“– Sinto que estou um bocadinho mais madura.
— Só tens 16 anos.
— Bem, no ano passado tinha 15.”

A curta entrevista que Mirra Andreeva deu esta terça-feira em plena Rod Laver Arena foi suficiente para perceber o pragmatismo com que encara o ténis e a carreira que tem pela frente. Aos 16 anos, a tenista russa só precisou de dois sets para vencer Ons Jabeur, tunisina que já esteve em três finais de Grand Slam, e chegar à terceira ronda do Open da Austrália.

Com um 6-0 e um 6-2 em 54 minutos, Mirra Andreeva chocou Jabeur, o público australiano e os adeptos de ténis em geral ao superiorizar-se a uma das candidatas à conquista do Open da Austrália. Com a surpreendente vitória, tornou-se a mais jovem de sempre a alcançar um 2-0 contra uma adversária do top 10 mundial num Grand Slam e garantiu que vai sair do torneio com a melhor classificação pessoal no ranking WTA, sendo atualmente 46.ª.

A tenista russa só perdeu quatro pontos nos primeiros serviços e errou pouco, somando apenas 10 erros não forçados. Enfrentou um ponto de break, que salvou, e conquistou outros cinco numa exibição que vingou a derrota do ano passado na final do torneio júnior do Open da Austrália, onde deixou fugir o título para a compatriota Alina Korneeva. Este é o quarto Grand Slam em que Mirra Andreeva está a participar, sendo que em 2023 chegou à quarta ronda de Wimbledon, ficou pela terceira em Roland Garros e não passou da segunda no US Open.

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Nascida em Krasnoyarsk, na Sibéria, mudou-se com a família para Moscovo ainda muito nova para investir no ténis — até porque a irmã mais velha, Erika, também é tenista profissional. Em 2022, as duas irmãs mudaram-se para Cannes, em França, onde treinam atualmente com a estrutura que está ligada ao também russo Daniil Medvedev. A ideia de que 2024 poderia ser um ano capital para Mirra Andreeva surgiu desde logo no Open de Madrid do ano passado, quando eliminou Leylah Fernández, Beatriz Haddad Maia e Madga Linette e só caiu nos oitavos de final do Masters 1000 com Aryna Sabalenka.

“Enfrentar a Ons era um dos meus sonhos, porque gosto muito da sua forma de jogar. Ela inspira-me. Esta vitória significou muito para mim”, começou por dizer a jovem russa na conferência de imprensa. “Depois do jogo veio ter comigo, desejou-me sorte. Percebi que ela é quem é e nunca muda. É isso que gosto nela”, acrescentou, deixando rasgados elogios à número 6 do ranking mundial antes de explicar a forma como abordou a partida.

“Decidi desfrutar, porque era a Rod Laver Arena e estava a jogar contra uma pessoa que adoro. Acho que não alcancei nada de incrível, ainda tenho muito tempo para o fazer. Às vezes, quando estou deitada na cama, penso demasiado. Mas na manhã seguinte já estou totalmente bem. Quer dizer, tenho 16 anos, como é que posso pensar em rankings? O meu objetivo é chegar mais e mais alto. Tento não pensar nisso e apenas no ténis”, explicou a russa, que agora vai defrontar a francesa Diane Parry na terceira ronda.