Confidential, citados pelo The Bureau of Investigative Journalism e a BBC Newsnight, ligam o antigo detentor do clube britânico Chelsea a um negócio de 40 milhões de dólares (aproximadamente 36 milhões de euros) com dois homens apelidados de “testas-de-ferro de Putin”.

Segundo o The Bureau of Investigative Journalism, “os documentos divulgados mostram que, em 2003, poucas semanas depois de ter comprado o Chelsea, Abramovich comprou uma participação de 25% numa gigantesca empresa russa de televisão e publicidade chamada Video International, por apenas 260 mil dólares (aproximadamente 239 mil euros)”. Este valor, segundo o antigo vice-ministro da Energia russo e atual opositor de Putin, Vladimir Milov, foi “ridículo”, visto que, na altura, a empresa tinha quase o monopólio da publicidade televisiva russa.

Abramovich vende Chelsea por 4,9 mil mihões de euros a dono dos Los Angeles Dodgers

“Essa participação rendia claramente muito mais, por muitas ordens de grandeza”, disse Milov, acrescentando que a empresa valia cerca de 2 mil milhões de dólares (aproximadamente 1,8 mil milhões de euros), na altura em que o oligarca a comprou, através das empresas Grosora Holdings Ltd e Finoto Holdings Ltd, sediadas no Chipre.

No entanto, a ligação de Abramovich aos “testas-de-ferro de Putin” só acontece sete anos depois. Em 2010, as empresas cipriotas já tinham arrecadado 30 milhões de dólares (27 milhões de euros) em dividendos e foi aí que decidiram vender as ações da Video International a duas outras entidades, por 40 milhões de doláres(36 milhões de euros).

Roman Abramovich na lista de sanções da União Europeia pelos “estreitos laços” com Vladimir Putin

Uma delas era a Med Media Network, pertencente ao violoncelista e amigo de infância de Putin, Sergei Roldugin. Além de lhe ter apresentado Lyudmila Shkrebneva, com quem casou em 1983, é também o padrinho da primogénita do Presidente, descreve a BBC. Já em 2022, foi apelidado de “intermediário de Putin”, pelo Tesouro dos EUA, por atuar como “parte de um sistema que gere a riqueza offshore do Presidente Putin”, tendo sido sancionado pelo país, Reino Unido e União Europeia (UE).

Rodulgin serve claramente para encobrir a propriedade pessoal de Putin. Este tipo é absolutamente uma figura nominal, porque não percebe nada de negócios, finanças, transações internacionais, etc.”, garantiu Milov, citado pela BBC.

A outra é a Namiral Trading, cujos documentos judiciais a ligam a Alexander Pekov, descrito pelo governo britânico como “amigo próximo de Putin”. O bioquímico, que mais tarde de tornou empresário, já tinha sido sancionado pelo Reino Unido por alegadamente ter permitido que a sua empresa Vital Development Corporation beneficiasse de um “patrocínio estatal significativo”.

Os dois oligarcas já tinham estado no centro de um alegado esquema de branqueamento de capitais gerido pelo Banco Rossiya e outros associados próximos de Putin, tendo diversas ligações a Putin sido reveladas no âmbito dos Panama Papers.

A BBC e o The Bureau of Investigative Journalism contactaram os visados, tanto Abramovich, como os “testas-de-ferro de Putin”, para responder às novas descobertas do Cyprus Confidential, uma colaboração entre mais de 250 jornalistas e 65 meios de comunicação em todo o mundo, mas não tiveram resposta.

Logo após o início da invasão russa, o empresário entrou para a lista de sanções pelos “estreitos laços” com o Presidente russo, tendo sido acusado de ser “um dos maiores contribuintes da Rússia”.

Em maio deste ano, uma investigação do jornal Público enunciou que Abramovich ocultou 760 milhões de libras (cerca de 874 milhões de euros) num novelo de estruturas offshore, num curto período de tempo entre a invasão russa da Ucrânia e as sanções executadas pelo governo britânico a 10 de março, que se traduziram no congelamento de milhares de milhões de euros. Além disso, mostrou que o empresário conseguiu a nacionalidade portuguesa em dois meses.