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Quando o telemóvel tocou, perto das 14h30 de segunda-feira, Layan Hamada, de 15 anos, não deixou o outro lado falar. “Estão a disparar contra nós. O tanque está ao meu lado”, gritou, segundo o Washington Post. “Estás escondida?”, perguntou imediatamente Omar al-Qam, funcionário do Crescente Vermelho Palestiniano, em Ramallah. A resposta veio na forma de vários tiros e de um grito da jovem palestiniana, que soaram até a chamada ser cortada.

Com as mãos a tremer, Omar al-Qam ligou novamente, mas foi a prima, de seis anos, quem atendeu desta vez. “Estás no carro neste momento?”, questionou. “Sim”, respondeu ela, dizendo que tinha sido as única sobrevivente de um ataque levado a cabo pelo exército israelita.

Segundo o jornal norte-americano, a família Hamada foi, na segunda-feira, à procura de um lugar seguro. Após ter ouvido as ordens das Forças de Defesa Israelitas (IDF, na sigla inglesa), que mandaram que o bairro localizado na cidade de Gaza fosse evacuado, Bashar, de 44 anos, e Anam, de 43, enfiaram os quatro filhos e a sobrinha, Hind, dentro do carro e seguiram viagem. No entanto, nunca chegaram ao destino.

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De acordo com os depoimentos da criança de seis anos, que pegou no telemóvel para pedir ajuda, a família foi alvo de um ataque por parte de um “tanque” israelita, estando os tios e os primos mortos ao seu lado.

“Já tentaste acordá-los?”, perguntou ainda outra funcionária da associação. “Estou a dizer-te que estão mortos”, assegurou a criança, explicando que o tanque que tinha assassinado a família estava “cada vez mais próximo”.

“Não tenhas medo. Eles não vão magoar-te”, tentou acalmar a funcionária, aconselhando-a a “não sair do carro”. “Por favor, vem buscar-me. Vem buscar-me”, implorou Hind.

Perante este pedido, o Crescente Vermelho Palestiniano tentou localizar o carro onde estava a família, perto da Universidade Al-Azhar. O próximo passo era enviar uma ambulância até lá, mas para isso precisava de autorização das IDF.

Por volta das 15 horas de segunda-feira, a associação conseguiu estabelecer contacto com o Ministério da Saúde palestiniano em Ramallah, que articulava a passagem segura de paramédicos com o COGAT, organismo do Ministério da Defesa israelita, que confirmou ter recebido luz verde para o envio de uma ambulância.

O Crescente Vermelho Palestiniano enviou uma ambulância com dois paramédicos para o local e foi mantendo contacto com a menina de seis anos. “Ela praticou vários exercícios de respiração connosco e eu fui dizendo que estaríamos com ela não tarda”, relembrou Nisreen Qawwas, de funcionário, ao jornal norte-americano.

Hind chegou a conseguir falar com a mãe, que estava escondida num abrigo em Gaza, tendo a “sua voz feito muita diferença” na postura da criança. No entanto, nem mesmo as palavras da mãe impediram que a sua voz começasse a “desvanecer”.

A menina palestiniana disse à mãe que estava a sangrar da mão e que tinha sangue no corpo, além de referir que estava esfomeada, com sede e cheia de frio.

Enquanto Hind relatava como se sentia, os paramédicos confirmavam, através de outra ligação, que já se encontravam perto do carro, tendo sido aconselhados a moverem-se lentamente. No entanto, numa questão de segundos, ambas as chamadas caíram.

As últimas palavras dos paramédicos foram que estava acontecer um “tiroteio pesado”. Já as de Hind foram “vem buscar-me”, que aconteceram perto das 19 horas. Desde então, não houve mais notícias da ambulância ou da criança. As IDF disseram que “não estavam familiarizada com a descrição do acidente”.