A 20 de Dezembro, a Reuters publicou um artigo em que acusava a Tesla de, apesar de saber que alguns dos seus veículos possuíam problemas nas suspensões que provocavam acidentes, contestar as queixas dos clientes, acusando-os de má utilização. Segundo a agência noticiosa, o construtor norte-americano descartava-se assim da responsabilidade, bem como de ter que enfrentar as correspondentes despesas de reparação.

Afirmando ter tido acesso a “milhares de documentos da Tesla”, com a informação a ser corroborada por “mais de 20 entrevistas a clientes e a nove antigos gerentes e técnicos de assistência”, a Reuters alega que o fabricante tinha conhecimento destes problemas, alguns com mais de sete anos, mas que internamente ordenava aos seus serviços de assistência para “recusar que as peças se partiam devido a defeito de material ou de construção”.

Em causa estão as suspensões anteriores do Model S, com uma geometria de triângulos sobrepostos, em que o inferior é formado por dois braços interligados. De acordo com a Reuters, seja por problemas com os materiais utilizados pelo fornecedor das peças ou por deficiência de concepção, os braços tenderão a ganhar folga e até a partir-se, provocando acidentes.

Uma semana depois da publicação do artigo da agência, a Tesla reagiu com um tweet na rede social X. Aí acusou a Reuters de “publicar um artigo com um título enganador e repleto de informação incompleta e comprovadamente incorrecta”. O construtor contesta que tenha fugido à responsabilidade de assumir as reparações, afirmando que “cobriu os custos da maior parte dos 120.000 veículos envolvidos” e chama a atenção para “a peça danificada que surge na foto”, ter ficado “nesse estado pós-acidente”, o que a levou a concluir que o proprietário “fabricou” a história.

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A Tesla garante que o seu sistema de sensores e câmaras é o mais completo e complexo do mercado, registando tudo o que acontece a bordo, da velocidade nos momentos anteriores ao impacto, ao ângulo do volante e à pressão exercida sobre o acelerador ou o travão. Daí que, segundo a marca, o cliente tenha sido informado que “a telemetria permitia analisar o acidente e concluir que não ocorreu em condições cobertas pela garantia”.

Todos os acidentes rodoviários que ocorram nos EUA com vítimas, ou com danos consideráveis, são analisados ao pormenor pela National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), cujos técnicos decidem se a responsabilidade é do veículo, do condutor ou da estrutura rodoviária. Os acidentes que envolvem veículos eléctricos merecem sempre uma atenção redobrada, com destaque para os Tesla, sobretudo devido ao Autopilot, dispositivo de ajuda à condução que tem muitos fãs, mas igualmente detractores. E a NHTSA, um organismo federal e independente – que já aplicou multas multimilionárias a marcas prevaricadoras, como por exemplo ao Grupo VW devido ao Dieselgate – teve ocasião de analisar detalhadamente os casos que tiveram lugar nos EUA com as suspensões dos Tesla, bem como de outros construtores, não tendo chegado às mesmas conclusões dos jornalistas da Reuters.

Esta não é a primeira troca de argumentos entre a agência noticiosa e a Tesla, com a publicação americana Electrek a recordar uma ocasião em que a Reuters noticiou que a Tesla vendia veículos no Canadá importados da China, acusando Elon Musk, o CEO da empresa, de faltar à verdade quando este afirmou que o artigo era falso. Sucede que, segundo prova o jornalista Fred Lambert da Electrek, através de print screens, parece que não só Musk tinha razão, como a Reuters “corrigiu o artigo anteriormente publicado” e depois “mentiu sobre o facto de o ter editado”, afirma.