A 10 de janeiro de 1929 nascia uma das bandas desenhadas mais icónicas do século XX. E se o rapaz repórter de cabelo ruivo com uma poupa permanente ganhava milhões de fãs, Milu, o seu cãozinho de pelo branco, companheiro de tantas aventuras do Tintim, tornava-se igualmente numa estrela mundial. Não admira pois que cães fox terrier se tenham tornado num “must have”, de aquisição quase obrigatória, nas décadas que se seguiram. Agora, quase 95 anos depois, a raça tradicional britânica pode ter os dias contados, pois estão a crescer menos de 300 por ano no Reino Unido.
As Aventuras de Tintim, do cartoonista belga Hergé, despertaram o interesse pelos fox terrier no país, e não só, que reivindicaram o primeiro lugar no ranking de popularidade canina em 1947. A raça foi historicamente uma das favoritas da família real britânica na era eduardiana, com o rei Eduardo VII e a rainha Vitória a terem um fox terrier. Mas não só: o reputado cientista Albert Einstein também o escolheu para companhia. Mais tarde foi o favorito da não menos célebre escritora Agatha Christie e do conhecido ator e realizador Clint Eastwood.
Com tantos pergaminhos, nada faria supor que os fox terrier estariam em risco. Mas segundo o porta-voz do Kennel Club, Bill Lambert, citado pelos jornais britânicos Telegraph e Daily Mail existe um “perigo real” de este terrier se perder para sempre.
A lista “At Watch” do Kennel Club acompanha raças que têm entre 300 a 450 nascimentos de cachorros por ano. Aqueles com menos de 300 filhotes registados anualmente vão para a lista de Raças Nativas Vulneráveis da organização. A Wire Fox Terrier (um fox terrier com pelo tipo arame, como o Milu) está perto de se juntar a este grupo. É que, até agora, em 2023, só foram registados 281 nascimentos, 78 menos do que no ano passado.
O número está muito longe do seu auge, em 1947, quando, segundo o mesmo jornal, chegaram a ser registados 8.000 fox terrier por ano. Ou seja a raça teve um declínio de 94% desde então e tem vindo a diminuir 30% nos últimos cinco anos.
A queda no número de nascimentos é o reflexo do fim da popularidade do grande amigo de Tintin: menos pessoas escolhem estes cães para animais de estimação. Bill Lambert explicou ao Daily Mail porquê: “A cultura popular, as celebridades e a influência das redes sociais pode desempenhar um papel importante nas tendências das raças”.
Ora, continua Lambert, se antigamente os fox terrier eram a escolha “da realeza britânica e Milu era uma personagem presente na banda desenhada e na televisão, hoje o público está menos familiarizado com eles já que não os vê regularmente nos media”.
A esta, pode juntar-se outra razão, a mudança de estilos de vida, acrescenta o especialista. “São uma raça pequena mas podem requerer muitos cuidados de escovagem para manterem o seu pelo caraterístico, o que pode não ser conveniente a todos os donos”.
No entanto, apesar da queda alarmante, a raça ainda apresenta um desempenho melhor do que muitas outras. “Havia apenas 27 raças de cães vulneráveis há uma década. Existem agora outras oito raças vulneráveis ou em risco”, afirmou o porta-voz do Kennel Club ao The Telegraph.
Por isso Lambert lança um apelo ao público britânico: que procure “saber mais sobre as raças menos conhecidas, especialmente aquelas que estão em risco de desaparecer”.