“Não temos motivos para ter confiança no primeiro-ministro e na sua governação. Com maioria absoluta, desbarataram a credibilidade do governo e das instituições. Essa credibilidade ficou abalada e só pode ser retomada com uma alternativa”, afirmou Paulo Rangel numa reação à última mensagem de Natal de António Costa como primeiro-ministro.

O vice-presidente do PSD acusou o Governo de ter “desbaratado” a credibilidade das instituições e de, na mensagem ao país, não “ter tido uma palavra” para os profissionais de saúde, para os sem-abrigo e para todos os que enfrentam a crise na habitação. A omissão de António Costa a estes temas foi também notada pela generalidade dos partidos da oposição nas reações à mensagem de Natal do primeiro-ministro.

Costa avisa que país tem “muito trabalho em curso” que “não pode parar”

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“Como é possível elogiar progressos nas qualificações quando vemos a situação em que está o sistema educativo, com alunos sem professores e os professores sem qualquer incentivo? A educação está numa situação de impasse”, sublinhou Paulo Rangel.

Já quanto à economia, o eurodeputado do PSD defendeu que “as contas certas não foram feitas com base em crescimento económico, mas sim com base na destruição e abandono dos serviços públicos”. No que diz respeito à saúde, o ex-candidato à liderança do PSD realçou que “seria importante uma palavra para os profissionais de saúde, sabendo a crise em que está o SNS, devido à desistência e abandono em que o PS, António Costa e o novo secretário-geral têm responsabilidade direta”

“Não houve uma palavra para os sem abrigo e para as pessoas que enfrentam a crise da habitação. Sabemos que a pobreza e o risco de pobreza aumentaram neste último ano e meio, em que o governo tinha maioria absoluta”, frisou ainda Rangel.

Chega critica falta de menção ao SNS

O presidente do Chega, André Ventura, também criticou o primeiro-ministro por ter ignorado, na sua mensagem de Natal, “a crise das instituições” e a situação do SNS. “Tocou nos temas que lhe interessavam esquecendo o drama que o país está a viver, com uma crise das instituições, uma crise que afeta a credibilidade das instituições; e a crise do SNS. Aliás, é paradigmático que, num momento em que dezenas de hospitais se encontram fechados ou a funcionar sem constrangimentos, António Costa não se tenha referido à saúde uma única vez”, disse André Ventura, acusando António Costa de demonstrar “uma profunda incapacidade de fazer um exercício de autoresponsabilização, um juízo crítico”.

Quanto à Justiça, André Ventura lamentou que “António Costa, causador de uma crise política” não tivesse dado “garantias de que os ataques à justiça não vão continuar e de que o estado de direito vai funcionar”.

Para a IL, António Costa fez “um número de propaganda”

Ainda à direita, Rui Rocha, o presidente da Iniciativa Liberal, acusou António Costa, de ter feito um “número de propaganda igual aos que fez em tantos eventos nestes anos que leva enquanto primeiro-ministro”.  “Está cada vez mais distante da realidade”, disse Rui Rocha, por, sublinha, não se ter referido aos principais problemas dos portugueses.

“Não houve uma palavra para todos os grandes temas que afligem os portugueses: a crise na habitação, os baixos rendimentos, os impostos que asfixiam a classe média, o acesso cada vez mais degradado a serviços públicos (como a saúde, educação, transportes, justiça), a degradação das instituições”, enumerou o líder da IL.

Bloco lamenta da falta de referência aos problemas das pessoas

À esquerda, as reações também destacaram as ausências no discurso do primeiro-ministro que “não fez referência aos problemas que as pessoas enfrentam” na saúde e na habitação, disse Marisa Matias do Bloco de Esquerda. Para a eurodeputada, “os problemas foram agravados pela maioria absoluta”, apesar de todos os recursos. Para Marisa Matias, é importante encontrar soluções novas para os problemas. “Era importante olhar para o futuro e ter o reconhecimento de que há problemas na vida das pessoas”.

PCP. Costa falou de um país que esconde a realidade das pessoas

O Partido Comunista Português considera que o primeiro-ministro falou de um país “que esconde a realidade da vida das pessoas”, confrontadas com um “aumento do custo de vida, com um problema na habitação e no SNS”. “Aquilo que marca o país são estes problemas e estamos confrontados com a necessidade de abrir caminho à resolução destes problemas. Se há meios disponíveis, têm de ser canalizados para responder aos problemas”, disse Jaime Toga, membro da Comissão Política do PCP, recusando a ideia, transmitida por António Costa, de que os níveis de pobreza estão a diminuir. “A realidade do país não é de diminuição da pobreza”, garantiu.

Discurso “esquece o país real”, diz PAN

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que a mensagem de Natal do primeiro-ministro “esquece o país real” e considerou uma perda de tempo debates sobre coligações à esquerda ou à direita.

“As palavras de António Costa esquecem o país real, porque as contas certas têm que ser contas certas em primeiro lugar com as famílias, e num país em que temos mais de 10 mil pessoas em situação de sem-abrigo e quatro milhões de pessoas a viver em situação de pobreza se não fossem os apoios sociais, existe claramente aqui um défice de um país em que António Costa não tem conseguido promover o desenvolvimento social”, considerou a dirigente.

Livre diz que população não foi envolvida nas grandes decisões

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, lamentou que o primeiro-ministro tivesse dedicado a sua última mensagem de Natal à confiança nos portugueses, quando não os envolveu nas grandes decisões da sua governação.

“Foi uma mensagem dedicada à questão da confiança nos portugueses, mas vale a pena perguntar onde esteve essa confiança durante estes oito anos. Não houve envolvimento das populações em geral nas grandes decisões estruturantes para o futuro do país”, afirmou o deputado único do Livre na Assembleia da República. “Se em Sines a população tivesse sido ouvida acerca dos terrenos a proteger e dos que podem ser utilizados para propósitos industriais, provavelmente não teríamos tido essas decisões divididas entre governantes e facilitadores e o Governo não teria caído”, exemplificou Rui Tavares, em declarações à RTP3.

O dirigente partidário apontou ainda que, se o Governo tivesse confiança nos portugueses, deveria ter envolvido as “pessoas no desenho das políticas públicas” e evitado, desta forma, “muitos problemas quando os sinais de alarme já estavam todos dados na habitação”.

PS defende que Costa entrega um país melhor do que encontrou

A única nota dissonante veio do PS pela voz de João Torres para quem ao longo de oito anos o “país teve a possibilidade de ultrapassar momentos de maior dificuldade” como a pandemia. António Costa “entrega um país muito melhor do que aquele que encontrou quando começou a desempenhar funções governativas”.

Alinhado com a mensagem de António Costa, o secretário-geral adjunto dos socialistas considera que estamos “hoje mais habilitados para vencer os desafios da sociedade de conhecimento”, destacando a ambição na transição verde e no combate às alterações climáticas e a salvaguarda do progresso e crescimento, preservando contas certas. O PS, diz, quer continuar este legado que António Costa deixa.