O livro “Histórias de Fantasmas do Japão” reúne dez histórias recolhidas por Patrick Lafcádio Hearn (1850-1904), com ilustrações de Benjamin Lacombe, e revela o fantástico que “impregna profundamente a vida japonesa”, escreve o organizador da antologia.
“O fantástico impregna profundamente a vida japonesa, o sobrenatural de onde emana não é mais do que uma das surpresas que a natureza reserva ao homem”, escreve, no prefácio, Patrick Lafcádio Hearn, nascido grego, na ilha de Lefkas, mas naturalizado japonês na década de 1890, quando se estabeleceu no país, tendo adotado o nome de Koizumi Yakumo. A naturalização de Lafcádio Hearn demonstra a sua admiração pela cultura e pelos costumes nipónicos. O seu segundo casamento foi com uma japonesa, filha de um samurai.
Tendo partido para o império do sol nascente como jornalista correspondente de um jornal norte-americano, cedo se interessou pela cultura do país, tendo recolhido e fixado no papel as histórias de fantasmas do folclore japonês, dez delas publicadas neste livro, com tradução, a partir do francês, de João Cardoso, com a chancela da Editorial Presença.
Patrick Lafcádio Hearn já tinha mostrado interesse pelas tradições dos territórios onde trabalhou. Um ano antes de zarpar para o Japão, fora correspondente da revista norte-americana Harper’s Monthly, na ilha de Martinica, e transcreveu os contos da tradição oral crioula da ilha caribenha.
No prefácio de “Histórias de Fantasmas do Japão”, Lafcádio Hearn atesta que “o fantástico esteve sempre presente” no Japão. “O fantástico está demasiado associado aos japoneses para que possam incomodar-se com o misterioso e insidioso cerimonial destinado a intimidar os ocidentais e a condicionar as imaginações demasiado cartesianas”.
Marcando a diferença entre o pensamento ocidental e o do Extremo-Oriente, Lafcádio Hearn refere como é vista a morte. “A própria morte despojou-se dos sinistros e assustadores atavios que a caracterizam no Ocidente e tornou-se numa intermediária por todos nós aceite com a faculdade de entreabrir, de bom grado, as portas do além, tanto de um lado como no outro”.
Além das dez histórias selecionadas, entre as quais “O Sonho de um Dia de Verão” e “O Fantasma sem Rosto”, o livro inclui notas explicativas para um melhor entendimento conceptual.
Um dos exemplos é a explicação de que “ikiryõ” significa: “literalmente, ‘espírito vivo’ ou seja, o fantasma de uma pessoa ainda viva”, que “pode separar-se do corpo sob a influência do ódio; [algo que] assombra e atormenta a pessoa odiada”.
A obra inclui ainda jogos com “Yõkai”, uma tradição que remonta ao final do período Edo (1603–1868), e as biografias de Lafcádio Hearn e do ilustrador Benjamin Lacombe, nascido em Paris em 1982.
Lacombe matriculou-se na Escola Nacional Superior das Artes Decorativas de Paris, em 2001. Paralelamente aos estudos, trabalhou em publicidade e animação. Estreou-se no meio editorial aos 19 anos, quando assinou a sua primeira obra de banda desenhada e ilustrou diversos livros. O seu projeto de final de curso, “Cerise Griotte”, que escreveu e ilustrou inteiramente, é o seu primeiro livro para jovens, publicado pelas Éditions du Seuil, em março de 2006, sendo editado no ano seguinte nos Estados Unidos.
Benjamin Lacombe já escreveu e ilustrou cerca de vinte livros, como “Les Amants Papillons”, “Généalogie d’une Sorcière” e “Les Contes Macabres”. O artista expõe, regulamernte, os seus trabalhos, em Paris, Nova Iorque, Roma, Los Angeles e Tóquio, entre outras cidades.
A lista dos dez contos selecionados para esta edição portuguesa inclui ainda “O Menino que Desenhava Gatos”, “O Devorador de Sonhos”, “A Loja de Porcelanas Assombrada pelo Ódio”, “Na Montanha dos Crânios Humanos”, “Yuji-Onna, a Mulher da Neve”, “O Fantasma Decapitado”, “A Mensagem da Mosca” e “A Lenda da Aldeia dos Tocadores de Koto”, que se refere a um instrumento musical composto de uma caixa de ressonância com diversas cordas dedilhadas.