A pianista Joana Sá apresenta este mês em Lisboa e Braga o seu novo álbum, Corpo-escuta / A body as listening, parte de um projeto maior que inclui um livro e uma instalação.

A apresentação em Lisboa acontece esta sexta-feira, na Culturgest, no que é a estreia da artista naquela sala, enquanto em Braga a atuação acontece no gnration, no dia 26 deste mês.

O álbum, o terceiro a solo da carreira, é o primeiro com a etiqueta da discográfica portuguesa Clean Feed, e faz parte de um projeto mais amplo, iniciado no ano passado, que inclui o livro A body as listening — resonant cartography of music (im)materialities, editado em novembro, uma instalação virtual — que pode ser visitada em www.abodyaslistening.com —, uma conferência-performance, já realizada, e este espetáculo, no qual apresenta o álbum com os três cocriadores: o realizador Daniel Costa Neves, na conceção visual, a coreógrafa e bailarina Teresa Silva, no apoio ao movimento, e o músico e artista sonoro Henrique Fernandes, que estará em palco com de Joana Sá, ao piano.

A Body as Listening é a sua estreia a solo na Clean Feed, etiqueta para a qual já gravou com a cantora grega Savina Yannatou, com o quinteto Turbamulta, em 2018, e com o Power Trio.

“Na música de Joana Sá, o que nos atinge primeiro é o som, um som maravilhoso onde as teclas do piano são só uma parte. A Joana explora todo o instrumento arrancando timbres de cada pedaço de madeira. O seu trabalho de composição e o rigor das suas peças encontra paralelo na capacidade exploratória e na musicalidade de enorme beleza interpretativa”, considera o editor da Clean Feed, Pedro Costa.

A compositora disse à agência Lusa que o seu trabalho está “muito ligado à questão do corpo”.

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No piano de Joana Sá o corpo é que toca

“O meu trabalho é uma desconstrução em relação ao corpo, e, em relação à música, das relações de poder, de conflito e, a partir daqui, dessa ideia, quase de ferida aberta ou desse espaço de conflito que é o corpo, um corpo que não é linear e que tem múltiplas autoridades, que é múltiplo e diverso, e coisas que não controlamos, e, nessa desconstrução, se calhar a discussão destes tempos que tentam ser muito geométricos”, afirmou.

“Mas cada um vê as coisas como sente”, disse, referindo que lhe “é difícil definir” a sua música, mas realçou que “hoje em dia as gavetas não são estanques, nem fechadas, e as coisas acabam por se tocar”, afirmando as suas origens “na música clássica e contemporânea”.

“A minha música é dentro da área da contemporânea, também um pouco experimental, mas é também uma música que tenta desconstruir esta ideia que temos da música contemporânea como sendo uma coisa muito racional ou que é preciso para [a] compreender, saber muitas coisas de música para conseguir perceber ou compreender”, disse à Lusa.

“É uma música que é muito sensorial e direta, por um lado, podendo ser muito complexa, e acaba por desconstruir essa ideia de dualidade entre o que é intelecto e o que é sensorial e imediato, mais acessível aos sentidos”.

À Lusa, Joana Sá reconheceu que é “uma transgressora”, mas ressalvou que tem “respeito pelo passado”, por aqueles que a antecederam e “forneceram ferramentas que são fundamentais”.