O primeiro-ministro peruano Alberto Otarola anunciou a demissão por suspeita de tráfico de influências, na sequência da divulgação de gravações áudio na imprensa.
“Numa conversa com a Presidente da República, anunciei a minha decisão de me demitir”, declarou Otarola numa conferência de imprensa, na terça-feira.
Nas gravações, que foram transmitidas no fim de semana no programa Panorama da Panamericana Television, Otarola fala carinhosamente com uma mulher de 25 anos, Yazire Pinedo, que este ano ganhou dois contratos no valor total de cerca de 13 mil euros para fazer trabalho de arquivo e administrativo para o governo.
“Diz-me, então, meu amor, para podermos falar”, diz uma voz que se supõe ser a de Otarola. “Tu sabes que estas coisas são chatas, que são uma chatice, mas também sabes que eu te amo”, referindo-se aparentemente à burocracia envolvida na obtenção destes contratos.
Otarola negou qualquer violação da legislação laboral peruana ou qualquer outro ato ilícito e atribuiu a divulgação das gravações a adversários políticos. “Submeter-me-ei, naturalmente, a todas as investigações, mas o parecer dos peritos será absolutamente claro quanto à forma grosseira como estas gravações foram editadas e apresentadas ao público”, afirmou, na conferência de imprensa.
Na segunda-feira, na rede social X (antigo Twitter), Otarola disse compreender “a gravidade das circunstâncias políticas”, mas repetiu não ter feito “nada de ilegal“.
En relación al informe difundido por Panorama, que aclararé cuando pise suelo peruano, comunico que, como ha dispuesto la presidenta Dina Boluarte, adelanto mi regreso a Perú. Entiendo la gravedad de la coyuntura política, pero reitero que no he cometido ningún acto ilegal.
— Alberto Otárola (@AlbertoOtarolaP) March 4, 2024
Yazire Pinedo disse que as conversas divulgadas datavam de 2021, antes de Otarola ser ministro, com quem reconheceu ter mantido uma breve relação.
O Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação sobre tráfico de influências, enquanto os partidos da oposição foram unânimes em pedir a demissão de Otarola, de 57 anos, casado e pai de cinco filhos, e no cargo desde dezembro de 2022.