O secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) defendeu, esta terça-feira, que o clima tem de ocupar um lugar central em qualquer programa de desenvolvimento e financiamento da resiliência dos países africanos.
“Em qualquer área de desenvolvimento, qualquer programa tem de conter disposições sobre mais resiliência climática, temos de encontrar mecanismos inovadores de financiamento, como a troca de títulos de dívida por investimentos climáticos e obrigações verdes ou azuis para financiar o desenvolvimento”, disse Claver Gatete, referindo-se à emissão de dívida com objetivos ambientais.
Na conferência de imprensa que assinala o encerramento da reunião dos ministros das Finanças africanos, que decorreu em Victoria Falls, no Zimbabué, o responsável defendeu que África tem de ter uma voz unificada nos encontros internacionais em que se debate a reformulação da arquitetura do sistema financeiro global e insistiu que o atual modelo não serve os interesses de África.
Respondendo a uma questão da Lusa sobre o grau de confiança na realocação dos Direitos Especiais de Saque emitidos pelo Fundo Monetário Internacional para dar liquidez aos países mais necessitados, Claver Gatete mostrou-se esperançado que os próximos Encontros da Primavera, em Washington, possam ser um passo nessa direção.
“Só podemos estar confiantes sobre aquilo que controlamos, nós só recebemos 4% do total dos 650 mil milhões de dólares emitidos pelo FMI, e o pedido de África é permitir que o dinheiro seja realocado dos países mais ricos que não precisam, para os bancos multilaterais de desenvolvimento, que podiam alavancar as verbas recebidas por três ou quatro vezes”, explicou o líder da UNECA.
Esta realocação “podia resolver o problema agora” enquanto se procuram “soluções de longo prazo, porque o Banco Africano de Desenvolvimento e o Banco Interamericano de Desenvolvimento conhecem bem o negócio do financiamento e são capazes de atrair mais dinheiro do setor privado e emprestar a taxas concessionais aos países africanos”, acrescentou Claver Gatete.
O responsável concluiu que as propostas estão a ser apresentadas e que “a esperança é que nos próximos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial haja alguma decisão sobre a direção que se pode seguir relativamente a esta questão”.
A reunião dos ministros das Finanças, a primeira desde que a União Africana ganhou um lugar permanente no G20, serviu para definir a posição africana, que será depois debatida no Fórum Regional Africano sobre o Desenvolvimento Sustentável, em abril, e levada pela União Africana à Cimeira do Futuro, em setembro, nas Nações Unidas.