O tempo daquele fatídico jogo estava perto de se esgotar. Esfumavam-se os minutos e esfumou-se a vida de Miklós Fehér que ficou para sempre no relvado do Estádio D. Afonso Henriques onde se jogava aquele V. Guimarães-Benfica, em 2004. O sorriso pintado de amarelo pela cor do cartão que tinha acabado de levar foi a última imagem que deixou antes de cair no chão.

“O Fehér tinha entrado poucos minutos antes, e, numa situação normal de jogo, tentou retardar o começo e impediu o V. Guimarães de recomeçar o jogo. Eu, obviamente, tive de lhe exibir o cartão amarelo, que ele aceitou pacificamente, consciente que tinha cometido essa infração”, recordou Olegário Benquerença, árbitro do encontro, ao jornal A Bola. “Esboçou um sorriso como que a pedir perdão pela infração que tinha cometido, e imediatamente, deve ter sentido algum desconforto interno, um pronúncio do que ia acontecer, baixou-se e caiu, como todos sabemos”, acrescentou.

Para o húngaro, aquele foi mesmo o jogo da sua vida e o último de 30 que fez em duas épocas no Benfica. Os colegas de equipa e adversários à sua volta deram corpo ao desespero e “todo o estádio começou a rezar”, recordou o dirigente do Benfica, Fernando Seara, que se encontra na Hungria, em conjunto com Simão Sabrosa, para uma homenagem a Fehér no dia em que se cumprem 20 anos desde a morte do antigo jogador vítima de cardiomiopatia hipertrófica. “As pessoas sentiram pela primeira vez uma ansiedade profunda que se transformou em dor amarga quando sua morte foi anunciada”, disse o presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Benfica ao jornal Nemzeti Sport.

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A noite em que Fehér caiu (contada por quem lá esteve)

Fehér está há duas décadas a ser recordado pela simpatia e pela habilidade de permanecer longe dos conflitos. No dia 25 de janeiro de 2004, quando caiu inanimado, Olegário Benquerença, apanhado de surpresa como todos, não viu sustentação suficiente nos regulamentos que permitisse dar o jogo como terminado quando o húngaro caiu no chão. Só mais tarde a morte foi anunciada.

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“O regresso da equipa a Lisboa foi terrível, o silêncio só foi interrompido pelos soluços”, disse Fernando Seara que garante que 20 anos não são suficientes para esquecer o antigo jogador. “A tragédia de Miklós Fehér não pode ser processada”. O funeral acabaria por ser realizado em Győr, na Hungria.

Tiago foi um dos rostos mais emocionados quando Miki, como era conhecido, caiu no relvado. O antigo médio foi um dos jogadores que alinhavam no Benfica naquela temporada a recordar Fehér num vídeo partilhado pelos encarnados: “Lembrar-me do Miki é lembrar-me de uma pessoa muito especial, de um jogador fantástico, mas uma pessoa muito simples e alegre”.