São um vício diário para milhares de portugueses, sobretudo para quem tem rendimentos mais baixos, e já existem medidas de sensibilização sobre a sua dependência. Mas a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) quer ir mais longe. A partir desta quarta-feira, estará na rua uma campanha que pretende sensibilizar os cidadãos para a adoção de comportamentos responsáveis no que toca ao jogo.

O mote para o reforço das medidas de prevenção do vício foi o estudo iniciado em 2022 pelo Centro de Estudos Sociais (CES) e a Universidade do Minho sobre o vício da raspadinha, que sinalizou cerca de 100 mil pessoas com problemas de jogo. Um dos objetivos do estudo é, desde o início, chegar a quem tem poder de decisão sobre o jogo, como o Governo e a Santa Casa da Misericórdia, que explora os jogos sociais. A campanha “saber parar também é ganhar”, lançada esta quarta-feira, já vem na sequência das conclusões dos investigadores.

Maioria dos jogadores de raspadinha tem rendimentos abaixo de 1000 euros. “São os pobres a financiar os mais pobres”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para isso, a SCML vai promover a mensagem em mupis, anúncios online, nas rádios e na televisão e recorrer a influenciadores nas redes sociais. É a primeira vez que a Santa Casa lança uma campanha deste género, que procura “sensibilizar as pessoas para adoção de comportamentos moderados”, refere fonte oficial, “no âmbito da prevenção, não apenas da adição do jogo, mas das várias dependências”.

A instituição refere ter manifestado logo aquando o lançamento do estudo do CES “preocupação e total empenho para aprofundar toda a sua política de jogo responsável e estreitar parcerias com diversas entidades para encontrar soluções de prevenção e combate às adições dentro de um quadro de saúde mental mais alargado, numa perspetiva de melhoria continua do trabalho que tem vindo a desenvolver”.

No que toca à promoção do “jogo responsável”, a Santa Casa prevê ainda, em 2024, estabelecer uma parceria com o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD) e rever e atualizar os “processos e procedimentos na área do jogo responsável, tendo por base a experiencia e partilha adquirida nos diversos grupos de trabalho nacional e internacional” como as Associações Europeia e Mundial de Lotarias.

Dependência da raspadinha: “A própria sociedade vai exigir soluções. O que não queremos é que os estudos fiquem na gaveta”

Ainda na missão de combate às dependências, a instituição liderada por Ana Jorge prentende, ao longo do ano, instalar novos terminais de jogo nos pontos de venda. Estes vão incluir, refere a SCML, “diversas inovações tecnológicas, nas quais se incluem a possibilidade de leitura de cartões de identificação pessoal (por exemplo, Cartão de Cidadão)”. Estes terminais “irão reforçar os procedimentos existentes que auxiliam os Mediadores na verificação da idade dos Apostadores” e podem trazer outra novidade: a “futura utilização de um cartão de Apostador, que se pretende implementar”.

Também ao longo do ano a Santa Casa quer implementar “novas funcionalidades que permitem aos Apostadores terem informação sempre disponível, sobre o seu histórico de apostas, valores apostados e prémios, em toda a rede de Mediadores dos Jogos Santa Casa”.

Já para 2024/2025, está prevista a renovação do Portal Jogos Santa Casa para incluir “novas funcionalidades de Jogo Responsável como, por exemplo, a possibilidade de os Apostadores definirem os seus limites de gastos, disponibilizando-lhes assim um serviço cada vez melhor e mais responsável”.

Os Jogos Santa Casa têm ainda em preparação, refere a instituição, “uma campanha sobre as recomendações gerais de jogo responsável”, que está em fase de ultimação de “desenvolvimento criativo”, e que terá o contributo do  Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

Segundo dados oficiais da Santa Casa, entre as medidas de prevenção já em vigor encontram-se, por exemplo, informações sobre as características dos jogos nos pontos de venda, a formação de colaboradores e mediadores, que em 2023 chegou a 18.330 pessoas, e mecanismos de proteção e autoproteção dos apostadores, como um limite diário de 300 euros de carregamento do cartão de jogador do Portal Jogos Santa Casa, além de que não são aceites cartões de crédito.

Existe ainda uma Linha de Apoio Jogo Responsável (LAJR), que em 2023 recebeu 317 contactos, dos quais, 150 foram alvo de apoio psicológico.

O V Inquérito Nacional aos Comportamentos Aditivos (2022), realizado pelo SICAD e citado pela Santa Casa refere que entre a população que tem entre 15 e 74 anos onde há prevalência de jogo, os comportamentos problemáticos abrangem 1,8% dos jogadores.

Raspadinhas. CES promove estudo a um “imposto regressivo” onde há “responsabilidades públicas”