É “provável” que o Banco Central Europeu (BCE) desça as taxas de juro no próximo verão, confirmou nesta quarta-feira a presidente da autoridade monetária numa entrevista à Bloomberg à margem dos encontros de Davos (Suíça). Christine Lagarde acautela, porém, que o BCE não quer correr o risco de baixar as taxas de juro cedo demais e, depois, ter de voltar a subi-las novamente. “Se isso acontecesse estaríamos a desperdiçar todos os esforços que toda a gente fez nos últimos meses“, avisa.
“Estou confiante de que, a menos que tenhamos outro choque, chegámos ao pico” nas taxas de juro, confirmou Christine Lagarde, numa entrevista à agência financeira norte-americana, deixando claro que a autoridade monetária não prevê aumentar os juros acima dos atuais 4%. Porém, sublinha a presidente do BCE, “temos de continuar em terreno restritivo pelo tempo que for necessário para garantir que chegamos a uma situação em que estamos confiantes de que a inflação está a caminhar para o objetivo de 2%”.
Sei que há algumas pessoas que dizem que estamos a exagerar. Mas, para mim, o pior risco seria se [baixássemos as taxas] demasiado rapidamente e, depois, fosse necessário voltar a subi-las novamente. Se isso acontecesse estaríamos a desperdiçar todos os esforços que toda a gente fez nos últimos meses”, avisou a francesa.
Depois de alguns membros do Conselho do BCE terem admitido que é provável que possa haver uma descida nas taxas de juro no verão, nesta entrevista Christine Lagarde alinhou-se com essa opinião. “Quando alguns dizem que é provável [que os juros comecem a descer no verão] eu também acho que é provável. Mas tenho de ter uma postura reservada, porque também estamos a dizer que a nossa política é definida de acordo com os dados e ainda existe muita incerteza“.
Existem, até, “dados que indicam que a inflação não está controlada nos níveis em que queremos”, acautelou a presidente do BCE, relativizando as opiniões veiculadas pelos seus colegas do Conselho do BCE como análises muito influenciadas pelo contexto particular de cada país.
“Cada membro do Conselho do BCE tem a sua opinião, e alguns deles têm nas suas mãos dados relativos aos seus países, que são diferentes de país para país na zona euro. Se se olhar para Portugal, ou para Alemanha, a situação é diferente“, afirmou a francesa, reiterando que o BCE trabalha com dados agregados e as suas políticas tentam responder o melhor possível à heterogeneidade que existe na união monetária.