A entrada do filme português “Mal Viver” na ‘shortlist‘ de candidatos para a nomeação aos Óscares “seria fantástico”, disse à agência Lusa o realizador João Canijo, em Los Angeles, onde se encontra em plena campanha de promoção do filme.
“Chegar à ‘shortlist‘ seria ótimo. Era garantia de que haveria uma distribuição nos Estados Unidos”, afirmou o cineasta português, que já esteve em Washington no início de dezembro numa mostra onde o filme foi exibido.
Submissão oficial de Portugal aos Óscares 2024, na categoria de Melhor Filme Internacional, “Mal Viver” está agora a ser promovido em exibições privadas junto de membros da Academia em Los Angeles. A ‘shortlist‘ dos 15 filmes internacionais selecionados será anunciada no próximo dia 21 de dezembro.
“Mal Viver” de João Canijo é candidato português a uma nomeação para os Óscares
“A minha expectativa é fatalista. Será o que for. Mas claro que seria muito bom”, disse João Canijo, considerando que há um “espaço interessante” para o filme junto do público norte-americano.
“Há um nicho de mercado nos Estados Unidos que serve para o meu filme. Não é o generalista, com certeza, mas há um nicho de mercado que funciona”.
Protagonizado por Anabela Moreira, Madalena Almeida, Rita Blanco e Cleia Almeida, “Mal Viver” – “Bad Living” no circuito internacional – venceu o Urso de Prata de Melhor Realização no Festival de Berlim. Foi um prémio que João Canijo considerou muito importante, já que é pelo reconhecimento internacional que o cinema português pode contornar as lacunas da sua indústria.
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“Pode contornar com um Urso em Berlim, uma Palma em Cannes ou um Leão em Veneza”, disse. “Por isso é que os festivais europeus são tão importantes, porque fazem com que o filme circule pelo mundo inteiro”.
“Mal Viver” tem já garantida distribuição comercial em França, Brasil e México, com Espanha a seguir. Se chegar à ‘shortlist‘ dos Óscares, terá espaço nos Estados Unidos, ampliando de forma significativa um alcance que não consegue ter só com o mercado doméstico.
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“Nós não temos mercado. O país é muito pequenino e não tem o poder de compra, nem o nível de vida de países do mesmo tamanho em termos de população, como a Bélgica e Holanda”, frisou o cineasta.
Isso reflete-se na pouca elasticidade dos investimentos. “Não há orçamentos em Portugal que permitam fazer um filme como os países nórdicos ou os espanhóis”, frisou, “que permitam fazer um filme com características técnicas e de produção que permita sonhar com os Óscares”.
Em 2023, a dupla João Gonzalez e Bruno Caetano fez história quando a ‘curta’ de animação “Ice Merchants” foi nomeada para um Óscar. É uma categoria “mais equilibrada”, disse Canijo, algo que não acontece na ficção.
“As nossas produções são muito baratas, os filmes são muito artesanais, são feitos com muito esforço e não têm os meios que têm por exemplo os filmes espanhóis”.
Mas as limitações não significam menor qualidade. “Os novos são bastante melhores que os velhos. Há melhores profissionais e os filmes são melhores”, considerou João Canijo. “Eu nesse aspeto estou bastante otimista que ‘a coisa’ tem vindo a melhorar constantemente”.
Satisfeito com a receção de “Mal Viver”, o cineasta refletiu na forma como a crueza do filme tem tocado as audiências.
“Talvez porque o filme é muito real. Tanto na história como nas atuações das atrizes”, afirmou. “E talvez essa realidade possa ser comovente ou perturbante”.
“Mal Viver” é a história de uma família de várias mulheres de diferentes gerações, “que arrastam uma vida dilacerada pelo ressentimento e rancor”, abalada pela chegada inesperada de uma neta, como se lê na sua sinopse.
A ‘shortlist‘ de candidatos à nomeação de Melhor Filme Internacional será divulgada a 21 de dezembro, com as nomeações finais marcadas para 23 de janeiro. A 96.ª edição dos prémios da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas decorrerá a 10 de março de 2024.