A Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, chegou ao fim de 2023 com uma subida dos lucros de 28,2% face ao ano anterior. A retalhista, cujo principal negócio está na Polónia, registou um resultado líquido de 756 milhões de euros, que compara com os 590 milhões de 2022. As vendas cresceram 20,6% e ultrapassaram os 30 mil milhões de euros.

O Conselho de Administração da Jerónimo Martins vai propor à Assembleia Geral de Acionistas o pagamento de um dividendo de 0,655 euros por ação, o que representa um aumento de 19,1% face ao ano anterior, em que pagou 0,55 euros por ação.

O grupo registou um EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) de 2,2 mil milhões de euros, mais 17% face a 2022.

Em Portugal, onde detém o Pingo Doce e o Recheio, o contexto de consumo foi “frágil” devido à elevada inflação. As vendas do Pingo Doce aumentaram 7,9% para 4,9 mil milhões de euros. Já o Recheio teve um “forte crescimento” das vendas, motivado pelo turismo, de 15,1% para 1,3 mil milhões de euros.

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Para este ano, a Jerónimo Martins diz que “persistem sinais de pressão sobre as famílias relacionados com taxas de juro elevadas, esperando-se, por isso, que o consumo continue pouco dinâmico”. A empresa prevê remodelar entre 60 a 80 lojas Pingo Doce em 2024 e inaugurar 10 novas localizações.

Na Polónia, as vendas da Biedronka aumentaram 18,2% para 21,5 mil milhões de euros, o que representa cerca de 70% das vendas totais do grupo Jerónimo Martins. Já na Colômbia, em moeda local, as vendas subiram 42,7% para 2,4 mil milhões de euros.

Administração da Jerónimo Martins propõe distribuição de 345,6 milhões de euros em dividendos

Na nota que acompanha a apresentação de resultados, Pedro Soares dos Santos, CEO da retalhista, destaca que em 2023 o grupo cresceu “acima dos mercados em que operamos” e antecipa que este ano “a deflação alimentar que estimamos para o 1.o semestre” será o “maior desafio” do grupo. “Uma deflação que tenderá a levar à priorização do crescimento dos volumes por parte de todos os retalhistas e, consequentemente, a uma crescente intensidade concorrencial nos mercados em que operamos”.

Soares dos Santos nota ainda o “contexto de grande incerteza associada às tensões geopolíticas crescentes e de pressão acrescida para o negócio resultante da perigosa combinação entre a deflação alimentar e a elevada inflação de custos”.

Na missiva, no que toca às perspetivas para 2024, Soares dos Santos refere que o grupo opera desde o final do ano passado com deflação em categorias como carne, fruta ou vegetais, e que nesta altura “enfrenta um período no qual se conjuga, numa intensidade sem precedentes, uma rápida redução dos preços de venda com uma elevada inflação de custos, o que irá continuar a pressionar as nossas margens”.

Para a inflação nos custos contribuem, “essencialmente, e, desde já, a subida dos salários e das rendas nos países em que operamos e, em menor grau, as circunstâncias específicas de cada país no que toca a outras linhas de custos”.

O CEO da Jerónimo Martins destaca ainda o contexto geopolítico atual “marcado por instabilidade e complexidade”, e em que “a União Europeia tem perdido influência e competitividade, com o seu quadro regulatório cada vez mais intricado e burocrático a tirar capacidade às empresas europeias para competir à escala mundial com as suas congéneres asiáticas ou norte-americanas”.

No quadro dos eventos que vão influenciar o ano, Soares dos Santos ressalva as eleições para o Parlamento Europeu e, sobretudo, as presidenciais nos Estados Unidos, para onde estão viradas “todas as atenções” e “cujo desfecho é, para já, incerto, podendo ditar um volte-face em termos geopolíticos. É, assim, difícil e prematuro, neste momento, antecipar como se comportarão as economias mundiais de referência e como isso influenciará os mercados em que operamos”, conclui.

Em 2024 a Jerónimo Martins conta investir 1,2 mil milhões de euros, sendo uma parte “investimento inicial para lançar a operação na Eslováquia, cujas primeiras lojas deverão abrir no final deste ano”.