Na terceira semana de novembro, quando o FC Porto tentava ainda a qualificação para os oitavos da Liga dos Campeões e não tinha uma distância tão grande para os dois primeiros lugares, Pinto da Costa, em entrevista à SIC, deixava explicações sobre o que se tinha passado na Assembleia Geral Extraordinária de dia 13, ainda ia mantendo o tabu em torno de uma eventual recandidatura e recusava sobretudo falar do novo “papel” de André Villas-Boas, antigo treinador campeão que se preparava para avançar com uma lista.

O omnipresente Villas-Boas, redes sociais e um balão de oxigénio a caminho: a entrevista de Pinto da Costa, nas entrelinhas

“Uma guarda pretoriana? Não faço ideia, o que existe é uma claque que tem os mesmos comportamentos de quando o André Villas-Boas era treinador do FC Porto. Quando acabam os jogos, os treinadores e jogadores vão cumprimentar a claque no fim dos jogos. Então nessa altura não era guarda pretoriana?”, referiu num primeiro momento. “Depois da sua passagem aqui, se falei com ele umas três vezes… Uma a entregar Dragão de Ouro. Ele até me ofereceu um relógio, que até é bonito, com uma grande dedicatória… Infelizmente, a última vez que o vi foi numa altura má, no funeral do Fernando Gomes. Daí para cá nunca mais o vi. As declarações dele? Não reajo, ele é que sabe. Surpreende-me mas não comento. Mágoa? Mágoa não vou dizer… Fico admirado, agora mágoa é quando nos morre alguém querido. Fico surpreendido, mas não comento. Tem direito como qualquer sócio com quotas em dia. Se divide os adeptos? Não faço ideia. Não quero comentar, nem as suas afirmações, nem nas redes sociais…”, acrescentou noutra fase da entrevista.

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“Os sócios vão ao Museu ver títulos, não vão consultar extratos”: a entrevista de Pinto da Costa (com AG, Sérgio, Villas-Boas e rivais)

Nessa altura, Pinto da Costa era claro. “O sócio 587 é o presidente do FC Porto e neste momento tem outras três preocupações grandes nesta altura”, atirava, projetando não só a chegada aos oitavos da Liga dos Campeões mas também a passagem dos capitais próprios para terreno positivo (ou próximo disso) e o início da construção da Academia na Maia. Eram essas as condições para avançar com uma 16.ª corrida eleitoral, foram essas as condições que confirmaram essa vontade. No entanto, mais de quatro meses depois, existe uma realidade diferente: a campanha aumentou o tom das acusações entre candidatos, a começar por Villas-Boas e o futebol perdeu gás no plano interno e europeu com uma eliminação cruel nas grandes penalidades frente ao Arsenal. E era isso que voltaria a ser conversado em nova entrevista à SIC esta segunda-feira.

“VAR devia preocupar-se em ser correto nas chamadas e não falsear resultados como hoje”, critica Pinto da Costa

Depois da derrota no Estoril, a terceira em quatro jogos realizados contra os canarinhos esta temporada, o FC Porto ficou a dez pontos do Sporting (que tem menos um jogo) e a nove do Benfica, colocando como missão quase impossível não só a chegada ao título mas também à terceira pré-eliminatória da Champions, que era uma espécie de mal menor nesta fase. No entanto, tudo aquilo que aconteceu no jogo na Amoreira foi marcando o universo azul e branco, das críticas do próprio Pinto da Costa à revolta de todos os elementos no relvado, passando pelo comunicado conjunto assinado pelos jogadores contra a arbitragem, estava ainda presente e seria um dos pontos de conversa no regresso à estação do presidente portista.

“O mínimo que podemos fazer é alçar a voz da nossa revolta”: jogadores do FC Porto assinam comunicado contra arbitragem no Estoril

“Se o momento pode influenciar as eleições? Entendo que não. O futebol tem condicionantes, toda gente viu como perdemos e as razões pelas quais perdemos. A equipa está bem, está forte, vai reagir e mostrar já na quarta-feira o seu real valor e não estou preocupado. Temos de ser realistas, em termos de título estamos praticamente fora da corrida. Não vamos inventar. Temos mais cosias para ganhar, uma Taça de Portugal que queremos vencer, vamos tentar ultrapassar as dificuldades do V. Guimarães, que está num bom momento. Hipóteses de ir à Liga dos Campeões? São poucas, isso ainda não é impossível mas são poucas, temos de ser realistas”, começou por dizer Pinto da Costa na entrevista à SIC esta noite.

