Jimmy Chérizier, o principal líder dos gangues que têm infligido uma onda de violência no Haiti que levou à demissão do primeiro-ministro, quer fazer parte das negociações políticas em curso para restaurar o governo.

A afirmação foi feita esta sexta-feira pelo próprio, numa entrevista ao canal de televisão Sky News onde, no entanto, deixou duras críticas aos atores políticos que fazem parte do conselho de transição que está a negociar o futuro do país.

“Acreditamos no diálogo, mas esta classe política que existe agora não está para dialogar”, afirmou Chérizier, também conhecido por “Barbecue”. “Não trazem o Haiti no coração como nós trazemos.”

O atual conselho de transição, promovido pelo governo dos Estados Unidos, inclui representantes de vários partidos haitianos e membros da sociedade civil, mas exclui qualquer pessoa que tenha cadastro (como Chérizier). Uma decisão que Barbecue diz ser “uma forma de ressuscitarem o mesmo sistema” que tem governado o Haiti durante anos, razão pela qual exige a sua participação no processo:  “Estamos prontos para todas as soluções, desde que os haitianos se possam sentar à mesa.”

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Chérizier é líder de uma das organizações criminosas que tem provocado o caos em Port-au-Prince ao longo do último ano e que, em fevereiro, bloqueou o aeroporto do país para impedir o regresso do primeiro-ministro Ariel Henry, que acabou por se demitir. Afirma-se, porém, como um líder político na senda de Che Guevara e Malcolm X, dizendo que o Haiti necessita de uma “revolução”.

Na entrevista à Sky News, Barbecue reconheceu que a situação atual do Haiti é problemática — “não estamos orgulhosos” —, mas voltou a defender que é necessário deitar abaixo o atual regime: “A diferença entre ricos e pobres é demasiado grande em todo o mundo, mas no Haiti é indecente”, disse.

Já quanto à possibilidade de o Quénia enviar forças de segurança para restabelecer a ordem no país, que está a ser discutida pelo conselho de transição, Chérizier prometeu combatê-las. “Estamos armados”, afirmou, garantindo que irá agir para impedir “massacres nas comunidades pobres” que estas forças poderiam vir a cometer. E tentou condicionar as negociações com uma ameaça: “Se [os quenianos] vierem, irei considerá-los agressores.”