Um cruzamento de artistas, sonoridades e públicos diferentes, ao abrigo de um Centro Cultural Belém que se quer afirmar como “um chão comum”. Assim se descreve de forma sucinta a vontade do festival de música Belém Sound Check, o novo evento musical organizado pelo CCB, que terá lugar entre os dias 21 e 24 de março do próximo ano e trará ao centro cultural nomes como Patti Smith (com o Soundwalk Collective), Camané, Maria João e Amaro Freitas, entre outros.
O evento decorrerá em formato bienal, numa proposta que tem vindo a ser planeada pela direção do CCB há algum tempo. De acordo com Fernando Luís Sampaio, um dos programadores responsáveis pelo cartaz, o nome Sound Check reflete uma vontade de explorar horizontes musicais. “Este atravessar de territórios, alguns dos quais ainda nem têm nome específico, será a marca de água do festival, que vai estar muito atento aos novos músicos e à exploração de territórios sonoros”, disse à comunicação social esta quinta-feira durante a apresentação do evento.
O cartaz da primeira edição foi pensado por forma a juntar num mesmo teto cultura erudita e popular – facto que está espelhado na lógica de programação, sem sobreposição de concertos e com um misto de artistas e sonoridades.
O primeiro dia do Belém Sound Check arranca com Camané, que leva ao Grande Auditório do CCB Inquietação, concerto de homenagem a José Mário Branco e que terá como convidados especiais Tó Trips e Mário Laginha. No mesmo dia, a cantora de jazz Maria João sobe ao palco do Pequeno Auditório para apresentar Songs for Shakespeare, espetáculo que, partindo das palavras do mais famoso dramaturgo da língua inglesa, constrói “uma nova narrativa que rasga o universo Shakespeariano de uma ponta à outra”.
Para dia 22 estão previstas atuações do conjunto italiano de música clássica Il Giardino Armonico, num concerto ao lado do violoncelista e compositor Giovanni Solima, e também do músico brasileiro Amaro Freitas, que traz a Portugal Y’Y, novo disco a editar a 1 de março do próximo ano, num espetáculo que, diz Fernando Luís Sampaio, deixa patente as “influências da cultura afro-brasileira” bem como a genealogia de referências de Freitas como John Cage, Milton Nascimento e Naná Vasconcelos.
No dia seguinte, terá lugar aquilo que a programação destacou como “um dos momentos altos do festival”. Patti Smith sobe ao palco com o Soundwalk Collective para apresentar Correspondences, espetáculo multimédia e o mais recente capítulo na colaboração entre a cantora norte-americana e o coletivo artístico, que dura há já uma década (e que coincide com a exposição multidisciplinar Evidence, que também será apresentada no CCB). No mesmo dia, Tirzah sobe ao palco para o primeiro concerto de sempre em Lisboa – já esteve em 2019 no Primavera Sound, no Porto –, de apresentação do seu mais recente álbum, trip9love, que continua a exploração sonora da cantora britânica pelos caminhos do grime e da música experimental.
Para o último dia do Belém Sound Check, está agendado apenas um concerto, com a Kremerata Baltica, dirigida pelo violinista Gidon Kremer e composta exclusivamente por jovens músicos bálticos, a interpretar composições de Glass, Raskatov e Piazolla, numa viagem musical pelas quatro estações daquela que é considerada “uma das principais formações orquestrais da Europa”, de acordo com o programador Cesário Costa.
O administrador do CCB, Delfim Sardo, referiu que a proposta do Sound Check reflete a tendência de um panorama musical em evolução, em que construções e conceitos de género estão cada vez mais ultrapassados. “O cruzamento de géneros e experiências, neste momento, é uma realidade incontornável da prática dos músicos. São até os próprios músicos, sejam da música erudita ou da música improvisada, que estão a procurar este tipo de experiências”, disse.
Do mesmo modo, a expectativa é de que o festival possa fazer chegar essa variedade de estilos e artistas a novos públicos que, de outro modo, possam não ter contacto com eles. “Temos plena consciência de que esta é uma proposta arriscada, mas ao fim de 30 anos, acho que o CCB tem a capacidade de lançar esta proposta”, defendeu Cesário Costa. “Não faço ideia qual será o público que sai de um concerto do Giardino Armonico e se cruza com outro que vai assistir ao concerto do Amaro Freitas. Mas é importante que as pessoas sintam que o CCB é um espaço para todos os públicos”, sustentou.
O festival representa um encargo financeiro significativo: 500 mil euros, sem contar com outros custos, como a promoção – facto que motivou o adiamento do evento, que chegou a ser anunciado em março de 2020, semanas antes do início da pandemia. “Tomámos a decisão de só avançar com o projeto quando encontrássemos parceiros que quisessem partilhá-lo connosco”, disse Delfim Sardo, salientando a importância das contribuições de instituições como a Égide, a EGEAC e o Instituto Italiano da Cultura, que apoiam esta primeira edição do Sound Check.
Os bilhetes para os vários concertos oscilam entre os 7,5 e os 126 euros. A venda de ingressos será faseada, começando já esta sexta-feira para titulares do Cartão CCB; a venda ao público geral começa no domingo, com um desconto para espectadores que adquiram bilhetes para três concertos diferentes.