Terá chegado ao fim o grande enigma da construção das pirâmides do Egito? A partir de imagens captadas por satélite, uma equipa de investigadores descobriu um rio que passava por 38 pirâmides do Egito.

Liderado pela geóloga egípcio-norte-americana Eman Ghoneim, o grupo apresentou o resultado do seu trabalho The discovery of the Ahramat Nile Branch: a hidden ancient waterway of the pyramid chain of Egypt  (a descoberta do braço Ahramat do Nilo: um antigo e escondido curso de água da cadeia piramidal do Egipto, em tradução livre para português) recentemente no 13º congresso internacional de egiptólogos que decorreu nos Países Baixos.

Se se confirmar que o rio existia no tempo da construção das pirâmides, esta pode ser uma revolução na história do Mundo Antigo com a resposta que há muito se busca: como foi possível os egípcios transportarem todos os materiais — mais de dois milhões de blocos de pedras, com entre duas a dez toneladas —, para o local onde estes monumentos gigantes nasceram.

A investigação descobriu, a partir da análise de imagens de satélite e de potentes radares capazes de estudar o subsolo, que o Nilo, rio que nasce na Etiópia e no Sudão, tinha vários afluentes que se estendiam desde a região de Fayum, no sul, até o planalto de Gizé, rota que atualmente integra as 38 pirâmides. Este canal, então perfeitamente navegável, teria quase 100 quilómetros de comprimento e um quilómetro de largura (a mesma que o Nilo tem atualmente, refere Eman Ghoneim ao IFL Science site de ciência ), ligando as pirâmides.

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“Sabemos que havia um caminho fluvial, uma ‘autoestrada’ que os antigos egípcios usavam mas ninguém sabe onde está. Qual o tamanho desse braço do Nilo? Onde está exatamente? Quão perto estava da atual localização das pirâmides”, perguntou-se a investigadora.

Para tentar responder, Ghoneim e a sua equipa usaram dados de radares de satélite (cujas ondas são capazes de penetrar o solo) para estudar o vale do Nilo a partir do espaço. E foi assim que tiveram acesso “a um mundo invisível de informação que está debaixo da superfície”, revelando o leito seco do braço Ahramat (que significa pirâmide em árabe) do Nilo.

Os agora extintos canais de água poderão assim ter tido um papel fundamental na edificação das pirâmides. É provável que tenham sido usados para transportar rápida e eficazmente os imensos e grandes blocos de pedra bem como os trabalhadores para edificarem as pirâmides.

“Além disso, os dados de satélite revelaram numerosos afluentes arenosos enterrados, que alimentam este ramo. Durante a época da construção das pirâmides, estes afluentes teriam provavelmente funcionado como uma espécie de lagoas que albergavam portos para atracar e abrigar barcos longe do tráfego intenso do curso principal do rio”, lê-se no estudo.

Aliás, continua o resumo da investigação, “a orientação de várias passagens através da água, perpendiculares ao braço de Ahramat, que partiam das pirâmides e terminavam na sua margem, implicam que este antigo braço e os seus afluentes estavam simultaneamente ativos na altura da construção das pirâmides durante o Reino Antigo e o Reino Médio do Egito”.

Esta descoberta vem confirmar um dado de 2022: uma análise de pólen revelou a existência de vegetação abundante na altura da construção das pirâmides, há mais de 4.000 anos, indicador de abundância de água.

A investigação da geóloga especializada no processamento de dados de imagens espaciais produziu o primeiro mapa do antigo braço do Nilo nesta região, o que “permitirá reunir uma imagem abrangente da antiga paisagem aquática do Antigo Egito e compreender como as mudanças no meio ambiente impulsionaram as atividades humanas na região”, conclui Ghoneim no seu estudo.

Agora, a equipa quer analisar partes do solo do antigo leito do rio para perceber se ele estava ativo ou não durante aqueles reinos (há 3.700 a 4.700 anos) quando as icónicas pirâmides, uma das Sete Maravilhas do Mundo, foram construídas.

E isto poderá não só resolver a grande questão das pirâmides, como abrir portas para mais estudos arqueológicos do Egito Antigo. “Ao longo do tempo, o curso principal do Nilo migrou — nalgumas zonas para leste, noutras para oeste — porque os rios fazem sempre isso”, disse Ghoneim ao IFL.

“À medida que os ramos desapareciam, as cidades e vilas do Antigo Egipto também assoreavam e desapareciam, e não temos qualquer pista para as encontrar”, lembrou. Ora, se seguirem o curso dos antigos cursos de água, os investigadores têm mais hipóteses de descobrir essas antigas povoações, sublinhou.

Para começar, já têm o mapa que elaboraram do Ahramat a partir de imagens que vieram do espaço.