A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) propôs ao Estado o alargamento dos acordos com o setor social, após a “procura brutal” das urgências que esgotou as consultas contratualizadas e obrigou os hospitais a pedirem uma comparticipação simbólica aos doentes.

“Esses números explodiram completamente e por isso nós propusemos ao Estado alargar estes acordos a todos os hospitais das Misericórdias e reforçando-os, porque de outra maneira, a única forma que tínhamos de atender as pessoas é que elas pagassem” um valor de cerca de 20 euros, disse o presidente da UMP, Manuel Lemos, num balanço feito à agência Lusa sobre a procura das urgências no setor social.

Segundo Manuel Lemos, os constrangimentos no Serviço Nacional de Saúde levaram muitos doentes a recorrer às urgências dos hospitais das Misericórdias, principalmente, no período do Natal e Ano Novo, uma procura que tem vindo a baixar nos últimos dias.

“Tivemos uma procura muitíssimo significativa. De tal maneira que puseram em causa os próprios acordos que nós tínhamos”, afirmou Manuel Lemos, adiantado que o Estado tem acordo com quatro hospitais e que o número de consultas contratualizado varia de “misericórdia para misericórdia”, entre as 20 mil e as 50 mil consultas por ano.

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Com o esgotar do plafond de consultas e “não havendo outra alternativa”, disse Manuel Lemos, os hospitais pediram “uma comparticipação, ainda que em muitos casos simbólica às pessoas [cerca de 20 euros] para poder pagar aos médicos e aos profissionais e ter a máquina em movimento”.

Manuel Lemos referiu que os doentes não deixaram de ser atendidos, compreendendo a situação, mas acentuou que a situação causa “alguma preocupação”, porque as Misericórdias não queriam que “em parte nenhuma do país” as pessoas tivessem que pagar “o que quer que fosse” nos seus hospitais.

Questionado sobre se a UMP já obteve alguma resposta à proposta que fez ao Estado, Manuel Lemos disse que são questões “muito complexas” e que os acordos não dependem apenas do Ministério da Saúde.

“Têm que ser objeto de um olhar pelo Ministério das Finanças e muitas vezes demora muitos dias” e com os doentes à porta das urgências do hospital, disse, “não é possível esperar horas, quanto mais dias e é por isso que acabámos em alguns casos, de facto, por enveredar por uma solução”.

Segundo Manuel Lemos, a maioria dos utentes são idosos frágeis que não podem esperar sete, oito, 10 horas nas urgências. “Nós nunca ultrapassamos as quatro horas de atraso, mas de qualquer maneira consideramos que isso é muito tempo para um idoso frágil que tem às vezes uma simples gripe, mas que pode ser fatal se ficar ali muito tempo”, salientou.

Nos últimos dias, a procura das urgências nos hospitais das Misericórdias tem vindo a baixar, mas o responsável disse que a procura está muito relacionada com a capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários.

Manuel Lemos realçou que as Misericórdias têm “uma enorme capacidade instalada” na área da saúde, mas disse haver “muito a ideia de que a resposta deve ser só a resposta pública”

“Mas a resposta pública, como vemos, não consegue”, disse, defendendo que o Estado tem que perceber que o que as misericórdias fazem e a qualidade com que trabalham são “a única forma, e é uma forma muito grande, de ajudar as pessoas”.