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Entre bebidas, danças e confidências, a relação especial da rainha mãe com o seu mordomo

Este artigo tem mais de 1 ano

William Tallon ficou conhecido como "Backstairs Billy" e serviu a rainha mãe durante mais de 50 anos. A relação ficou famosa e agora é tema de uma peça de teatro em Londres.

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A rainha mãe a celebrar o seu 89º aniversário à porta de Clarence House com o seu mordomo ao lado

Getty Images

A rainha mãe a celebrar o seu 89º aniversário à porta de Clarence House com o seu mordomo ao lado

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A rainha mãe tinha um funcionário preferido no seu staff e não é segredo para ninguém. William Tallon foi seu mordomo durante 51 anos. Um fã assumido da realeza desde sempre, conseguiu o seu emprego de sonho entre a família real logo aos 15 anos e teve na rainha (mãe) Isabel mais do que uma patroa, uma companheira a quem preparava as bebidas, com quem dançava, gostava de fazer rir e de quem se tornou confidente.

A relação deu uma peça de teatro que acaba de chegar a um palco londrino. Esta semana estreou-se também a primeira parte de uma nova temporada de The Crown e a morte desta figura da família real está incluída no intervalo temporal que a sexta e última temporada aborda. Aproveitamos a boleia de ambas para recordar a relação de duas personagens que fica na história da família real.

Quem foi William Tallon, o “Backstairs Billy”

William Tallon nasceu em County Durham, no norte de Inglaterra. Era fascinado pela família real e desde muito jovem quis trabalhar para a instituição. Escreveu para os serviços da casa real vezes sem conta até, finalmente, o aceitarem como assistente junior quando tinha 15 anos. Trabalhou no Palácio de Buckingham e esteve para acompanhar a rainha na tour da Commonwealth que aconteceu entre 1953 e 1954, mas teve de fazer serviço militar na RAF (Royal Air force). Depois, em 1954, foi transferido para Clarence House, onde vivia a rainha mãe.

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Em 1974 Tallon sucedeu a um colega e assumiu o cargo de “steward and page of the backstairs”, mordomo e pajem numa posição de topo entre o pessoal da casa real. É daqui que vem o nome pelo qual ficou conhecido, “Backstairs Billy”, e que deu título à sua biografia em livro e também a um documentário na televisão britânica. Este cargo significava que estava sempre próximo da rainha mãe. Os dois adoravam-se e as tarefas de Tallon iam de servir o gin à rainha mãe até ser seu parceiro de dança e mesmo mais além, organizando os famosos almoços da sua chefe e gozando com as pessoas para a fazer rir, detalhes que revelam uma relação com alguma intimidade. Tallon acabava por também ver os outros membros da família real em visita à rainha mãe em modo íntimo e relaxado.

A rainha mãe protegia o seu mordomo incondicionalmente e ter-lhe-á dado Gate Lodge, uma casa perto da sua, para ele viver que estaria decorada com mobílias e decorações da própria patroa. Ele via como uma das suas tarefas “mantê-la a sorrir”, tomava conta dos adorados corgis e terá sido dele a ideia de que a rainha mãe fosse aos portões da sua residência acenar ao público no dia do  seu aniversário. Uma tradição que se manteve desde 1970.

Tallon teve um companheiro de vida durante 30 anos que, tal como ele, servia a família real. Reginald Wilcock foi valet do duque de Windsor em Paris, entre 1957 e 1959, depois em 1960 passou a fazer parte dos funcionários da rainha mãe em Clarence House, conta a Tatler. Contudo reza a lenda que levava homens mais novos para Clarence House pela porta das traseiras, acrescenta o Daily Mail.

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A rainha mãe a acenar ao público nas celebrações do seu 99º aniversário com William Tallon por perto, à direita da imagem

William Tallon teve muitas ofertas bem lucrativas para contar os segredos que sabia, mas escolheu guardá-los para si. Contudo, Tom Quinn achou que a sua história deveria ser contada e em 2015 publicou o livro Backstairs Billy — The life of William Tallon. The Queen Mother’s most devoted servent. O protagonista é descrito como “charmoso, leal, promíscuo e possuidor de um verdadeiro senso de humor malicioso”.

