Mais um encontro na Champions, mais um marco na carreira. Pep Guardiola não conseguiu vencer todos os desafios que teve pela frente, nomeadamente sagrar-se campeão europeu na passagem pela Alemanha, mas chegava em Copenhaga aos 900 jogos como técnico entre Barcelona (A e B), Bayern e Manchester City com a maior percentagem de sucessos: 654 vitórias, 138 empates, 107 derrotas, 2.217 golos marcados, 704 sofridos e 72,75% de triunfos. Ainda assim, tal como quando assumiu o comando da equipa secundária dos catalães, havia algo intacto que nunca mudou – a vontade de potenciar os seus jogadores. Phil Foden, que de acordo com vários estudos que têm sido feitos por publicações inglesas está a ser trabalhado para assumir um papel como Lionel Messi tinha no Barça, é um exemplo disso mesmo. Erling Haaland, outro. Ou o principal.

As caras de Guardiola e de Alf-Inge disseram tudo: como Haaland foi melhor do que Messi em tudo menos no desempate

Apesar de ter sido o “herói” do último triunfo do Manchester City com dois golos no segundo tempo frente ao Everton, o treinador espanhol não se esqueceu da primeira parte do avançado e de um sinal que não gostou. “Esses dois golos vão ajudá-lo muito a limpar a cabeça. A linguagem corporal dele no primeiro tempo não foi boa e no segundo melhorou imenso. Quando ele consegue marcar, o seu estado de espírito é diferente. A partir daí faz mais movimentos e um pouco de tudo, melhora. Tem de aprender que se não conseguir marcar deve manter a mesma linguagem corporal certa, com a mentalidade positiva de quem pensa ‘Ok, o golo vai chegar, o golo vai chegar'”, comentou Guardiola depois da última vitória na Premier League, numa ideia que acabou por levar a um trabalho do The Athletic sobre importância da linguagem corporal para Pep.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Parece que estou a queixar-me do Erling mas estava a falar apenas em termos gerais. Quantos jogos é que ele jogou e quantos golos marcou? A linguagem corporal não será um problema. Ele é novo, joga na posição mais complicada do terreno em que está rodeado de quatro ou cinco jogadores com pouco espaço. Sendo ele tão novo, só tem de estar positivo neste momento. Quando ele marcou um golo teve aquela reação mas não precisa de ser assim porque ele faz tantas coisas por nós… Quer competir, quer marcar. Se ele não marcar num jogo, se ele não marcar nos dez primeiros minutos, está tudo bem porque acreditamos no processo e a equipa vai sempre beneficiar quando ele aparecer”, acrescentou o técnico espanhol.

Pep Guardiola continua rendido a Bernardo: “Sem brincos, sem tatuagens, um carro normal, tão inteligente… Dos melhores que já vi na vida”

Era neste contexto especial que Haaland regressava à Liga dos Campeões, prova em que levava 40 golos em 35 jogos “que nem o Lionel [Messi] ou o Cristiano [Ronaldo] tinham com aquela idade”. E era neste contexto que funcionava como principal arma de um Manchester City desconfiado na deslocação a Copenhaga. “A minha experiência diz-me que a primeira mão dos oitavos é sempre manhosa. É sempre difícil, exceto quando ganhámos contra o Sporting mas tivemos cinco remates à baliza e marcámos cinco golos”, recordara antes da partida na Dinamarca. No plano teórico, Guardiola voltou a acertar; na forma de chegar ao triunfo, nem por isso. E se Haaland acabou por fazer um atípico jogo em branco, Bernardo Silva voltou a aparecer com o décimo golo consecutivo na Champions sempre em encontros a eliminar. No jogo 900 de Pep Guardiola, a linguagem corporal do português em campo voltou a não enganar e fez jus a todos os elogios do técnico espanhol, que descreve o esquerdino como um dos melhores jogadores que já treinou na carreira.

A primeira parte da partida, marcada pela saída por lesão de Jack Grealish (e com aspeto de não ser algo de rápida resolução…), mais não foi do que um ataque do rolo compressor que gripou por uma vez mas depois não demorou a retomar o mesmo ritmo: Rúben Dias viu Grabara negar-lhe o primeiro golo com uma defesa em cima da linha (6′), Kevin de Bruyne inaugurou o marcador após assistência de Phil Foden num remate cruzado descaído sobre a direita (10′), Vavro teve um desvio para a trave da própria baliza (25′), Bernardo Silva aproveitou uma insistência de Kevin de Bruyne para ganhar uma segunda bola na área e marcar (45+1′) e o encontro só não chegou ao intervalo resolvido porque Ederson mostrou um excesso de confiança a jogar com os pés de tal forma displicente que Mattsson aproveitou para marcar (34′).

O segundo tempo não trouxe grandes mudanças em relação aos 45 minutos iniciais, com Grabara a tirar mais um golo a De Bruyne num remate de meia distância, mas o Copenhaga do ex-benfiquista Diogo Gonçalves ia tentando sempre que possível meter transições que pudessem encontrar desequilíbrios defensivos da equipa inglesa. Não encontraram. E ainda antes da saída de Bernardo Silva após uma pancada forte que o deixou a coxear para a entrada de Matheus Nunes, Grabara voltou a evitar um remate perigoso de Doku e Haaland ainda fez a bola tocar na trave de cabeça. O resultado parecia feito, numa desvantagem mínima lisonjeira para os dinamarqueses, mas ainda havia tempo para um último golo do Manchester City, com Kevin de Bruyne, o MVP do encontro a mostrar que fisicamente está cada vez mais próximo do melhor após meses de ausência, a fazer mais uma assistência para o remate na passada de Phil Foden para o 3-1 (90+2′).