A semana do universo do Benfica não foi fácil. Depois da derrota em Alvalade com o Sporting e da goleada no Dragão com o FC Porto, os encarnados foram forçados a baixar a cabeça e a perceber o que correu mal contra os dois principais rivais, o que tem de correr melhor até ao final da temporada e quais são as verdadeiras prioridades para os próximos meses.

Pelo meio, uma única palavra sobrevoou todo o processo de luto: desculpas. Na sequência da goleada sofrida no Dragão, Roger Schmidt não quis pedir desculpa aos adeptos, garantindo que a equipa não fez “de propósito”, Rui Costa assumiu o papel de pedir desculpa aos adeptos, Fredrik Aursnes defendeu que é “claro” que o plantel tem de pedir desculpa aos adeptos e até Rúben Amorim, do outro lado da Segunda Circular, foi questionado sobre se pedia desculpa aos adeptos se estivesse na mesma posição. E, mesmo com todo esse contexto, o treinador alemão manteve a opinião.

Ficha de jogo

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Benfica-Rangers, 2-2

Oitavos de final da Liga Europa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Tobias Stieler (Alemanha)

Benfica: Trubin, Alexander Bah (Álvaro Carreras, 84′), António Silva, Otamendi, Fredrik Aursnes, Di María, Florentino, João Neves, David Neres (Tiago Gouveia, 84′), Rafa, Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 65′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, André Gomes, Morato, Kökçü, Tengstedt, João Mário, Benjamín Rollheiser, Tomás Araújo, Diogo Spencer

Treinador: Roger Schmidt

Rangers: Jack Butland, James Tavernier, Connor Goldson, John Souttar, Rıdvan Yılmaz, Mohamed Diomande (Nicolas Raskin, 84′), John Lundstram, Dujon Sterling (Ryan Jack, 77′), Tom Lawrence (Kemar Roofe, 77′), Fábio Silva (Ross McCausland, 90+1′), Cyriel Dessers (Kemar Roofe, 77′)

Suplentes não utilizados: Robby McCrorie, Scott Wright, Ben Davies, Borna Barišić, Leon King, Johnly Yfeko, Robbie Fraser

Treinador: Philippe Clement

Golos: Tom Lawrence (7′), Di María (gp, 45+2′), Dujon Sterling (45+5′), Connor Goldson (ag, 67′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Dujon Sterling (27′), a Di María (34′), a Jack Butland (45+2′), a Rıdvan Yılmaz (67′), a Alexander Bah (72′)

“Acho que isto é assunto vosso. Não chega pedir desculpa, temos de mostrar uma reação. Foi isso que disse depois do jogo. Claro que lamento pelos adeptos, estamos aqui para fazer os benfiquistas felizes. Mas não podemos alcançar os nossos objetivos a pedir desculpa, temos de o demonstrar em campo. Precisamos de mostrar uma reação, de jogar bom futebol, de defender de maneira sólida para conseguirmos um bom resultado e levá-lo para Glasgow. Temos de demonstrar que o Benfica tem de jogar um futebol de topo e foi isso que disse depois do jogo. Não estou a dizer que agora a minha atitude é diferente, mas quero mostrar que somos capazes de ter um desempenho diferente. É assim que sou”, atirou o técnico encarnado na antevisão da receção desta quinta-feira ao Rangers.

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Uma receção, na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, que servia precisamente para vincar essa “reação” — mas que também deixou clara a posição dos adeptos em relação às declarações de Roger Schmidt, com o quarto de hora inicial da partida a assistir à revelação de uma tarja nas bancadas da Luz onde se lia “pedir desculpa é humildade, arranjar desculpas é fraqueza”. Ora, assim, o treinador do Benfica deixava João Mário e Kökçü no banco, devolvia a titularidade a Florentino, Neres e Arthur Cabral e também tinha Alexander Bah de volta, com Aursnes a assumir a esquerda da defesa. Do outro lado, num Rangers que vinha de uma derrota que colocou um fim a uma série de 10 vitórias consecutivas, sublinhava-se a presença do português Fábio Silva e do capitão goleador James Tavernier.

