A equipa da calculadora tornou-se a equipa que só precisa de saber fazer contas de somar. Pouco mais de um ano depois de ter carimbado o apuramento para o Mundial do Qatar num playoff de nervos em que teve de eliminar Turquia e Macedónia do Norte, Portugal disputava a última jornada da qualificação para o Euro 2024 já apurado e à procura do pleno de vitórias. 

Com nove triunfos consecutivos e o primeiro lugar do Grupo J garantido, o que significa que vai ficar no Pote 1 do sorteio do próximo dia 2 de dezembro e evitar algumas das principais seleções europeias, a Seleção Nacional recebia a Islândia em Alvalade num autêntico jogo de consagração. Chegar à 10.ª vitória em 10 jornadas da qualificação, para além de ser um feito inédito, era também o carimbo definitivo do início da era Roberto Martínez — e o treinador espanhol tinha noção disso.

Ficha de jogo

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Portugal-Islândia, 2-0

Qualificação para o Campeonato da Europa 2024

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Anastasios Papapetrou (Grécia)

Portugal: Diogo Costa, João Mário (Raphael Guerreiro, 63′), Rúben Dias, Gonçalo Inácio, João Cancelo (João Neves, 87′), João Palhinha, Bruno Fernandes, Otávio (Vitinha, 75′), Bernardo Silva (Ricardo Horta, 63′), João Félix (Bruma, 87′), Cristiano Ronaldo

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, José Sá, Toti Gomes, António Silva, Gonçalo Ramos, Rúben Neves, Diogo Jota

Treinador: Roberto Martínez

Islândia: Valdimarsson, Hermannsson, Ingason, Pálsson, Thóraninsson, Sigurdsson, Jóhannesson (Traustason, 62′), Willumsson (Ellertsson, 62′), Thorsteinsson (Gudjohnsen, 62′), Finnbogason (Óskarsson, 45′), Gudmundsson

Suplentes não utilizados: Rúnarsson, Ólafsson, Sampsted, Baldursson, Finnsson, Thórdarson, Grétarsson, Hlynsson

Treinador: Åge Hareide

Golos: Bruno Fernandes (7′), Ricardo Horta (66′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jóhannesson (28′), a Thorsteinsson (32′), a Willumsson (46′), a João Palhinha (54′), a Gudmundsson (54′), a João Félix (84′)

“O pleno de vitórias é importante, é histórico. Jogar contra o Liechtenstein foi uma oportunidade para ter uma ligação, disciplina tática com muitos jogadores de ataque. É o mais difícil que há. Pode ser que, durante o Europeu, existam situações em 10 ou 15 minutos em que seja preciso fazer isso. Gostei muito da atitude dos jogadores. Amanhã o jogo vai ser diferente. A Islândia é uma equipa muito objetiva, que controla o jogo direto. Será um jogo que exige novas valências no relvado, vamos tomar decisões depois do último treino para termos jogadores frescos”, disse o selecionador nacional na antevisão da partida.

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Assim e depois da vitória em Vaduz na passada quinta-feira, Roberto Martínez recuperava o habitual sistema tático da Seleção e a titularidade de jogadores mais utilizados como Diogo Costa, Rúben Dias, Gonçalo Inácio ou Otávio. João Mário estreava-se a titular, surgindo na direita da defesa, enquanto que Cristiano Ronaldo, João Félix, Bernardo e Bruno Fernandes mantinham-se no onze inicial. Do outro lado, numa Islândia que já sabia que não vai ao Campeonato da Europa, destacavam-se o capitão Gunnarsson e o jovem Sigurdsson, que atua no Blackburn Rovers.

Não foi preciso esperar muito para perceber que Portugal queria chegar rápido ao golo, com Ronaldo a cabecear sozinho na área logo nos primeiros instantes (2′) e João Félix a atirar cruzado para Valdimarsson encaixar (3′). Ainda dentro dos 10 minutos iniciais, Otávio acertou na trave na sequência de um grande lance de entendimento entre Félix e Bruno Fernandes (7′) e o golo parecia mesmo uma questão de tempo. Mas a questão de tempo não tinha hora marcada.

A Islândia aproximou-se da baliza de Diogo Costa em duas ocasiões, ambas por intermédio de Sigurdsson e ambas com o jovem avançado a deixar João Mário para trás ao acelerar na esquerda (5′ e 17′), e Portugal ia dominando ao atuar somente no meio-campo ofensivo. Os desenhos da Seleção Nacional aconteciam essencialmente à boleia de Bruno Fernandes, que tinha uma enorme liberdade de movimentos e tanto aparecia à direita como à esquerda a criar desequilíbrios. As oportunidades sucediam-se, com Ronaldo a cabecear para as mãos do guarda-redes (21′), Félix a acertar na malha lateral (21′) e Gonçalo Inácio a atirar de cabeça mas a falhar também o alvo (25′).

O jogo arrefeceu a partir da meia-hora, com a equipa de Roberto Martínez a tirar ligeiramente o pé do acelerador e a ter mais dificuldade para superar a muralha da Islândia e chegar ao último terço, mas foi precisamente nessa fase que Portugal conseguiu chegar ao golo. Bernardo fez a diferença na direita e deixou de calcanhar em Bruno Fernandes, com o médio do Manchester United a atirar forte e cruzado para chegar ao sexto golo nesta fase de qualificação (37′).

Portugal ainda podia ter aumentado a vantagem até ao intervalo, com Rúben Dias a obrigar Valdimarsson a mais uma defesa apertada (45′), mas foi mesmo para o balneário a vencer a Islândia pela margem mínima em Alvalade. E a escassos 45 minutos de fazer histórias ao alcançar o pleno de vitórias da fase de qualificação para o Campeonato da Europa.

Roberto Martínez não mexeu ao intervalo, enquanto que Åge Hareide decidiu trocar Finnbogason por Óskarsson logo no início da segunda parte. A Islândia surgia com as linhas mais subidas, sem permitir que Portugal tivesse a mesma omnipresença no meio-campo contrário, mas as melhores oportunidades continuavam a pertencer à equipa da casa e tanto Ronaldo (51′) como Bernardo (59′) ficaram muito perto de aumentar a vantagem.

Roberto Martínez decidiu mexer a partir da hora de jogo, trocando João Mário e Bernardo por Raphael Guerreiro e Ricardo Horta, e o avançado do Sp. Braga não demorou quase nada a marcar o quarto golo pela Seleção Nacional: Félix rematou na esquerda, o guarda-redes soltou a bola e Horta, na segunda recarga depois de Ronaldo permitir outra defesa, fez o segundo golo português (66′).

Vitinha ainda entrou a cerca de um quarto de hora do fim, para o lugar de Otávio, e o jogo arrastou-se por completo até ao apito final e às entradas de João Neves e Bruma já perto dos descontos — onde os islandeses ainda acertaram no poste da baliza de Diogo Costa (90+3′). Portugal venceu a Islândia em Alvalade, somou a 10.ª vitória em 10 jornadas no apuramento para o Campeonato da Europa e encerrou com chave de ouro uma qualificação absolutamente histórica em que largou a calculadora e só precisou de fazer contas de somar.