A União Europeia (UE) suspeita da atribuição de subsídios ilegais do Estado chinês à indústria automóvel, de forma a reforçar a competitividade dos fabricantes e permitir-lhe praticar preços mais baixos. Daí que tenha anunciado, em Outubro, uma investigação à forma de actuar das marcas chinesas e à sua relação com o Estado, com a equipa de investigadores a partir para a China entre Janeiro e Fevereiro, de acordo com a Reuters.

As relações comerciais da Europa com a China são extremamente desequilibradas, pois se os países europeus importaram, em 2022, cerca de 626 mil milhões de euros de produtos chineses, mais 150 mil milhões do que no ano anterior, apenas exportaram para este país asiático 240 mil milhões de euros. Como se isto não bastasse, a China aplica impostos mais elevados aos veículos que importa, contra apenas 10% dos europeus, com os chineses a obrigarem ainda que qualquer construtor que pretenda comercializar os seus veículos “livremente” no país seja obrigado a construir ali uma fábrica e “oferecer” 50% da joint venture a um construtor local que seja estatal, regulamentação que deixou de se aplicar apenas em Outubro de 2023. Curiosamente, na mesma data em que foi anunciada a investigação europeia e numa fase em que a maioria dos construtores chineses decidiu atacar a Europa, em condições diferentes das exigidas aos congéneres europeus no seu próprio país.

A braços com um mercado doméstico que reduziu o ritmo de crescimento, as marcas de automóveis chinesas viraram-se para o Velho Continente, onde os veículos eléctricos são o segmento que mais tem aumentado em termos de procura. Daí que a UE pretenda garantir que as marcas asiáticas que querem comercializar os seus veículos na Europa cumprem a legislação vigente, que impede a atribuição ilegal de subsídios do Estado. O The New York Times avança que a China concede diversas ajudas aos construtores locais, que vão dos terrenos gratuitos para instalar fábricas à isenção de impostos, além de vários subsídios, todos eles considerados ilegais à luz dos tratados do comércio internacional.

Os inspectores da UE seleccionaram os construtores a visitar na China, numa análise que se deverá estender durante mais de um ano. A preferência recaiu sobre a BYD, a SAIC e a Geely, grupos que incluem várias marcas, muitas delas já à venda na Europa. As duas primeiras são controladas pelo Estado, apesar de a BYD ser privada e cotada na bolsa de Hong Kong, mas onde a China detém a maioria do capital e a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, já reduziu os 25% que detinha para menos de 10%. A Geely é a única privada, com Li Shufu como o maior accionista.

Se as investigações à BYD, Geely e SAIC foram anunciadas, nada foi avançado – pelo menos para já – em relação às unidades fabris que produzem modelos da Tesla, BMW, Mini, Dacia e Grupo Volkswagen, que depois viajam para a Europa, uma vez que, à excepção da marca norte-americana, as restantes fábricas são detidas por joint ventures com fabricantes estatais chineses. Os construtores chineses não reagiram bem à investigação e o Governo apressou-se a prometer investigações similares aos brandies franceses e a ameaçar os veículos de luxo alemães (Audi, BMW e Mercedes) exportados para a China.

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