Entrou ao lado de Pedro Nuno Santos na sede nacional do partido no dia da apresentação da candidatura à liderança do partido, numa tentativa de conciliação de alas socialistas: a mais à esquerda e a moderada, de que foi um dos representantes óbvios desde que se opôs à “geringonça” que era o sonho de Pedro Nuno Santos. Agora, Francisco Assis surge a explicar esse apoio, num artigo de opinião no “Público”, mas também a avisar que neste momento “nada poderia ser mais trágico do que a instauração de um muro a separar a esquerda e a direita democráticas.”
No texto, Assis defende que “o PS deve manifestar abertura para um diálogo útil com os partidos situados à sua direita e à sua esquerda com o objetivo de fortalecer as instituições democráticas e de construir as condições políticas necessárias para o sucesso das transformações de que o país necessita”. Aliás, o socialista diz que “um dos grandes erros cometidos aquando do período áureo da ‘geringonça’ foi justamente o da cedência à tentação da demonização da direita”. E diz que “nem por sombras” deve voltar a repetir isso.
A solução que António Costa montou, em 2015, com Pedro Nuno Santos a coordenar as negociações com a esquerda no Parlamento, foi criticada por Assis que agora garante não estar arrependido da posição que assumiu na altura — tendo até sido vaiado num congresso do PS em 2016. Assume que há quem veja como “uma incongruência” este seu apoio a um dos rostos mais visíveis dessa solução de governação e explica as suas razões.
“Neste momento o país precisa de um PS criativo, plural, dotado de um programa político transformador centrado na promoção do desenvolvimento económico, na atualização do Estado Providência, no correto tratamento de temas societais emergentes e na adequada reacção às transformações em curso nos campos da política e da economia internacionais”, escreve o socialista.
E acrescenta que o partido de que faz parte “precisa de um líder capaz de unir o partido e de mobilizar largos segmentos da sociedade em torno de um projeto político arrojado, portador de uma autêntica vontade reformista que, sem abdicar de uma identidade programática clara, se não deixe aprisionar por preconceitos ideológicos extemporâneos”. Diz mesmo estar “convencido de que o Pedro Nuno Santos dispõe das qualidades necessárias para ser o líder de que Portugal e o PS precisam nesta fase da nossa vida nacional. É um político destemido, um social-democrata convicto e um europeísta sem hesitações”, escreve no artigo de opinião.
Também diz que as eleições do PS não procuram “legitimar um herdeiro” e que o PS não deve ficar “prisioneiro de exercícios de melancolia. O passado respeita-se, avalia-se criticamente, mas não se repete”, escreve. Assume ter “salutares divergências” com Pedro Nuno mas diz que o considera “o homem certo para dirigir o partido nos próximos anos”.
Fala ainda aos críticos do candidato e sobre argumento sobre a perda “de autonomia política do PS”, usado pelos adversários de Pedro Nuno nesta campanha numa referência aos acordos à esquerda que o candidato não nega. Sobre esse debate, Assis diz que “estranhamente alguns beneficiários líquidos do entendimento à esquerda vêm agora exprimir reservas em relação à bondade e à viabilidade de uma solução política dessa natureza”. E ironiza: “Nos casos mais extremos indiciam só se terem apercebido presentemente do posicionamento radicalmente anti-UE e anti-NATO do PCP. É curioso que o tenham silenciado quando não era oportuno lembrá-lo”, atira dirigindo-se a nomes como Augusto Santos Silva, apoiante de José Luís Carneiro, que usou este argumento em entrevista à RTP na semana passada.
E aproveita esta questão concreta para dizer que “se há coisa que a experimentação dessa solução governativa demonstrou foi a possibilidade de conciliação entre o respeito pelos nossos compromissos europeus e atlantistas e a celebração de acordos parlamentares com os partidos à esquerda do PS”.