“A partir do momento que apareceu uma candidatura, a arbitragem mudou, coincidência…”

“Tocou num ponto interessante que é ligar a arbitragem com as eleições. Em 2023, o FC Porto não teve razões de queixa, não foi prejudicado nem beneficiado. Foi de forma indireta, o Sporting ganhou ao Casa Pia e em Faro à custa da arbitragem mas foi com eles. Agora, a partir do momento em que apareceu uma candidatura do André Villas-Boas, a arbitragem mudou, coincidência… No Bessa tivemos a primeira sonegação de pontos com um penálti escandaloso, com o árbitro Manuel Oliveira e o VAR Rui Costa, os dois do Porto. A partir daí foi uma sucessão de erros, com o Rio Ave é marcado um penálti e um VAR também do Porto não mostra as imagens e é revertido, e também era do Porto, em Arouca mais um…”, referiu.

“O mínimo que podemos fazer é alçar a voz da nossa revolta”: jogadores do FC Porto assinam comunicado contra arbitragem no Estoril

“Não vou dizer que o problema do FC Porto é exclusivamente a arbitragem mas estou a ser objetivo, é só ver as imagens. É uma realidade. Eu liguei erros à candidatura? Não, foi o senhor que ligou isso às eleições, sem candidatos não há eleições… Em relação aos membros do Conselho de Arbitragem, conheço um ou outro de vista só. Em relação ao presidente, acho que é um homem sério e faz o melhor que pode. Se não houver tintas, o pintor não pinta. Digo que é uma coincidência e uma realidade”, reforçou o líder portista, sem concretizar a base dessa ligação causa-efeito e “aproveitando” a questão para falar em “coincidências”.

23 pontos a voar: o pior registo de Sérgio Conceição num FC Porto que é a equipa com mais vermelhos na Liga

“Este último jogo compreendo porque perdemos, era previsível. Foi arbitrado por um árbitro, que não estou a pôr em causa a seriedade, mas que três ou quatro dias antes fez uma arbitragem desprestigiante para o futebol português, inventou dois penáltis no mítico Bernabéu. O António Nobre não é tão mau como esteve no Estoril mas psicologicamente não estava em condições. Os jogadores brasileiro do FC Porto também me disseram isso, que foi uma vergonha, que estavam indignados. Estavam preocupados, os brasileiros no final mostraram isso. Comportamento dos jogadores? É fácil dizer que não concordo mas futebol é emoção e um indivíduo que sente que o jogo é dirigido daquela maneira, com tantas faltas na primeira parte sem amarelos e na segunda foram duas expulsões. O livre do golo é quase no limite da área descaído na direita mas foi marcado quase ao meio, parece que o Estoril era como queria. Na Liga dos Campeões era impossível aparecer assim um árbitro, sabe que está a ser dirigido por alguém com critério”, apontou.

“Turbulência do momento e rendimento da equipa? Olhe, vou fazer 42 anos de presidente e ganhei 2.566 títulos, 68 no futebol, sete internacionais. Temos mais títulos internacionais do que os outros todos juntos. A grande base, sempre com grandes treinadores que foram campeões. Até os que não foram campeões, como o Octávio Machado ou o Paulo Fonseca, ganharam a Supertaça. A base para isso foi a união dos sócios mas desde que apareceu este candidatura só quer dividir os sócios. Final europeia? Se não fossem os penáltis, podíamos ir já esta época. A divisão é bem visível. Ingratos ou não, cada um reage como quer. Há dois pontos: a candidatura do Luís André [Villas-Boas] e a minha. Na primeira, era o presidente dos presidentes, merecia uma estátua, tenho documentos dele a dizer que era um herói porque pensavam que não ia candidatar-me. A partir daí, está tudo mal. A Academia não vale nada já, agora querem passar lá para um galinheiro qualquer no Olival. Pronto, é isto, está tudo mal agora”, voltou a visar Pinto da Costa.

“É um sonho de há muitos anos, é uma promessa de há quatro anos”: Pinto da Costa apresenta projeto da Academia do FC Porto na Maia

“Parecia uma OPA da Sonae e da Olivedesportos sobre o FC Porto”

