Bruno Nunes é o único deputado do Chega despromovido por André Ventura, que na altura de escolher as listas de candidatos à Assembleia da República manteve nos mesmos lugares ou promoveu todos os outros que preenchem a bancada do partido. O partido defende-se dizendo que o lugar é elegível com base nas sondagens e o deputado não considera que tenha sido despromovido.
Depois de ter sido cabeça de lista por Setúbal nas eleições legislativas de 2022, Bruno Nunes, que é também vice-presidente da bancada, segue agora no sétimo lugar da lista de Lisboa, com três pessoas que atualmente não têm assento parlamentar à sua frente. Já no primeiro lugar por Setúbal segue agora Rita Matias, mandatária do partido e um dos rostos mais reconhecidos do Chega, que foi promovida do terceiro lugar por Lisboa para ser cabeça de lista no distrito de onde é natural.
Incompatibilizado com a distrital de Setúbal e visto por alguns internamente como alguém que quer fazer frente a André Ventura, Bruno Nunes foi um dos deputados com mais mediatismo na atual legislatura e acaba atirado para um lugar não elegível, sendo que habitualmente a referência é feita com base nos resultados das últimas eleições — como o Chega elegeu apenas quatro em Lisboa, o deputado não segue num desses lugares.
Na apresentação dos primeiros lugares pelo maior círculo nacional, durante a declaração no momento de entrega das listas, o próprio Ventura ignorou Bruno Nunes. “Eu encabeçarei a lista, Rui Paulo Sousa segue-se como número dois, a vice-presidente do partido Marta Silva será o número três da lista, o deputado Pedro Pessanha é o número quatro da lista e este é o número de deputados que já tínhamos por Lisboa”, começou por dizer André Ventura, fazendo uma distinção entre aquilo que habitualmente é a referência aos elegíveis. E prossegue para anunciar Ricardo Regalla em quinto, Felicidade Vital em sexto e a presença nas listas de “jovens deste partido como acontece com a Madalena [Cordeiro]”, que segue em oitavo. Pelo meio ficou exatamente uma não referência ao deputado Bruno Nunes, que está na sétima posição.
Em resposta ao Observador, fonte oficial do Chega defende que “o sétimo lugar é um lugar elegível, na medida em que todas as sondagens apontam para a eleição de 10 deputados no círculo eleitoral de Lisboa” e recusa a ideia de que há “qualquer afastamento do deputado, pois é expectável a sua eleição”.
Já Bruno Nunes, contactado pelo Observador, não vê o lugar que lhe foi atribuído como uma despromoção: “Sendo vereador em Loures considero que integrar a lista encabeçada por André Ventura num lugar que acredito que será eleito não é despromoção nenhuma, mas sim uma estratégia de analisarmos onde temos mais capital eleitoral… eu poderei capitalizar mais para o partido em consequência do meu trabalho enquanto deputado e vereador no distrito de Lisboa e Setúbal, um distrito mais jovem fica muito bem representado com a Rita Matias, nascida e criada no distrito.”
Nas redes sociais, onde partilhou uma fotografia com o líder do partido, disse ser com “grande honra, sentido de responsabilidade e missão” que aceitou o convite de André Ventura.
Quanto aos outros parlamentares, André Ventura repetiu todos os que foram cabeças de lista: Filipe Melo em Braga, Rui Afonso no Porto, Pedro Frazão em Santarém, Pedro Pinto em Faro, Jorge Valsassina Galveias, Pedro Pinto em Faro e Gabriel Mithá Ribeiro em Leiria. No último caso, o Observador sabe que até existiu uma avaliação depois de ter havido uma desavença do deputado com André Ventura — as pazes acabaram seladas, mas o líder do Chega não tem por hábito perdoar estas situações e acabou por fazê-lo.
Além destes nomes, os deputados Rui Paulo Sousa e Pedro Pessanha seguem exatamente nos mesmos lugares da lista por Lisboa e também Diogo Pacheco Amorim repete o segundo lugar pelo Porto.