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Gyökeres, tão natural como a sede de liderança deles (a crónica do Sporting-FC Porto)

Este artigo tem mais de 6 meses

Expulsão de Pepe acelerou o inevitável: Sporting ganhou porque jogou, quis e ambicionou mais do que o FC Porto. E ganhou porque Gyökeres materializa vontade de aspirantes como Quaresma ou Geny (2-0).

Viktor Gyökeres marcou o 1-0, viu um golo anulado, fez a assistência para o 2-0 e foi o MVP do clássico em que o Sporting bateu o FC Porto em Alvalade
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Viktor Gyökeres marcou o 1-0, viu um golo anulado, fez a assistência para o 2-0 e foi o MVP do clássico em que o Sporting bateu o FC Porto em Alvalade

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Viktor Gyökeres marcou o 1-0, viu um golo anulado, fez a assistência para o 2-0 e foi o MVP do clássico em que o Sporting bateu o FC Porto em Alvalade

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Uma questão de afirmação, um teste ao verdadeiro estofo, ponto de honra na história recente de confrontos. Sporting e FC Porto tinham em Alvalade o último clássico da temporada, que ainda para mais valia liderança isolada do Campeonato no Natal em caso de vitória, mas eram mais os temas paralelos em causa do que um qualquer epílogo de caráter decisivo tendo em contas as distâncias entre os primeiros classificados. Os leões não queriam chegar ao primeiro lugar? Queriam. Mas tão ou mais importante do que isso, queriam terminar a atual série sem triunfos nos jogos grandes e a perder diante dos azuis e brancos (cinco, que eram um dado histórico). Os dragões não queriam chegar ao primeiro lugar? Queriam. Mas tão ou mais importante do que isso, queriam deixar uma demonstração de força que afastasse os desaires contra o Benfica esta época e a precoce eliminação na Taça da Liga com uma derrota frente ao Estoril. E era por isso que jogavam, sendo que o FC Porto ficou apenas por uma teoria mal pensada e o Sporting chegou à melhor das práticas.

Sporting vence FC Porto com golos de Gyökeres e Pedro Gonçalves e sobe à liderança isolada da Liga

“Jogámos vários clássicos durante a época, estamos empatados em pontos e tivemos uma derrota com o V. Guimarães difícil de digerir. Mas já tivemos um jogo na Europa [com o Sturm Graz], trabalhámos em cima do que temos de melhorar e estamos preparados. São duas equipas com um futebol completamente diferente e onde o FC Porto, pelo historial, tem sido mais forte no jogo deles do que nós. Mas não vamos mudar a nossa forma de jogar e tentar ser mais fortes, a diferença está nos detalhes e eles têm sido melhores do que nós. Queremos mudar isso. Jogo mais importante depois dos jogos grandes sem vitórias? Nada, iria ser a mesma coisa. Olho para os jogos em si e acho que tivemos mais oportunidades nesses jogos. Estamos a pecar nos detalhes. Todos esses jogos tiveram histórias diferentes”, comentara Rúben Amorim, que voltou a destacar no lançamento do jogo aquilo que referira antes: a equipa está melhor preparada para os desafios.

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“Estamos mais perto de ganhar estes jogos do que quando os ganhávamos. Se o jogo do Benfica tivesse acabado aos 93 minutos, não estaríamos a falar de uma equipa que não tem estofo de campeão. Da mesma maneira que nos dois primeiros anos não perdíamos um jogo destes, olhava para a equipa e sentia que não era tão forte. Defendíamos bem e éramos competentes na transição mas agora sinto a equipa mais preparada. Lá está, o estofo competitivo. Antes de sermos campeões, o Sporting não fez um ponto contra os grandes e depois fizemos com uma equipa de miúdos. Acho que éramos muito piores do que somos agora”, voltou a frisar o técnico, olhando para os resultados desses duelos como algo conjuntural e não estrutural.

“Independentemente do momento das equipas e da pontuação, são sempre jogos grandes. É um clássico do futebol português. Temos de olhar para o Sporting, para a nossa equipa e perceber depois o que temos de fazer. Sabemos que é um jogo praticamente de Champions, um jogo que vai exigir estarmos ao mais alto nível em todos os momentos na questão da mentalidade. É um jogo importante para nós porque é um rival direto. Costumo dizer que vale seis pontos, três que ganhamos e três que não deixamos ganhar mas também tenho consciência que não é à 14.ª jornada que se decidem campeonatos. Eles reforçaram-se bem no mercado, têm alguns pontos fortes e faz parte da nossa estratégia decifrá-los para não sofrermos com isso, olhando também para o que o Sporting não faz tão bem, porque não há equipas perfeitas”, frisara também o homólogo Sérgio Conceição, colocando o enfoque mais nas nuances dos leões do que no histórico favorável.