A rainha Isabel ficou viúva do Rei Jorge VI quando tinha 51 anos. Com o novo reinado de Isabel II passou a ser rainha mãe e viria a morrer aos 101 anos em 2002. Conta o Daily Mail que a família real terá ficado furiosa com Tallon por este ter sido fotografado a empurrar a princesa Margarida numa cadeira de rodas. Foi no dia do 101.º aniversário da rainha mãe e esta estava a acenar ao público, enquanto a princesa estava já muito debilitada, com um braço ao peito e óculos escuros. O mordomo foi depois afastado da sua adorada patroa e ficou até a saber da morte quando um jornalista lhe ligou a pedir uma reação à morte da rainha mãe. Tallon foi mandado embora da casa real e perdeu direito ao local onde vivia. Acabaria por morrer no seu apartamento no sudeste de Londres em 2007 com insuficiência do fígado.

Duas estrelas e dois corgis para uma comédia em palco

A história da relação entre a rainha mãe e o seu mordomo volta a ser contada, desta vez em palco com a peça Backstairs Billy, que se estreou no Duke of York Theatre, no West End (Londres), a 7 de novembro e vai estar em palco até ao fim de janeiro de 2024. A peça foca-se no ano de 1979, ano em que Margaret Thatcher chegava ao poder e o país estava mergulhado em descontentamento e greves. “Entramos na história quando o Billy está no auge do seu brilhantismo, malandrice e charme”, disse Luke Evans à revista Tatler, “de ser o leal criado e a pessoa que a rainha mãe respeitava e adorava”.

Luke Evans dá vida a William (Billy) Tallon e regressa ao West End depois de 15 anos pelos filmes. Nos últimos anos temos visto o ator galês que nos últimos anos temos visto pelos ecrãs de cinema em papéis musculados como o Gaston de “A Bela e o Monstro” e o Owen Shaw de “Velocidade Furiosa”. Penelope Wilton, já habituada à postura aristocrática pela sua participação com Mrs. Crawley em Downton Abbey, será a rainha mãe em palco e terá aceitado o papel imediatamente depois de ler o guião.

Mas estes dois atores não são as únicas estrelas, o elenco da peça conta com 14 membros, entre eles dois corgis. A peça foi escrita por Marcelo Dos Santos e pensada ao pormenor, desde a inspiração em fotografias do interior de Clarence House na década de 1970 até às medidas do colar com três fios de pérolas que a rainha mãe usava.

O encenador da peça é Michael Grandage, uma figura bem conhecida e respeitada no meio, graças à sua carreira de três décadas, e é alguém que de facto conheceu Billy Tallon. Estiveram juntos uma vez em 1997, apresentados por uma amiga em comum numa festa no Palácio de St. James e Grandage testemunhou a dinâmica entre a rainha mãe e o seu funcionário/amigo.

O encenador conta que a ideia do espetáculo surgiu porque diz haver “um verdadeiro apetite” por temas da realeza por causa de The Crown e também de The Audience, uma peça de 2013 focada nas audiências semanais da Rainha Isabel II com os seus primeiros-ministros e protagonizada por Helen Mirren e escrita por Peter Morgan, o autor de The Crown. “Vi um documentário sobre Backstairs Billy… e lembrei-me daquela festa e pensei ‘Pergunto-me se haverá aqui uma história?’ Há certamente uma história sobre a natureza da lealdade durante mais de um século”, contou à Tatler. Desde que a peça foi anunciada, o encenador, Michael Grandage, disse ter recebido uma série de cartas de pessoas entusiasmadas com a peça, algumas vindas de pessoas que trabalharam com ele.

Evans é um embaixador da fundação do Rei, a Prince’s Trust, Wilson é uma dama, uma distinção da casa real, e Grandage é Commander of the British Empire (CBE), por isso esta comédia está entregue em boas mãos e orgulhosos cidadãos da monarquia.

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