O Azerbaijão apelou esta quarta-feira para que França cesse toda a “interferência nos assuntos internos” do país, um dia após Paris ter criticado a “detenção arbitrária” de um cidadão francês acusado de espionagem pelas autoridades azeris.
As alegações da diplomacia francesa de que o cidadão “foi preso sem qualquer motivo são completamente infundadas”, afirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, num comunicado.
“Esta declaração infundada constitui uma distorção da realidade e uma nova tentativa de interferir nos assuntos internos do Azerbaijão e num processo de investigação legítimo“, respondeu o ministério.
“Mais uma vez, apelamos ao lado francês para que pare com a sua interferência nos assuntos internos do Azerbaijão”, sublinhou o comunicado.
Martin Ryan foi detido em 4 de dezembro e depois colocado em prisão preventiva durante quatro meses, de acordo com a diplomacia do Azerbaijão.
Desde a sua detenção, Ryan recebeu várias visitas de funcionários consulares da embaixada francesa em Baku, que “têm todas as informações sobre a investigação”, garantiu o comunicado.
“Confirmamos que o nosso compatriota se encontra detido pelas autoridades azeris desde o início de dezembro”, disse na terça-feira, o ministério dos Negócios Estrangeiros francês à agência de notícias France-Presse (AFP).
“Como já tivemos oportunidade de informar as autoridades azeris, consideramos esta detenção arbitrária e apelamos à libertação imediata do nosso compatriota”, acrescentou a diplomacia francesa.
Não é a primeira vez que Azerbaijão e França demonstram tensões político-diplomáticas.
No final de dezembro, o Azerbaijão expulsou dois diplomatas franceses por atividades que classificou como “incompatíveis com o seu estatuto”, num contexto de tensões entre os dois países devido ao apoio de Paris à Arménia.
A embaixadora francesa em Baku, Anne Boillon, foi então convocada ao ministério dos Negócios Estrangeiros azeri, onde foi notificada de um “forte protesto contra as ações de dois funcionários da embaixada de França incompatíveis com o seu estatuto diplomático”, segundo um comunicado oficial das autoridades locais divulgado na ocasião.
O Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, acusou na altura Paris de favorecer “novas guerras”, ao armar a Arménia.
A Arménia e o Azerbaijão mantêm relações conflituosas, nomeadamente por causa de Nagorno-Karabakh, um território separatista que Baku reconquistou em setembro.
O controlo deste território originou duas guerras — uma entre 1988 e 1994 e outra no outono de 2020 — entre os dois países, que recentemente manifestaram desejo em normalizar as relações e garantir um acordo de paz, mas as negociações pouco têm progredido.
Nagorno-Karabakh: Arménia recebe nova proposta do Azerbaijão para um acordo de paz
A França, que acolhe uma grande diáspora arménia, tem estado envolvida na mediação entre estas duas antigas repúblicas soviéticas.