“É um Sporting diferente, muitíssimo equilibrado em todos os aspetos e em todos os momentos, forte e que compete sempre a alto nível. Estamos à espera de um Sporting competente, muito competitivo, com uma ou outra variante no seu jogo, mas isso faz parte da estratégia. Têm uma panóplia de caraterísticas fáceis de perceber e difíceis de travar. Foi o que já disse e continua igual. É importante preocuparmo-nos com o nosso processo defensivo mas somos o FC Porto, queremos ir a Alvalade e ganhar o jogo”, salientou, numa ideia que já tinha transmitido antes de encontros frente aos leões de Rúben Amorim nos últimos quatro anos e que não mudaria com ou sem a presença de Pepe na equipa, embora “a mentalidade fosse outra sem ele”.

Foi entre elogios que se construiu o antes, foi entre surpresas e dúvidas que se montou o quase antes, foi em certezas que se escreveu o durante (o depois voltou a ter episódios menos felizes, mais uma vez). Coates não conseguiu recuperar a tempo, Amorim arriscou a titularidade de Eduardo Quaresma para não mexer em tudo o que tinha trabalhado e o central foi um dos melhores, chorando após um lance de autor com assistência para golo que acabou anulado, tal como Geny Catamo, opção inicial à frente de Ricardo Esgaio. Do outro lado, Pepe recuperou em termos físicos mas voltou a ter um gesto irrefletido que condicionou a possibilidade de recuperação do FC Porto em desvantagem. Essa foi uma das linhas separadoras num clássico que acabou por ter pouca história e que foi em grande parte definido novamente por Vicktor Gyökeres. Entre mais de dez quilómetros percorridos e 24 sprints feitos, o sueco marcou, assistiu e foi o principal dínamo de um Sporting melhor a todos os níveis e que chegou à liderança de forma natural como a sede de um grupo que quis “vingar” a forma como perdeu com Benfica e V. Guimarães e mostrar que é um real candidato ao título com aquele que é também o jogador com mais influência de toda a Primeira Liga pela forma como joga.

Ficha de jogo

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Sporting-FC Porto, 2-0

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)

Sporting: Adán; Eduardo Quaresma (Nuno Santos, 61′), Diomande, Gonçalo Inácio; Geny Catamo (Ricardo Esgaio, 75′), Hjulmand, Morita (Daniel Bragança, 84′), Matheus Reis; Marcus Edwards (Paulinho, 75′), Pedro Gonçalves (Francisco Trincão, 84′) e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Francisco Silva, Luís Neto e Dário Essugo

Treinador: Rúben Amorim

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Francisco Conceição, 74′), Pepe, Zé Pedro, Zaidu (Fábio Cardoso, 74′); Alan Varela, Eustáquio (André Franco, 84′); Pepê, Galeno, Taremi e Evanilson (Fran Navarro, 84′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Grujic, Iván Jaime, João Mendes e Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Gyökeres (11′) e Pedro Gonçalves (60′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pepe (15′), Alan Varela (17′), Nuno Santos (25′), Vítor Bruno (adjunto do FC Porto, 36′), Eduardo Quaresma (57′), Taremi (68′), Gonçalo Inácio (70′), Francisco Conceição (81′), Hjulmand (90+6′) e Ricardo Esgaio (90+7′); cartão vermelho direto a Pepe (51′)

Com quatro minutos de atraso, o encontro começou numa toada morna entre duas equipas com mais receio em sofrer do que propriamente em marcar. Remates e oportunidades nenhum, aproximações sem qualquer sinal de perigo uma para cada lado, uma grande preocupação em ter sempre alguém perto do portador da bola entre as formas de circulação diferentes para entrar no meio-campo contrário que Sporting e FC Porto utilizavam dentro do que é habitual nas respetivas estruturas, um especial cuidado com os mais novos na defesa (Zé Pedro e Eduardo Quaresma) para que não caíssem em situações de desvantagem numérica. O que podia fazer a diferença? Os rasgos individuais. E foi a partir daí que surgiu o primeiro golo do encontro, num movimento tantas vezes já visto esta temporada: bola na profundidade descaída sobre a esquerda para velocidade de Viktor Gyökeres, rotação para enfrentar o defensor direto de frente (Pepe), ressalto após corte e remate rasteiro ao primeiro poste a conseguir enganar o movimento natural de Diogo Costa (11′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-FC Porto em vídeo]

O Sporting ganhava a todos os níveis, neste caso também no resultado. Porque na direita da defesa Eduardo Quaresma e Geny Catamo anulavam por completo as investidas de Galeno. Porque no centro, Hjulmand e Morita estavam a ganhar a batalha a Alan Varela e Eustáquio (sendo que bastava Taremi recuar um pouco no terreno para a proporção de forças mudar). Porque a capacidade de sair em velocidade utilizando não só a profundidade como os lançamentos pelos corredores laterais iam colocando em sentido os azuis e brancos. Até na intensidade e na agressividade os leões estavam por cima, o que valia aproximações com perigo sempre com Gyökeres como referência e mais alguns remates que ameaçaram a baliza de Diogo Costa entre um cabeceamento após livre lateral de Diomande (17′) e um remate em arco de Pedro Gonçalves depois de uma recuperação à saída da área dos dragões que passou ao lado (20′). Adán ia sendo só um espectador.

