O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, destacou esta segunda-feira o papel de Portugal na proteção dos oceanos e agradeceu ao primeiro-ministro cessante, António Costa, pela “liderança” nessa matéria.

Numa cerimónia de doação de uma tapeçaria portuguesa para a exposição permanente da ONU, em Nova Iorque, Guterres citou o escritor português Vergílio Ferreira e enalteceu a relação de Portugal com o mar e com a preservação do mesmo.

“O escritor português Vergílio Ferreira disse uma vez: ‘Da minha língua vê-se o mar’. Portugal há muito que defende a cooperação global na proteção dos oceanos — inclusive como anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos de 2022, em Lisboa”, declarou o ex primeiro-ministro português.

“Agradeço ao primeiro-ministro, António Costa, pela sua liderança nesta matéria. Em tempos de grandes desafios, as Nações Unidas ficam felizes em contar com o vosso forte apoio ao multilateralismo e à solidariedade internacional”, acrescentou.

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António Costa encontrou-se esta segunda-feira com António Guterres na sede da ONU, em Nova Iorque, no âmbito da doação pelo Estado português de uma tapeçaria de Vanessa Barragão, denominada “Coral Vivo”, à organização internacional.

A tapeçaria, que “celebra a importância e riqueza dos recifes de coral, um ecossistema com a maior biodiversidade do mundo”, vai integrar a exposição permanente no edifício-sede das Nações Unidas e, com a doação, o Governo “pretende valorizar a participação ativa” do país na organização e o seu “papel cimeiro” na agenda dos oceanos, informou o gabinete de António Costa.

Guterres agradeceu a “generosa doação”, dando ênfase às técnicas artesanais tradicionais e aos materiais reciclados usados na obra, remetendo para as formas vibrantes e orgânicas do oceano.

“Tal como os fios delicados, mas resistentes desta tapeçaria, toda a vida neste planeta está entrelaçada numa rede intrincada e codependente. Os recifes de coral estão entre os habitats mais deslumbrantes, com maior biodiversidade e mais vitais do nosso planeta”, assinalou no seu discurso perante dezenas de pessoas.

“E, no entanto, estas maravilhas naturais enfrentam ameaças terríveis. As alterações climáticas e as temperaturas recordes dos oceanos estão a causar o branqueamento catastrófico e a mortalidade dos corais”, lamentou.

Descrevendo o impacto da destruição ambiental, o líder das Nações Unidas fez um contraste com a “esperança” transmitida pela tapeçaria de Vanessa Barragão, instando a que se repense a relação da humanidade com os oceanos, a que se adotem práticas sustentáveis e à preservação dos ecossistemas.

Por sua vez, António Costa focou o seu discurso nos múltiplos significados da tapeçaria hoje oferecida à ONU, entre eles o 25 de abril de 1974, “a data de fundação do Portugal moderno” e que garantiu uma mudança na visão de Portugal nas Nações Unidas.

“Uma das mudanças mais importantes trazidas pela Revolução é a forma como estamos nesta casa: Há 50 anos, Portugal estava quase isolado nas Nações Unidas, lutando contra a maré da História. Recordemos que entre 1961 e 1974, o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral aprovaram 57 resoluções contra o colonialismo português”, disse.

“Hoje, somos um país pacífico e aberto, defensor empenhado do multilateralismo. Há 50 anos, o sistema das Nações Unidas está no centro da nossa política externa”, assegurou o governante, acrescentando que “não poderia haver circunstância mais orgulhosa do que celebrar estes 50 anos com um português à frente da ONU”.

Dirigindo-se ao secretário-geral da ONU, o primeiro-ministro declarou que Guterres “orgulha-nos imensamente pelo seu trabalho, humanismo, coragem e retidão diante de cada desafio”.

“Este presente é também uma homenagem que Portugal presta às Nações Unidas e ao seu secretário-geral”, sublinhou Costa.

O primeiro-ministro cessante realçou ainda a relação entre o mar e a história, cultura e identidade de Portugal.

No encontro que manteve com Guterres, António Costa aproveitou para se “despedir” do secretário-geral, a quem agradeceu “a excelente colaboração ao longo destes últimos anos”. “Portugal foi e permanecerá um país empenhado no multilateralismo e na construção de um mundo mais justo, próspero e sustentável”, assegurou António Costa, numa publicação feita na sua conta do Instagram e onde publicou fotografias do momento privado que manteve com o líder da ONU antes da cerimónia.

A cerimónia de entrega da tapeçaria portuguesa à ONU contou ainda com uma apresentação musical da fadista Carminho.