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Quando o telemóvel tocou, perto das 14h30 de segunda-feira, Layan Hamada, de 15 anos, não deixou o outro lado falar. “Estão a disparar contra nós. O tanque está ao meu lado”, gritou, segundo o Washington Post. “Estás escondida?”, perguntou imediatamente Omar al-Qam, funcionário do Crescente Vermelho Palestiniano, em Ramallah. A resposta veio na forma de vários tiros e de um grito da jovem palestiniana, que soaram até a chamada ser cortada.
Com as mãos a tremer, Omar al-Qam ligou novamente, mas foi a prima, de seis anos, quem atendeu desta vez. “Estás no carro neste momento?”, questionou. “Sim”, respondeu ela, dizendo que tinha sido as única sobrevivente de um ataque levado a cabo pelo exército israelita.
An audio recording of the moment the child Layan Hamada, 15 years old, was shot while she was talking on the phone with the Palestinian Red Crescent crew asking for help. Layan was martyred and Hind, 6 years old, remained trapped inside the vehicle surrounded by occupation tanks… pic.twitter.com/xQEaRT6NRp
— أنس الشريف Anas Al-Sharif (@AnasAlSharif0) January 30, 2024
Segundo o jornal norte-americano, a família Hamada foi, na segunda-feira, à procura de um lugar seguro. Após ter ouvido as ordens das Forças de Defesa Israelitas (IDF, na sigla inglesa), que mandaram que o bairro localizado na cidade de Gaza fosse evacuado, Bashar, de 44 anos, e Anam, de 43, enfiaram os quatro filhos e a sobrinha, Hind, dentro do carro e seguiram viagem. No entanto, nunca chegaram ao destino.
De acordo com os depoimentos da criança de seis anos, que pegou no telemóvel para pedir ajuda, a família foi alvo de um ataque por parte de um “tanque” israelita, estando os tios e os primos mortos ao seu lado.
“Já tentaste acordá-los?”, perguntou ainda outra funcionária da associação. “Estou a dizer-te que estão mortos”, assegurou a criança, explicando que o tanque que tinha assassinado a família estava “cada vez mais próximo”.
“Não tenhas medo. Eles não vão magoar-te”, tentou acalmar a funcionária, aconselhando-a a “não sair do carro”. “Por favor, vem buscar-me. Vem buscar-me”, implorou Hind.
Perante este pedido, o Crescente Vermelho Palestiniano tentou localizar o carro onde estava a família, perto da Universidade Al-Azhar. O próximo passo era enviar uma ambulância até lá, mas para isso precisava de autorização das IDF.
Por volta das 15 horas de segunda-feira, a associação conseguiu estabelecer contacto com o Ministério da Saúde palestiniano em Ramallah, que articulava a passagem segura de paramédicos com o COGAT, organismo do Ministério da Defesa israelita, que confirmou ter recebido luz verde para o envio de uma ambulância.
O Crescente Vermelho Palestiniano enviou uma ambulância com dois paramédicos para o local e foi mantendo contacto com a menina de seis anos. “Ela praticou vários exercícios de respiração connosco e eu fui dizendo que estaríamos com ela não tarda”, relembrou Nisreen Qawwas, de funcionário, ao jornal norte-americano.
????The fate of the ambulance crew ????that headed yesterday to rescue the child Hind remains unknown until this moment.
⚠️PRCS completely lost contact with them for 24 hours.
Six-year-old Hind was trapped by Israeli tanks inside a vehicle and the occupation soldiers fired at it,… pic.twitter.com/XDOe08Y49G— PRCS (@PalestineRCS) January 30, 2024
Hind chegou a conseguir falar com a mãe, que estava escondida num abrigo em Gaza, tendo a “sua voz feito muita diferença” na postura da criança. No entanto, nem mesmo as palavras da mãe impediram que a sua voz começasse a “desvanecer”.
A menina palestiniana disse à mãe que estava a sangrar da mão e que tinha sangue no corpo, além de referir que estava esfomeada, com sede e cheia de frio.
Enquanto Hind relatava como se sentia, os paramédicos confirmavam, através de outra ligação, que já se encontravam perto do carro, tendo sido aconselhados a moverem-se lentamente. No entanto, numa questão de segundos, ambas as chamadas caíram.
As últimas palavras dos paramédicos foram que estava acontecer um “tiroteio pesado”. Já as de Hind foram “vem buscar-me”, que aconteceram perto das 19 horas. Desde então, não houve mais notícias da ambulância ou da criança. As IDF disseram que “não estavam familiarizada com a descrição do acidente”.