Era neste contexto que os minutos passavam em direção ao intervalo, com momentos de maior tensão e/ou protestos como aconteceu num atraso na reposição de bola de Nuno Santos no banco que lhe valeu amarelo e um lance em que Gyökeres tocou no calcanhar de Pepe em queda numa disputa de bola a meio-campo junto da linha que fez saltar todo o banco portista. Foi preciso esperar até aos 40′ para o FC Porto tentar o primeiro remate, numa tentativa de Evanilson sem ângulo que passou por cima mas que acabou por ser um reflexo das ligeiras melhorias dos dragões a defender que se materializavam na capacidade de ter mais posse no meio-campo contrário. Ainda assim, havia mais por dizer até ao descanso, com os descontos a trazerem dois lances que podiam mudar por completo a abordagem para a segunda parte: Eduardo Quaresma teve uma jogada excecional pela esquerda e assistiu Gyökeres para o bis que foi anulado com muitos protestos à mistura por um toque do central que fez desequilibrar João Mário (45′) e Galeno viu Adán evitar o empate com uma defesa de recurso com a perna após cruzamento largo de Pepê a partir da direita (45+3′).

O final da primeira parte voltou a aumentar a tensão no relvado, com Sérgio Conceição a sair para o túnel de acesso aos balneários visivelmente agastado a bater com a mão no peito. E com um dado curioso para poder ou não ser confirmado no segundo tempo, com o Sporting a ter 34 vitórias e quatro empates nos 38 jogos em que chegou ao intervalo a bater o FC Porto no Campeonato. No entanto, nenhum dos treinadores mexeu na equipa durante o descanso, com correções de posicionamentos e movimentações numa primeira instância para mexer com aquilo que tinha acontecido nos 45 minutos iniciais. Seria uma questão de tempo, neste caso por culpa própria: Pepe reagiu mal a um chega para lá de Matheus Reis, esticou o braço, atingiu o brasileiro que ficou a sangrar e Nuno Almeida, após rever as imagens no VAR (sem que se percebesse ao certo o porquê da hesitação) expulsou o capitão com vermelho direto logo no início da segunda parte (51′).

Sem mexer na estrutura do meio-campo, Sérgio Conceição optou por colocar Zaidu a jogar mais por dentro ao lado de Zé Pedro e Galeno a fechar à esquerda tendo depois de dar a profundidade em ação ofensiva. Para tentar chegar ao empate em inferioridade numérica com bola, era uma solução; no plano defensivo, deixava a equipa demasiado exposta. Foi isso que o Sporting aproveitou da melhor forma pouco depois, com Geny Catamo a ter um grande pormenor individual antes de lançar Gyökeres na profundidade antes da assistência para Pedro Gonçalves encostar sozinho para área para o 2-0 (60′). Podia não ter ficado por aí, com o mesmo Pedro Gonçalves a ter o terceiro golo isolado na área a ser travado por Diogo Costa antes de uma transição rápida que colocou Evanilson a rematar para defesa de Adán na baliza contrária (64′). Rúben Amorim não gostou do lance por estar em superioridade numérica e voltou tudo a um ritmo menos “partido”.

Seria uma questão de minutos. Gyökeres, lançado mais uma vez na profundidade, fez a finta para dentro na área, viu o remate ser ainda prensado para canto mas a jogada foi (mal) anulada por fora de jogo. Pouco depois, Taremi recebeu na área, assistiu Evanilson para o golo mas o lance foi anulado pelo árbitro assistente e confirmado pelo VAR (72′). O FC Porto perdia uma oportunidade de ouro para reduzir, tentando depois mexer a partir do banco com as entradas de Fábio Cardoso e Francisco Conceição sem efeito e vendo o Sporting, quando conseguia sair a partir de trás com bola controlada fiel à sua identidade, criar mais chances para aumentar a vantagem, como aconteceu mais uma vez num remate de Pedro Gonçalves ao lado (82′). A parte física começava também a dar sinais e o jogo encaminhava-se de forma natural para o fim, havendo ainda mais um golo anulado a Paulinho que passou de fora de jogo para uma alegada falta (90+2′).

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