Mais de 100 médicos russos assinaram uma carta aberta publicada este sábado que exige a libertação imediata de uma artista condenada a sete anos de prisão por um protesto contra a guerra na Ucrânia.
A carta pedindo a libertação de Sasha Skochilenko foi dirigida ao Presidente russo Vladimir Putin e advertiu que o tempo na prisão poderia levar a uma “deterioração significativa” na saúde da artista de 33 anos. Skochilenko foi “diagnosticada com uma série de doenças crónicas graves que exigem a supervisão médica adequada e uma dieta especial”, afirma a carta.
A mesma carta dá conta da indignação dos médicos com a “óbvia injustiça do veredicto”.
Um tribunal russo condenou a artista na quinta-feira por trocar etiquetas de preços de supermercados com mensagens antiguerra, sentenciando-a a sete anos de prisão, num contexto de crescente repressão à liberdade de expressão.
Skochilenko foi detida na sua terra natal, São Petersburgo, em abril de 2022, e acusada de espalhar informações falsas sobre os militares, depois de substituir pequenas etiquetas de preços por outras que denunciavam a invasão da Ucrânia pela Rússia.
“O exército russo bombardeou uma escola de artes em Mariupol. Cerca de 400 pessoas estavam escondidas do bombardeamento”, podia ler-se numa dessas mensagens. Outra dizia: “Recrutas russos estão a ser enviados para a Ucrânia. As vidas dos nossos filhos são o preço desta guerra”. Um cliente do supermercado que encontrou as mensagens denunciou-as às autoridades, o que deu início ao processo judicial.
A detenção de Skochilenko ocorreu cerca de um mês depois de as autoridades terem adotado uma lei que criminaliza qualquer expressão pública sobre a guerra que se desvie da linha oficial do Kremlin.
A legislação tem sido utilizada para uma estratégia de repressão generalizada contra políticos da oposição, ativistas dos direitos humanos e cidadãos comuns que criticam o Kremlin.
Skochilenko, de 33 anos, não negou a substituição das etiquetas de preços, mas rejeitou a acusação de espalhar informações deliberadamente falsas.
A sua advogada, Yana Nepovinnova, alerta que a artista não pretendia menosprezar os militares, mas sim parar os combates.
O portal de notícias independente russo Mediazona noticiou que Skochilenko, na sua declaração final no tribunal, hoje, disse que o caso contra si era “estranho e ridículo”.
“Todos veem e sabem que não é um terrorista que vocês estão a julgar. Não estão a julgar um extremista. Também não estão a julgar um ativista político. Estão a julgar um pacifista”, disse Skochilenko, dirigindo-se ao juiz, numa sala de tribunal repleta de apoiantes.
Skochilenko está detida preventivamente há quase 19 meses, sofrendo de problemas de saúde que exigem tratamento regular.
Enquanto esteve detida em São Petersburgo, conseguiu ser acompanhada por médicos, mas os seus familiares temem que a artista fique sem apoio de saúde se for enviada para uma prisão em local remoto.
O grupo de direitos humanos mais proeminente da Rússia – e vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2022 – Memorial, declarou Skochilenko uma prisioneira política.
Quase 750 pessoas enfrentam acusações criminais na Rússia pelas suas posições antiguerra e mais de 8.100 foram acusadas de desacreditar o exército, puníveis com multa ou uma leve pena de prisão.