As regiões do norte de Espanha, da Galiza ao País Basco, ativaram ou elevaram esta terça-feira alertas ambientais por causa de toneladas de minúsculas bolas de plástico que caíram ao mar em dezembro em águas portuguesas.
Segundo informações divulgadas pelo governo espanhol, o armador do barco que em 8 de dezembro perdeu contentores da carga que transportava, a 80 quilómetros de Viana do Castelo, disse que caíram ao mar mais de mil sacos com cerca de 26,2 toneladas destas bolas com cerca de 5 milímetros de diâmetro, usadas para fabricar plásticos e que estão agora a dar à costa no norte de Espanha, com a imprensa local e associações ambientais a falar em “areais pintados de branco” e “maré de plásticos”.
As informações anteriores, conhecidas até segunda-feira, estimavam 15 toneladas de bolas de plástico dentro de um dos contentores perdidos pelo barco.
Nos outros contentores caídos ao mar (pelo menos mais cinco) havia pneus, rolos de película aderente e barras de alumínio, segundo as informações fornecidas pelo armador do barco às autoridades espanholas.
Os primeiros sacos com as bolas de plástico foram identificados em 13 de dezenbro em praias da Galiza, na fronteira com o Norte de Portugal.
No entanto, foi no final da semana passada que começaram a chegar à costa da Galiza, em quantidade, as bolas de plástico dispersas, fora de sacos.
O governo regional galego ativou na sexta-feira o nível 1 (o menos grave) do Plano Territorial de Contingências por Contaminação Marinha da Galiza, que prevê tarefas de vigilância e limpeza, e elevou esta terça-feira o alerta para nível 2, com o qual poderá contar com meios estatais para a gestão do problema.
Segundo um mapa que a associação ecologista Noia Limpa disponibilizou na sua página na Internet, feito com base em testemunhos e informações oficiais, já foram identificadas estas bolas de plástico em praias ao longo de quase toda a costa da Galiza, desde Pontevedra, no sudoeste da região, até ao lado norte.
Na vizinha região das Astúrias, foram pela primeira vez identificadas as mesmas bolas em praias na segunda-feira e o governo regional ativou também o nível 2 do plano autonómico de contingências por contaminação marinha dada “a presença generalizada em areais de toda a costa” dos plásticos.
Na Cantábria, região que tem fronteira com a Galiza, foram encontradas esta terça-feira nas praias bolas de plástico semelhantes.
Também o País Basco, já na fronteira com França, anunciou hoje a ativação do respetivo Plano Especial de Emergência por Contaminação Marinha dada a previsível chegada destes plásticos à costa da região.
A conselheira com a tutela do Ambiente no governo basco, Arantxa Tapia, disse aos jornalistas que o executivo regional está a moinitorizar a localização dos plásticos em alto mar e que o objetivo do governo regional é recolher o máximo possível antes da chegada às praias.
Tapia afirmou que, porém, “uma quantidade desse plástico chegará às praias” do País Basco.
A ministra do Ambiente de Espanha, Teresa Ribera, disse esta terça-feira que as autoridades do país não sabem ainda “qual é a magnitude daquilo que pode acontecer”.
Segundo a associação ecologista galega Noia Limpa, que cita dados do EU Monitor, estas bolas de plástico têm menos de 5 milímetros de diâmetro, são usadas na indústria de plásticos e estima-se que só no ano de 2019 se perderam no meio ambiente entre 52.140 e 184.290 toneladas.
Não sendo biodegradáveis, estas pequenas bolas, com os anos, fragmentam-se em nanopartículas, microplásticos que entram na cadeia alimentar marinha.
A Federação Ecologista Galega disse no domingo, num comunicado, que a situação não é similar aos derrames de produtos petrolíferos, mas realçou que não se deve “retirar importância ao perigo” deste acidente, por se desconhecer para já “como evoluirá e como afetará o ambiente e os seres vivos”.
O Ministério Público espanhol anunciou na segunda-feira que abriu uma investigação para apurar eventuais responsabilidades neste caso.
Em Portugal, a Capitania de Viana do Castelo revelou hoje à Lusa estar preocupada e com “atenção redobrada” à possibilidade de a costa portuguesa ser afetada, acrescentando que nas patrulhas diárias nada foi localizado até agora.