A França está “chocada” e Espanha revela a sua “repugnância”. São palavras fortes usadas pelas ministras da Transição Energética e Ecológica dos dois países, Agnès Pannier-Runacher e Teresa Ribera, na sequência da carta que a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) enviou ao seus estados-membros que participam na cimeira COP28 que se realiza no Dubai.
Numa carta datada de quarta-feira, e consultada pela AFP, o secretário-geral da OPEP, Haitham al-Ghais, pediu aos membros da organização que rejeitassem “proativamente qualquer posição contra os combustíveis fósseis”. A carta é dirigida aos 13 membros da OPEP, incluindo o Iraque, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, que tem estado na vanguarda da oposição ao abandono dos combustíveis fósseis. A carta é igualmente endereçada aos 10 países associados, como o México, o Azerbaijão, a Rússia e a Malásia, que estarão presentes no Dubai.
A 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, mais conhecida por COP28, está a decorrer desde 30 de novembro no Dubai, e termina na terça-feira, dia 12. Esta cimeira é presidida pelo presidente da petrolífera estatal do Abu Dhabi, um dos emirados que produz petróleo, Sultan Al Jaber.
A ministra da Transição Ecológica de Espanha, país que exerce a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, foi a primeira a reagir. “Penso que é bastante repugnante que os países da OPEP se oponham a colocar a fasquia onde ela deve estar” em matéria de clima, afirmou Teresa Ribera, no Dubai. Ribera acrescentou que a UE se vai alinhar com outros parceiros para garantir “um resultado significativo e produtivo sobre a saída dos combustíveis fósseis.
“Estou chocada com estas declarações da OPEP”, reagiu a ministra da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacher, citada pela agência francesa AFP. Pannier-Runacher referiu que os combustíveis fósseis são responsáveis por mais de 75% das emissões de dióxido de carbono (CO2), defendendo que devem ser abandonados para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
“A posição da OPEP põe em causa os países mais vulneráveis e as populações mais pobres, que são as primeiras vítimas desta situação”, afirmou, a partir do Dubai, onde decorre a COP28, sob presidência dos Emirados Árabes Unidos. A ministra francesa disse contar com a presidência da COP “para não se deixar impressionar” e apresentar um acordo que “afirme um objetivo claro de abandono dos combustíveis fósseis”.
A COP28 está a entrar na reta final, com os ministros a tentarem ultrapassar o impasse nas negociações. No centro destas negociações está a questão dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), a principal causa do aquecimento global. O ministro do Ambiente do Canadá, que desempenha um papel fundamental nas discussões, disse hoje que estava “bastante confiante” de que os combustíveis fósseis seriam mencionados no texto final, em entrevista à AFP.
Acordo para abandono dos combustíveis fósseis em jogo
As posições estão a endurecer à medida que a COP28 entra na sua reta final, com o regresso dos ministros dos países participantes para levar as negociações a uma conclusão bem-sucedida até terça-feira.
Os países emergentes e em desenvolvimento exigem compensações dos países ricos para assinarem o abandono dos combustíveis fósseis. Os termos “equidade” e “justo” são as palavras mais ouvidas entre estes países. Nos bastidores, os ministros estão a negociar para encontrar uma fórmula capaz de combinar um sinal forte a favor da saída dos combustíveis fósseis e o reconhecimento de que os países em desenvolvimento não devem sacrificar o seu desenvolvimento económico.
“Nada põe mais em perigo a prosperidade e o futuro dos habitantes da Terra, incluindo os cidadãos dos países da OPEP, do que os combustíveis fósseis”, disse Tina Stege, enviada para o clima das Ilhas Marshall, que se localizam no Pacífico e estão ameaçadas pela subida das águas do mar. Entretanto, “nenhum país quer ser a nação designada como causadora de problemas”, acrescentou um membro da equipa da presidência da COP28, que vê especialmente as manobras sauditas como uma técnica típica para efeitos de negociação.
A OPEP tem um pavilhão próprio na COP28. Sete manifestantes realizaram um breve protesto hoje de manhã, de acordo com um vídeo da organização não-governamental 350.org.
“A reação da OPEP mostra que tem medo dos crescentes apelos à saída dos combustíveis fósseis e à transição energética. Existe agora uma possibilidade real que a COP28 envie um sinal sobre o início do fim dos [combustíveis] fósseis”, afirmou Helena Spiritus do Fundo para a Proteção da Natureza (WWF, na sigla em inglês).
Um negociador de um país a favor da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis disse que o grupo árabe na ONU é o único com uma oposição total.
O ministro do Meio Ambiente canadiano, Steven Guilbeault, que desempenha um papel fundamental nas discussões, mostrou relativo otimismo, dizendo à agência de notícias AFP que estava “bastante confiante” em ter uma menção aos combustíveis fósseis no texto final. Os negociadores veteranos nas cimeiras climáticas da ONU disseram hoje que o esforço para afastar o mundo dos combustíveis fósseis ganhou tanto impulso que atingiu um inimigo poderoso, a indústria petrolífera.