Numa primeira parte disputada debaixo de muita chuva, o Benfica até rompeu com um péssimo hábito recente e começou melhor, com Neres a ficar desde logo muito perto de marcar com um remate cruzado na área que Jack Butland defendeu (4′). Os encarnados atuaram no último terço adversário durante os cinco minutos iniciais, procurando desde logo chegar à vantagem, mas acabaram por sofrer o primeiro golo na primeira vez em que o Rangers chegou perto da baliza de Trubin.

Fábio Silva e Diomande combinaram na esquerda, o costa-marfinense esticou o jogo até à linha de fundo e cruzou atrasado para o coração da grande área, onde Tom Lawrence apareceu completamente sozinho a cabecear para abrir o marcador (7′). Os escoceses procuraram aumentar a vantagem logo depois, com um remate do mesmo Lawrence que Trubin encaixou (10′) e outro de Rıdvan Yılmaz que passou por cima (11′), mas o Benfica reagiu bem ao golo sofrido e criou várias oportunidades para empatar.

Arthur Cabral teve uma nova ocasião, tentando aproveitar a recarga na sequência de outro remate de Neres que Butland defendeu (14′), Di María também permitiu a defesa do guarda-redes com um pontapé enrolado após enorme passe do mesmo Neres (38′) e o avançado brasileiro ficou perto de confirmar a exibição positiva com outro remate que o guardião do Rangers também defendeu (43′).

Ainda assim, e mesmo com uma superioridade clara que ficava evidente sempre que o Benfica acelerava o jogo, eram notórias as dificuldades da equipa na transição defensiva. Os encarnados atuam completamente partidos em dois blocos e os quatro elementos da frente — esta quinta-feira, Arthur Cabral, Di María, Rafa e Di María — praticamente não defendem, deixando os colegas muito suscetíveis a contra-ataques e incursões rápidas na profundidade.

O Benfica conseguiu chegar ao empate já nos descontos, com Di María a converter uma grande penalidade assinalada por mão na bola de John Souttar (45+2′), mas as fragilidades defensivas voltaram a ficar visíveis logo depois. Mesmo à beira do intervalo, numa jogada de insistência, Fábio Silva tirou um passe rasteiro venenoso para a pequena área e Dujon Sterling, vindo de trás e completamente sozinho, só teve de encostar para devolver a vantagem ao Rangers (45+5′) e levar os escoceses a ganhar para o balneário.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a lógica do jogo manteve-se, com o Benfica a ter mais bola, ainda que sem grandes consequências, e o Rangers a jogar no erro do adversário e à procura das transições rápidas. A superioridade dos encarnados intensificou-se com o avançar do relógio, até porque os escoceses iam descendo no terreno e entrando numa lógica clara de defender o resultado, mas a verdade é que as aproximações mais perigosas não culminavam propriamente em verdadeiras oportunidades de golo.

Do outro lado, de forma contrária, o Rangers criava uma ocasião sempre que chegava perto da baliza de Trubin e Fábio Silva ficou muito de aumentar a vantagem com um remate que o guarda-redes ucraniano defendeu junto ao poste (61′). Pouco depois, Roger Schmidt mexeu pela primeira vez, trocando Arthur Cabral por Marcos Leonardo, e o Benfica conseguiu chegar ao empate através de um autogolo azarado de Connor Goldson, que cabeceou em direção à própria baliza depois de um livre cobrado por Di María na direita (67′).

O Rangers subiu as linhas depois do golo sofrido, mas o Benfica continuava a dominar e estava totalmente instalado no meio-campo ofensivo — ainda que sempre sem grande acutilância ou critério no momento do passe decisivo. Philippe Clement fez as primeiras substituições nesta fase, lançando Ryan Jack, Kemar Roofe e Cole McKinnon de uma vez, Roger Schmidt ainda lançou Álvaro Carreras e Tiago Gouveia dentro dos últimos 10 minutos, mas o forcing final dos encarnados não teve frutos e já pouco aconteceu apesar do sufoco implementado pela equipa portuguesa.

No fim, o Benfica não foi além de um empate com o Rangers, somou o terceiro jogo consecutivo sem ganhar e vai decidir a eliminatória dos oitavos de final da Liga Europa na segunda mão, em Glasgow. Num dia em que os encarnados não foram brilhantes mas foram sempre superiores aos escoceses, João Neves voltou a ser o melhor elemento da equipa de Roger Schmidt e deixou bem claro que, apesar de já estar desculpado pelos adeptos, é o único que sabe o que significa pedir desculpa.