São já cinco os países que se manifestaram contra os comentários de dois ministros israelitas que sugeriam a saída da população palestiniana de Gaza. Depois dos Estados Unidos, esta quinta-feira, Portugal, a Arábia Saudita, Países Baixos e Eslovénia condenaram publicamente as declarações. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell também já o tinha feito.
Os autores dos comentários foram o ministro da Segurança Nacional do Governo israelita, Itamar Ben Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. O primeiro disse que a atual situação em Gaza representa uma “oportunidade para se concentrarem em encorajar a migração dos residentes de Gaza”, segundo cita a Reuters. Já o segundo afirmou que os israelitas poderiam fazer “o deserto florescer”, numa outra notícia da mesma agência.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português condenou as “declarações irresponsáveis” de dois ministros israelitas, que sugeriram a expulsão da população palestiniana de Gaza para permitir o regresso dos colonatos judaicos, apontando que “promovem a violência”.
Numa nota de “firme condenação” publicada na rede social X, o ministério liderado por João Gomes Cravinho apontou que a solução defendida pelo ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben Gvir, e das Finanças, Bezalel Smotrich, “violaria o direito internacional”. “Tais declarações promovem a violência e são contrárias à solução de dois estados”, pode ler-se ainda.
Firme condenação das declarações irresponsáveis de dois Ministros israelitas, apelando à "emigração"da população de Gaza e ocupação do território por colonos, o que violaria o Direito Internacional. Tais declarações promovem a violência e são contrárias à solução de dois Estados.
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) January 4, 2024
O ministério dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita emitiu um comunicado no qual expressa a “condenação e rejeição categórica dos comentários extremistas feitos por dois ministros do governo de ocupação israelita”, segundo se pode ler numa mensagem publicada na rede social X.
#Statement | The Foreign Ministry expresses the Kingdom of Saudi Arabia’s condemnation and categorical rejection of the extremist remarks by two ministers in the Israeli occupation government. pic.twitter.com/2cVjVpW8gE
— Foreign Ministry ???????? (@KSAmofaEN) January 4, 2024
O ministério dos Negócios Estrangeiros neerlandês considerou os comentários dos dois ministros “irresponsáveis” e afirma que “os Países Baixos rejeitam quaisquer apelos à deslocação palestiniana de Gaza ou redução do território palestiniano”, segundo uma publicação na mesma rede social.
Recent remarks by Israeli ministers Smotrich and Ben-Gvir regarding Palestinian resettlement from Gaza are irresponsible. The Netherlands rejects any calls for Palestinian displacement from Gaza or reduction of Palestinian territory. 1/2
— Dutch Ministry of Foreign Affairs ???????? (@DutchMFA) January 3, 2024
O ministérios dos Negócios Estrangeiros e Europeus da Eslovénia também reagiu na rede social X. “Qualquer deslocação da população palestiniana de Gaza é contrária à lei internacional e põe em risco futuras possibilidades de uma solução de dois estados”, pode ler-se na publicação.
Slovenia ???????? rejects recent statements by members of the #Israeli government ????????, proposing mass displacement of #Palestinians from #Gaza. Any displacement of the ???????? Palestinian population from Gaza is contrary to international law and endangers even further prospects for a viable… pic.twitter.com/Jn0U15aE6U
— MFEA Slovenia (@MZEZ_RS) January 3, 2024
Josep Borrell, o chefe da diplomacia da União Europeia já tinha reagido esta quarta-feira aos comentários dos governantes israelitas para os criticar. “Condeno com firmeza as declarações inflamatórias e irresponsáveis dos ministros israelitas Ben Gvir e Smotrich onde caluniam a população palestiniana de Gaza e pedem um plano para a sua emigração”, escreveu na rede social X.
I strongly condemn the inflammatory & irresponsible statements by Israeli ministers Ben Gvir & Smotrich slandering the Palestinian population of Gaza & calling for a plan for their emigration.
Forced displacements are strictly prohibited as a grave violation of IHL & words matter— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) January 3, 2024
Os Estados Unidos também condenaram a ideia através de Matthew Miller. O porta-voz da Secretaria de Estado dos Estados Unidos (o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros) fez uma publicação na sua conta da rede social X onde afirma que a Casa Branca “rejeita as declarações inflamatórias e irresponsáveis dos ministros Smotrich e Ben Gvir”. “Não deverá haver nenhum deslocamento em massa de palestinianos de Gaza”, acrescenta o diplomata.
The United States rejects the inflammatory and irresponsible statements from Israeli Ministers Smotrich and Ben Gvir. There should be no mass displacement of Palestinians from Gaza.
— Matthew Miller (@StateDeptSpox) January 2, 2024
“Vamos fazer o deserto florescer”
“O que precisa ser feito na Faixa de Gaza é encorajar a emigração”, disse Smotrich à Army Radio no passado dia 31 de dezembro, citado pela Reuters. “Se há 100 mil ou 200 mil árabes em Gaza e não dois milhões, toda a discussão sobre o pós-guerra será totalmente diferente.” O ministro disse ainda que, se a população de 2.3 milhões já lá não estiver, “a fazer crescer a aspiração de destruir o estado de Israel”, então o país iria olhar para Gaza de maneira diferente. “A maioria da sociedade israelita dirá ‘porque não, é sítio simpático, vamos fazer o deserto florescer, não é à custa de ninguém'”, cita ainda a Reuters.
Smotrich tem sido excluído não só do gabinete de guerra como também das discussões sobre os cenários do pós-guerra na Faixa de Gaza. As recentes declarações fazem crescer a preocupação já existente no mundo árabe de que Israel possa querer retirar os palestinianos de Gaza. O atual ministro das Finanças do governo de coligação de Netanyahu pertence a um partido de extrema direita — Partido Sionismo Religioso — e já tinha feito comentários semelhantes no passado mês de novembro. No entanto, as suas declarações não expressão a posição oficial do governo de Israel.
O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, disse também no passado domingo durante um discurso que “não vão permitir a deslocação, seja da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia”.