Um conjunto de credores da Farfetch, apresentado como Ad Hoc Group e que diz representar mais de 50% das obrigações da empresa com maturidade em 2027, quer tentar travar a aquisição pelos coreanos da Coupang anunciada a 18 de dezembro. Num comunicado feito esta sexta-feira, no qual não são identificados os credores, é dito que, como primeiro passo, é declarado o incumprimento (default) das obrigações “para que tenham de ser pagas imediatamente”.
É explicado que o incumprimento resulta da suspensão da negociação e retirada das ações da Farfetch da bolsa de Nova Iorque, devido à proposta de compra apresentada pela Coupang. Em dezembro, a empresa de comércio eletrónico de luxo advertiu que os investidores da empresa — que inclui vários trabalhadores cujos bónus eram pagos em ações — não conseguirão recuperar os montantes investidos.
É dito que o grupo nomeou a Pallas Partners para aconselhamento legal e o banco de investimento Ducera Partners para “avaliar urgentemente as opções para proteger os seus interesses face à destruição de valor que acreditam que será causada pelo avançar da venda à Coupang”, é possível ler.
O grupo de credores diz ter “preocupações graves” sobre como é que a Farfetch passou de uma liquidez de “mais de 800 milhões de dólares em agosto de 2023 para uma venda em aflição quatro meses mais tarde”. É ainda lembrado que, num consenso de analistas, “estimava-se que o valor da Farfetch excedia os 3 mil milhões de dólares”. A venda à Coupang prevê um empréstimo de 500 milhões de dólares e ainda a transferência de todos os ativos da empresa de José Neves, incluindo o New Guards Group e a Stadium Goods, para as mãos da empresa sul-coreana.
Perante este cenário, o grupo de credores diz estar “seriamente preocupado com a rápida e inexplicável deterioração da posição financeira da Farfetch entre agosto e dezembro de 2023”.
Com o acordo assinado entre a Farfetch e a Coupang, os credores consideram que há o “risco de tornar inviável que qualquer outra oferta surja com uma proposta” que possa trazer mais valor.
No mesmo comunicado, o grupo argumenta que “parece não ter havido transparência ou governança neste processo, que alegadamente terá deixado muitos parceiros do retalho de luxo da Farfetch desconfortáveis e a considerar quebrar laços”.
“O grupo acredita que este processo cria um precedente incrivelmente perigoso”, diz um porta-voz do grupo. “Permitir que esta transação seja concluída falha em maximizar o valor dos ativos da companhia, numa altura em que pelo menos três outras partes credíveis foram reportadas como estando interessadas em todas as partes do negócio”, cita o comunicado. O grupo “diz que está a ponderar de forma urgente os próximos passos”.
No início de janeiro, Bom Kim, CEO da Farfetch, enviou um email aos funcionários onde mostrou confiança de que a compra possa estar concluída até ao fim deste mês. O Observador contactou a Farfetch para tentar obter reação ao comunicado do grupo, sem sucesso até à publicação deste artigo.