Os sapatos, as meias e o telemóvel de Cuong Tran foram sugados para fora do avião, a quase 5000 metros de altitude, quando o Boeing 737 Max 9 da Alaska Airlines perdeu uma das portas de emergência durante o voo. Sentado uma fila atrás do “buraco” que o incidente causou, confessa que sentiu todo o corpo ser puxado por uma força abrupta. Em entrevista à BBC, mais de dois meses depois do episódio de 5 de janeiro, disse não ter dúvidas que foi ter o cinto de segurança apertado que o salvou, quando sentia que era ele o próximo a ser puxado “porta fora”.
“Foi provavelmente a primeira vez na minha vida em que senti que não tinha controlo sobre nada. Não acreditava naquilo que estava a acontecer”, disse, afirmando que olhou em volta e viu, nos outros passageiros, a mesma expressão incrédula. Tran é um dos sete passageiros que, após o incidente, abriu um processo contra a Boeing, a Alaska Airlines e ainda a Spirit AeroSystems.
A porta ter-se-á soltado pouco depois da descolagem e provocado a rápida despressurização da aeronave. As imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento em que o avião está ainda a voar, sem a porta, antes de aterrar de emergência no Aeroporto Internacional de Portland.
An Alaska Airlines flight made an emergency landing Friday night after a portion of the aircraft blew out mid-air. Video obtained by CBS News appeared to show one of the passenger window panels had been blown out. https://t.co/wKIOLENg3r pic.twitter.com/M00hT7HaPx
— CBS News (@CBSNews) January 6, 2024
Se aquele primeiro momento foi assustador, a espera pela aterragem não foi mais tranquila, assegura Cuang: “Dizem que demorou 30 minutos, mas pareceu muito mais tempo. Eu não tinha o meu telemóvel, não tinha qualquer noção de tempo, então fiquei sentado a olhar para o buraco o tempo todo, na esperança de que não houvesse danos maiores.”
Apesar de o episódio não ter sido mortal para nenhum dos passageiros, Cuong, de 40 anos, sofreu uma laceração na perna, razão que contribui fortemente para agora avançar com o processo contra a fabricante. Para além dos ferimentos, conta que o evento o deixou com “sério stress emocional, medo e ansiedade”. “O meu corpo está a recuperar, mas ainda tenho uma grande cicatriz na perna. Não sei se algum dia irá desaparecer”, disse.
Os autores das queixas exigem uma indemnização às empresas pelos danos causados, e querem que as mesmas sejam penalizadas. A Spirit Aerosystems, a Boeing e a Alaska Airlines já disseram que não vão comentar o processo. O advogado Timothy A Loranger disse, citado pela BBC News, que devido ao número de pessoas envolvidas, o processo poderia demorar ainda “alguns anos”, mas não desvaloriza a gravidade da situação.
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“A perna do Sr. Tran quase foi sugada para fora do avião, não fosse o cinto de segurança. É simplesmente assustador”, disse o advogado.
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