“Não houve afastamento nenhum, há muito tempo que não falava com ele. Quando era treinador tínhamos ótimas relações mas depois saiu. Eu era o presidente dos presidentes, agora está tudo mal. Mas não é o Luís André que tem culpa… Acho que ele foi empurrado para isto por quem tem outros interesses. Alguma vez o Joaquim Oliveira foi amigo do André? Não, é por causa dos direitos televisivos. A Olivedesportos pagava 15 ou 16 milhões pelos direitos e passámos para 45 milhões. A partir daí, a oferta da NOS era de 39 milhões. De 2020 para cá houve uma coisa que mudou. Quando disse que ficava tranquilo com Rui Moreira, Villas-Boas ou António Oliveira como presidentes, era porque iam para lá defender os interesses do FC Porto. Eu só me candidato depois de ver aquilo que parecia uma OPA da Sonae e da Olivedesportos sobre o FC Porto, percebi o que estava por trás da candidatura. Quando se anuncia uma superstar que foi empregado da Olivedesportos e da NOS, que não pode ir para a Direção porque só é sócio efetivo desde o final de 2023… Antes era sócio correspondente, não devia ter dinheiro… Era o grande amor ao FC Porto…”, acusou, nesta fase sempre a tratar Villas-Boas por “Luís André”, antes de falar também da família de José Maria Pedroto.

“Sou candidato por vós, não por elites, canais, operadores ou grandes empresas”, destaca Pinto da Costa entre vários “anúncios”

“São esses os interesses obscuros, os direitos. Basta ver a primeira fila da apresentação do André… O Joaquim Oliveira até é sportinguista, tem um camarote em Alvalade… Família de Pedroto? Já percebi o porquê de apoiarem a outra candidatura mas não digo. Não digo porque não quero, em homenagem à sua memória. A pensar no Pedroto. O único argumento que me foi dado… O professor José Neto foi o maior seguidor de Pedroto e no dia do seu aniversário faz sempre um evento no Dragão. Este ano, a família não pôs lá os pés. Mandei uma mensagem à filha, à doutora Isabel, a dizer que lamentava pelo passado e pela grandeza do nome do pai e ela disse que não ia a nada organizado pelo professor José Neto. Então ele depois explicou-me que escreveu um artigo na Bola a dizer que Bernardino Pedroto merecia o sangue que lhe corria nas veias… Mas que culpa é que eu tenho nisso? Nenhuma…”, contou a esse propósito Pinto da Costa.

Pinto da Costa visa Villas-Boas e não esquece Cecília Pedroto e a filha: “Só em março se lembraram que o FC Porto era o seu clube”

“Abraço de Sérgio Conceição? No meu entendimento foi um abraço amigo de quem sente o FC Porto, de quem vive e é sócio há muitos anos do FC Porto. E tenho a certeza que se for eleito, o que eu quero, é o Sérgio Conceição. Se tenho algum pacto com ele? Não digo, não digo… Plano B? Não tenho, só plano A. Operação Pretoriano? Eu estava preocupado com a Assembleia Geral e recomendei os maiores cuidados porque nunca tinha visto alguém a apelar ‘vão lá e filmem tudo’. Mas filmar o quê? E depois estava tudo no tal canal, tudo tratado… Nunca vi ninguém apelar, é porque sabem que vai acontecer alguma coisa. E a seguir vão a correr fazer queixa ao Ministério Público. Se Fernando Madureira traiu a minha confiança? Não. Não há nenhuma imagem que mostre o Fernando Madureira a agredir seja quem for, não há uma. Se calhar o apelo era para isso mas não há nem uma imagem. Claro que tenho de lamentar, fizemos um inquérito, quatro sócios foram suspensos e não tinham nada a ver com os Super Dragões…”, comentou o líder portista.

“Olhe, um dos sócios agredidos foi o meu motorista, o senhor Afonso, que depois me foi levar a casa… Não o vou visitar porque tem direito a um número limitado de visitas e tem família, pais, sogros, filhas… Mas não tinha problema nenhum. Ele matou alguém, roubou alguém? Dúvidas sobre as eleições? Olhe, agora sou eu que apelo: vão lá e filmem tudo, filmem tudo porque eu não vou ao Ministério Público fazer queixa de ninguém. Fernando Saul? O Conselho Fiscal é que deu as sanções aos sócios que temos provas que estiveram nos desacatos. Ele esteve de férias, estamos a chegar a um acordo para que saia. Sobre o Fernando Madureira, os Super Dragões é que têm de decidir… Qual foi o ato criminoso dele? Preparação daquilo? E quem disse para filmarem tudo? Por amor de Deus, pensem um bocadinho… A Justiça acha isso, então alguém que me explique o porquê de pedirem para os sócios irem lá e filmar. Não estou a apontar Villas-Boas nem nada, estou só a dizer que havia esse apelo para filmarem tudo…”, acrescentou o líder azul e branco.

