O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) pediu esta terça-feira medidas urgentes para enfrentar o “aumento dramático” das mortes de refugiados rohingyas no Mar de Andamão e na Baía de Bengala.
Durante uma conferência de imprensa, o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Matthew Saltmarsh, declarou que a agência da Organização das Nações Unidas está alarmada com as estatísticas recolhidas, que revelam uma tendência ascendente de mortos, sublinhando que pelo menos 569 rohingyas morreram ou desapareceram nas águas dos mares no sudeste asiático ao longo de 2023.
De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de 4.500 rohingyas — que saem normalmente de Myanmar (ex-Birmânia) ou do Bangladesh – embarcaram em viagens marítimas mortais, representando um aumento significativo em relação aos anos anteriores.
“O número de pessoas desaparecidas ou mortas é o mais elevado desde 2014, quando morreram 730 pessoas. Os resultados de 2023 incluem alguns detalhes chocantes, como relatos de abusos e exploração durante a viagem, incluindo violência de género”, lamentou o porta-voz.
Estima-se que em 2023 um rohingya morreu ou desapareceu por cada oito pessoas que tentaram fazer este tipo de travessia, tornando o Mar de Andamão e o Golfo de Bengala uma das rotas marítimas mais mortíferas do mundo.
“A maioria dos que tentam estas viagens são crianças e mulheres: cerca de 66% dos que embarcam nestas viagens mortais. Os refugiados deixam o Bangladesh e, em menor número, Myanmar”, disse Saltmarsh.
O Bangladesh acolhe cerca de um milhão de refugiados rohingyas, muitos dos quais fugiram da repressão militar de 2017 em Myanmar contra esta minoria maioritariamente muçulmana.
Assim, o porta-voz afirmou que estes números são “um lembrete assustador e que a falta de ação para salvar pessoas em perigo traduz-se em mortes”.
“Cada vez mais pessoas desesperadas morrem sob a vigilância de numerosos Estados na região, na ausência de ajuda e da possibilidade de desembarcar no porto mais próximo”, acrescentou.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados apelou às autoridades da região a tomarem medidas para prevenir futuras tragédias e “salvar vidas e resgatar aqueles em perigo no mar”, uma questão que considera “imperativa” ao nível humanitário e um “dever” ao abrigo do direito internacional.
“As causas profundas destes movimentos devem ser abordadas e a comunidade internacional deve dar um passo em frente para cumprir as promessas feitas no Fórum Global para os Refugiados, em Genebra, em dezembro de 2023. Estas incluem encontrar soluções e melhorar a autossuficiência dos refugiados rohingyas para lhes dar esperança e reduzir a ideia de realizar viagens perigosas de barco”, concluiu o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.