Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram, num estudo que envolveu 702 universitários, que os estudantes com sintomas de depressão e ansiedade não procuram ajuda devido ao estigma, foi esta segunda-feira revelado.

Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto esclarece que “o estigma é, de facto, uma das barreiras à procura de ajuda mais frequentemente identificadas na literatura”.

O estudo, publicado na revista Psychiatry Research, “procurou estudar os efeitos de uma intervenção de redução do estigma nos comportamentos de procura de ajuda de estudantes universitários com sintomas de depressão e ansiedade”.

Na investigação, que decorreu entre 2019 e 2021, participaram 702 estudantes de vários cursos da Universidade do Porto, com uma idade média de 19 anos.

O estudo avaliou os efeitos da intervenção de redução do estigma da depressão nos comportamentos de procura de ajuda, os efeitos da intervenção no acesso a cuidados de saúde mental e se os efeitos mudaram com o início da pandemia da covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“As conclusões mostraram que os estudantes universitários com sintomas de depressão e ansiedade procuram ajuda mais frequentemente após serem expostos a uma intervenção de redução do estigma em relação à doença mental e que esse incremento no acesso aos cuidados de saúde se manteve, mesmo sob o efeito do impacto da pandemia de covid-19”, salienta o ISPUP.

A redução do estigma contribuiu para aumentar a procura de ajuda de cerca de 10% dos estudantes antes do início da pandemia, tendo-se mantido mesmo depois do início da covid-19.

Simultaneamente, observou-se “um aumento significativo da sintomatologia ansiosa e depressiva moderada e grave após a pandemia”.

“No entanto, os estudantes que apresentaram menores níveis de estigma e que mais procuraram ajuda demonstraram estar mais protegidos, revelando um menor prejuízo na gravidade dos sintomas”, esclarece.

Segundo o ISPUP, os estudantes que participaram na intervenção procuraram “mais ativamente cuidados de saúde” e mostraram, comparativamente aos que não participaram, “maior resiliência” face aos desafios de saúde mental.

Citada no comunicado, a investigadora Virgínia da Conceição destaca a importância de abordagens preventivas e proativas no âmbito da saúde mental dos jovens.

“A persistência dos efeitos positivos da intervenção aponta para a necessidade de políticas e programas contínuos que visem a redução do estigma e a promoção da procura de ajuda eficaz como estratégias chave para o bem-estar dos estudantes”, conclui a primeira autora do estudo.

Os investigadores esperam que, além da implementação de políticas de saúde mental em ambientes académicos, que os programas de saúde mental no ensino superior, já submetidos a financiamento, sejam apoiados.

“Doze milhões de euros em três anos para um universo de 430.000 estudantes do ensino superior não é muito dinheiro, mas será um bom investimento em programas com evidência científica”, acrescentam.