Holger Rune, Carlos Alcaraz, Stefanos Tsitsipas, Andy Murray, Sebastian Korda. Todos estes nomes têm em comum uma coisa: derrotaram Nuno Borges no ano passado. Nos encontros que separam o trigo do joio, o jogador da Maia cedeu. Ao tenista, um assumido mau perdedor, serviam de pouco as vitórias morais de partilhar o court com os grandes nomes do circuito. Um dia, antes de se tornar no primeiro português de sempre a chegar aos oitavos de final do Open da Austrália, Nuno disse qual o melhor conselho que recebeu: “O meu treinador disse-me que não se ganha quando se quer, mas quando se consegue”. Nada podia estar mais certo.

Nuno Borges chega pela primeira vez aos oitavos de final do Open da Austrália

Depois de superar Maximilian Marterer e Davidovich Fokina no Grand Slam australiano, Nuno Borges tinha pela frente Grigor Dimitrov, o número 13 do mundo que ainda não tinha perdido nenhum encontro em 2024 até que o português se impôs perante o búlgaro — 6-7 (3-7), 6-4, 6-2 e 7-6 (8-6) — em quatro sets. O maiato consegue um feito inédito em solo australiano, sendo que, na generalidade do Majors, apenas João Sousa tinha chegado tão longe neste tipo de torneios. O vimaranense alcançou a quarta ronda do US Open, em 2018, e de Wimbledon, em 2019.

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“Segunda semana do Open da Austrália. Quem diria…”. Foi assim que Nuno Borges reagiu à sua primeira vitória de sempre contra um adversário do top-20. “Testei os meus limites e os limites do meu adversário. Tudo pode acontecer num jogo de ténis e este foi o verdadeiro exemplo disso”, continuou. “Tento manter-me focado no jogo. Sei que esta atmosfera pode ser intensa. Agradeço a todos, isso faz com que o jogo seja ainda mais especial. Nunca joguei em frente a tanta gente”.

“Estou a viver o sonho e vou continuar à procura de mais”: o pós-vitória de Nuno Borges, entre um jogo de pares e o invicto Dimitrov

Se as malas não estavam abastecidas com o material necessário para uma estadia prolongada no torneio, uma solução vai ter que ser encontrada, porque segue-se agora o russo Daniil Medvedev. “O ténis dá-te confiança à medida que vais vencendo, mas é algo que não dura muito. É preciso concentrares-te imediatamente no próximo jogo. Não passo dias a digerir derrotas, acho que melhorei nesse aspeto, mas ainda sinto algumas dificuldades com isso”.

Nem sempre foi assim. Numa entrevista aos portais do ATP Tour, mesmo antes de defrontar Stefanos Tsitsipas no Masters 1.000 de Roma, em maio do ano passado, Nuno Borges assumia que fazia “birras” quando era jovem e que era “um péssimo perdedor”, destacando a ajuda do pai a ultrapassar essa barreira.

Nuno Borges viu-se grego contra Tsitsipas numa “tragédia” em Roma que durou dois dias

Nuno Borges começou a jogar ténis aos seis anos porque “gostava de desportos individuais” por “ser o único a ter controlo sobre o resultado”. Entre 2016 e 2019, conciliou o desporto com o ténis quando viajou até aos Estados Unidos para prosseguir a carreira académica no Mississippi. “Quando me tornei profissional, tive a certeza de que o queria fazer. Por causa dos meus tempos de faculdade, ainda me sinto muito jovem no Tour, embora tenha 26 anos. Sinto-me como um jogador de 21 ou 22 anos. Isso é o que sinto ao viver estas experiências e ao jogar nestes grandes eventos”.

A experiência deu a Nuno Borges a maior vitória da carreira frente a Dimitrov, naquela que “é mais uma página escrita na história do ténis português”, como disse o treinador do tenista, Rui Machado, à Rádio Observador. “Nunca podemos dizer que é uma questão de tempo, mas, para alguém que trabalha da maneira que o Nuno trabalha, com o sonho e ambição que tem, era expectável que, pouco a pouco, começasse a evoluir. Estamos todos surpreendidos com esta capacidade do Nuno de resolver estes problemas, de enfrentar estes desafios, de não ter medo de vencer estes grandes jogadores e de se superar”.