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“A situação financeira está melhor do que em 2020, quando assinou a minha candidatura”

“Tenho uma equipa renovada. Fernando Gomes disse há pouco mais de um ano que queria sair, pedi para continuar até ao final do mandato porque havia questões pendentes e resolveu os problemas. Adelino Caldeira? Sair não quer dizer que deixam de ser da minha confiança, queremos é fazer outras coisas e isso faz com que queira renovar a equipa. Se a SIC quiser renovar, precisa de um motivo? É um ato de gestão normal, quando decidi candidatar-me fiz uma reunião, agradeci e disse que ia fazer uma nova equipa com uma outra orientação. A parte financeira vai ser toda renovada. Na sexta-feira foi apresentar a minha equipa completa, o meu CFO, tudo. A minha equipa financeira é de primeiríssima qualidade. Mas a situação financeira hoje é melhor do que há quatro anos, quando o Luís André assinou a minha candidatura. Agora, é melhor. Nessa altura os capitais próprios estavam muito negativos e agora estão quase positivos, daqui a um mês estão mais do que positivos”, apontou numa outra fase da entrevista mais virada para as eleições.

“Continuo a perguntar: querem mudar para quê? Querem perder? Se quiserem, mudem”, questiona Pinto da Costa

“Sei o que João Koehler pensa e quer fazer para o FC Porto, é isso que me interessa. Ele vem para servir o FC Porto. O mal que fez, sabe qual foi? Quando o clube estava com um problema de tesouraria, financiou com milhões de euros que já estão pagos. Curiosamente um dos que entrou foi o senhor Luís André Villas-Boas, mas logo na primeira renovação saiu logo. José Fernando Figueiredo, novo CFO? Olhe é só alguém que foi presidente do Banco de Fomento e o único português que é conselheiro do Banco Mundial. Foi uma honra ele ter aceitado. Não foi ‘olha, sais da NOS e vens para aqui’. Percebeu o projeto, reuniu-se connosco, aceitou e fiquei muito honrado com isso. Sei que têm um plano para diminuir o passivo, vai ter um financiamento de 250 milhões de euros a um juro muito mais baixo do que o nosso endividamento e tudo será apresentado. Quadrantis? O FC Porto trabalha com muita gente, só não trabalha com os portugueses. Podem dar, o Novo Banco deu ao Sporting, emprestar não. O Luís André diz mal de tudo”, voltou a criticar.

Sagasta 2, Quadrantis, Dragão, Porto Comercial e UEFA: a carta com 33 questões (sem resposta) de Villas-Boas a Pinto da Costa

“Ele consegue dizer mal de uma Academia que devíamos estar todos radiantes. Ele comprou um terreno a um amigo, que metade é proibido construir e a outra metade são os socalcos. A nossa Academia tem 11 campos de futebol, tem um mini estádio para 2.000 lugares, um hotel para 140 miúdos, está preparada para 800 pessoas trabalharem em simultâneo e quer comparar com isso? Vão cobrar-nos metade dos juros que nós estamos a pagar, daí ser benéfico. Não quero falar de números porque sei mas não sou eu que estou a tratar, foi o doutor Fernando Gomes que sabendo que ia sair foi de uma dedicação extraordinária. Pormenores tem de ser com ele, deleguei para tratar esse assunto. A SAD nunca vai ficar refém desses fundos, é um absurdo. Somos beneficiados e vou agora estar a desconfiar de quem me ajuda?”, referiu Pinto da Costa.

“Se o convidar hoje para se sentar com ele, tem de ficar de pé”: Pinto da Costa distancia Sérgio Conceição de Villas-Boas

“Sou acionista do FC Porto desde o primeiro dia e tenho vindo a comprar conforme as disponibilidades ações do FC Porto. Nem sabia a data da próxima Assembleia da SAD e comprei 2.000 ou 3.000 ações do FC Porto. É um crime enorme… Um dia antes, que crime enorme… Mas abuso de quê? Se fosse um milhão, agora este número… Fair play financeiro? Dia 31 de março era o prazo para ter tudo em dia e temos tudo rigorosamente em dia com a UEFA. Tenho a certeza absoluta disso. Cansado, física e mentalmente? Olhe, fisicamente não sei, nunca me viu correr, não sei que avaliação pode fazer da minha pujança física… Nunca deixei de fazer nada do que fazia há 40 anos. Mentalmente, pode ser que esteja um bocadinho tolinho mas há quem esteja mais porque pior do que ser tolinho é ser imbecil”, voltou a criticar visando André Villas-Boas.

“Diogo Costa? Ele já voa… O valor que podemos deixar de receber da Champions é considerável mas há dois aspetos. A Liga Europa também vai dar muito mais dinheiro do que atualmente, perdemos a diferença, e em junho entram 70 milhões de euros do negócio do Estádio. Agora, posso dizer-lhe que foi considerado o mais valioso do mundo e só sai se alguém bater a cláusula de rescisão”, concluiu Pinto da Costa.