O futuro foi lá atrás. Basta olhar para as passadeiras vermelhas do presente, a começar pela parada robótica que brilhou na estreia mundial de “Dune:Parte II”. O elenco da longa-metragem dirigida pelo canadiano Denis Villeneuve percorreu uma red carpet que em vez de vermelho se encheu de areia, e coube a Zendaya um dos momentos mais impactantes da noite.
Com styling a cargo de Law Roach, a premiada atriz resgatou uma criação icónica do designer francês Thierry Mugler, que morreu em janeiro de 2022, aos 73 anos. O look vintage, saído da coleção outono/inverno “Cirque d’Hiver’, de 1995, e que à época celebrou duas décadas da sua marca, é uma ilustre armadura de alta-costura, ou fato cromado, revelador das formas e com as devidas zonas a descoberto.
A atriz elevou o nível de brilho da proposta com uma gargantilha de diamantes e uns stilettos não menos reluzentes. Roach, citado pela Harper’s Bazaar, resume o trabalho de styling num “guarda-roupa do Método”, numa alusão à composição do trabalho do ator, que neste caso se estende aos visuais distópicos bem ao estilo de “Dune”.
Batizado precisamente de “Robot Couture”, o fato prateado ciborgue (que levou seis meses a ser feito) tem viajado por diferentes mostras, como a passagem, em 2006, por Nova Iorque, no Instituto Tecnológico da Moda, quando se juntou à exposição “Love and War: The Weaponized Woman”. Tendo como ponto de partida Joana d’Arc, as peças exibidas contrariavam objetificações e exploravam forças e vulnerabilidades da figura feminina, cuja silhueta se deixa aqui embrulhar por uma autêntica armadura.
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”EXTREME BEAUTY: The Body Transformed” no Metropolitan Museum of Art’s Costume Institute pode ser a melhor pesquisa de moda. É ao mesmo tempo uma celebração e uma acusação de moda. Revela tanto a arte quanto a perversidade dos estilistas. Demonstra a poderosa atração e coerência estética criadas pelos ideais de beleza física. No entanto, como esses ideais tendem a dizer respeito ao sexo mais justo, a série também expõe sua ligação com a misoginia e a autoaversão.”, apontava em 2001 o The New York Times, a propósito da inauguração no Museu Metropolitan que revisitou criações como a de Thierry. “Claro, podemos imaginar usos limitados para essas criações — uma peça pós-moderna de Noh, pornografia de ficção científica e um baile surrealista, respectivamente. Mas, em geral, as roupas aqui são sobre a função de frustração da forma.” Mas depois viria uma estreia de Dune. E Zendaya, claro.
Anos mais tarde aliás, duas décadas depois do desfile que ficou conhecido como “Woodstock da Moda”, o Times rendia-se a este momento épico, que contou até com a atriz Tippi Hedren, estrela de Alfred Hitchcock, o makeup artist Kabuki, e ainda Nadja Auermann, que usou um bodysuit dourado.
“De Carmen Dell’Orifice a Naomi Campbell, a nata das supermodelos caminhou ao lado de estrelas porno, artistas drag e um elenco brilhantemente diversificado de mulheres carismáticas de fora da indústria.”, sentencia a revista Hero, e sublinhando como o fato ciborgue roubou todos os louros. “Ele [Mugler] havia experimentado couraças de metal e disfarces de ficção científica alguns anos antes disto, inspirando-se em artistas como Hajime Sorayama e os seus “robôs sexy”, mas isto estava muito à frente”. Sex appeal e alta-costura davam assim as mãos em Paris, num evento que contou com atuação de James Brown.
As inspirações na atmosfera “Metropolis” e o registo visionário de Mugler revelaram-se recentemente também ao vivo, caso da Renaissance Tour da diva Beyoncé, cujos figurinos bebem desse imaginário futurista do criador gaulês, cujos imaginários extravagantes seriam derrubados pelo minimalismo que ganhou terreno no final dos anos 90.
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Imponente, porém pouco prática, a escolha de Zendaya para esta estreia mundial deu lugar mais tarde a um outro look, preto, também ele com etiqueta Mugler. Para esta ocasião, a escolha dos acessórios recaiu sobre joalharia vintage Bulgari.
Quanto a Timothée Chalamet, não escapou ao efeito metalizado nas calças, conjugadas com uma maxi t’shirt preta, um visual com o selo de Haider Ackermann. Também Austin Butler, outro dos nomes do elenco, optou por um pouco convencional fato preto, com longa cauda, numa versão Gucci. Já Florence Pugh surgiu em Valentino.
Depois de muita especulação nos últimos dias, confirmou-se que Anya Taylor-Joy, em Dior, também se junta ao elenco do filme.
