O militante do PS Augusto Santos Silva advertiu esta quinta-feira que existe o “risco enorme” de a próxima solução governativa depender da extrema-direita e considerou que José Luís Carneiro é o candidato socialista que melhor se adequa às atuais circunstâncias.
Num discurso no lançamento do livro “Ganhar o futuro”, que reúne crónicas e intervenções públicas de José Luís Carneiro, em Lisboa, Augusto Santos Silva referiu que se vive atualmente uma “circunstância muitíssimo difícil, até na sua estranheza”.
O também presidente da Assembleia da República referiu que a origem da atual crise não “é política”, e que o Governo se demitiu “não porque tenha perdido a confiança do parlamento, a solidariedade institucional do Presidente ou o apoio da população ou do partido que lhe serve de base”.
“Mas sim porque o parlamento foi dissolvido, porque o senhor Presidente da República entendeu que, demitindo-se o primeiro-ministro, a maioria parlamentar, coesa e sólida no parlamento, não tinha o direito de propor primeiro-ministro alternativo”, disse.
Para Santos Silva, esta crise “surgiu inopinadamente” e o “conjunto das pessoas comuns”, incluindo militantes e eleitores do PS, “está, em primeiro lugar, muito surpreendido e perplexo, em segundo lugar assustado e, em terceiro lugar, uns um pouco desapontados, outros mesmo zangados”.
“E, portanto, nós corremos o risco de passar da estabilidade política, da tranquilidade política que o país vivia, para exatamente o inverso: para uma situação de intranquilidade, instabilidade, em que as pessoas possam perder muita da confiança que têm em nós”, advertiu.
Santos Silva sustentou assim que, neste contexto, é necessário “mostrar credibilidade, ponderação, olhar para todos os lados, considerar ao mesmo tempo todas as variáveis” e “mostrar humanidade”.
“E isso, eu creio, são justamente as qualidades políticas de José Luís Carneiro e essas são mesmo as qualidades políticas essenciais”, defendeu, salientando que é o candidato do PS que melhor se adequa às atuais circunstâncias.
Santos Silva advertiu que, no atual cenário, “há um risco enorme, grande – é melhor não escondê-lo nem desvalorizá-lo – que é o risco de o país poder acordar no dia 11 de março com uma situação política em que a solução do Governo que lhe seja apresentada é uma solução dependente da extrema-direita”.
“Aquela extrema-direita que acha que o sangue dos portugueses não pode ser contaminado com o sangue dos cabo-verdianos, que acha que os estrangeiros estão aqui para nos roubar a Segurança Social, que os portugueses podem ser divididos em bons e em maus”, disse.
Para Santos Silva, “a única garantia que há para que o país não fique dependente da chantagem dessa força, é votar no PS”.
Neste discurso, Augusto Santos Silva abordou também o período de convergência à esquerda entre PS, PCP, BE e PEV, entre 2015 e 2021, para explicar como é que “pessoas que até foram ministros da ‘geringonça'”, como foi o seu caso, podem “exprimir dúvidas” quanto a essa solução governativa.
Na ótica de Santos Silva, a convergência à esquerda não deve ser apenas abordada no período da ‘geringonça’, entre 2015 e 2019, mas também após as legislativas de 2019, em que, disse, o PS quis repetir essa convergência, mas “os parceiros não” e “até derrubaram o Governo”.
“E por isso é que, para nós, é tão importante defender a autonomia política do PS: não é para o PS ser arrogante e querer fazer as coisas sozinho, não é para o PS desprezar os outros, (…) é para o PS ter as condições políticas para não ficar dependente daqueles que, de vez em quando, tiram o tapete”, disse.
O atual presidente da Assembleia da República acrescentou que os portugueses sabem que, “com o PS, podem contar, porque com o PS há Governo”, salientando que, ao longo da história democrática, o partido encontrou soluções governativas com PSD, CDS, PCP, BE e PEV sem perder a sua autonomia nem “a liderança do processo político”.