Era o único resistente após as eliminações de todos os jogadores portugueses na primeira ronda do quadro de singulares, jogou como um verdadeiro representante do melhor que o ténis nacional pode ter e demonstrar. Nuno Borges nunca tinha conseguido chegar aos quartos do Estoril Open, o principal torneio da modalidade no país, mas agarrou esse objetivo com uma vontade que era impossível não ser concretizada. Sem olhar a nomes, sem olhar a currículos, sem olhar a momentos, sem olhar a rankings. Aproveitou a envolvência que lhe era favorável nas bancadas cheias do court principal, mostrou que o nível apresentado no surpreendente Open da Austrália não foi obra do acaso e venceu Lorenzo Musetti, o 24.º do mundo, em dois sets.

Houve muito coração e ainda mais ténis: Nuno Borges vence Lorenzo Musetti e é o primeiro português nos quartos do Estoril Open desde 2019

“Senti-me bastante mais confortável em campo. Precisava de passar por aquela experiência, sem precisar de ser com aquela dificuldade. Foi um encontro totalmente diferente, consegui fazer mais o meu jogo e tentei dificultar-lhe ao máximo a tarefa. Nos momentos decisivos estive muito bem e acabei por sair por cima. Estou muito feliz. Não achei que foi das partidas mais emocionantes e foi bom ter conseguido abstrair-me um bocado. Não foi daqueles jogos que senti que foi só jogado com o coração, muito sofrido. Senti-me bastante calmo e fiquei muito contente com a maneira como lidei com a situação. No Estoril adiciona um valor especial, esta vitória está no top 5 se calhar”, comentou o tenista maiato depois do triunfo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Agarrou a bicicleta, começou a escalar e chegou ao topo da montanha: Nuno Borges salva match point, vence Pouille e avança no Estoril Open

Seguia-se Cristian Garín, chileno que está nesta fase fora do top 100 mas que chegou a ser o 17.º do ranking, com chegada aos quartos de Wimbledon em 2022 e à quarta ronda de Roland Garros no ano anterior. “Não o conheço muito bem, sinceramente. Estou a viver o momento e mais logo começo a pensar na estratégia. Sei que já esteve no top 20, ganhou títulos, estes torneios não são novidade e certamente os quartos de final não é para ele a mesma importância que é para mim. Vou tentar aproveitar o fator casa, tentar absorver o máximo de confiança que este jogo [da segunda ronda] me deu e tentar fazer um grande jogo. Sei que se quero ter hipóteses, tenho de jogar o meu melhor”, acrescentara sobre o duelo seguinte no programa.

Um pouco à semelhança do que acontecera na véspera frente a Lorenzo Musetti, Nuno Borges jogava em dois “campos”. Por um lado, tinha essa vantagem de sentir que jogava em casa, com o apoio do público, com essa vontade extra tendo em conta que não só chegara pela primeira vez aos quartos do Estoril Open como era o primeiro português nesta fase desde a derrota de João Domingues com Stefanos Tsitsipas em 2019. Por outro, tudo isso trazia consigo uma natural dose de ansiedade e nervosismo como se viu na estreia diante de Lucas Pouille. A única forma de colocar os pratos da balança a seu favor passava mesmo pela capacidade de voltar a puxar do seu melhor jogo. Em alguns momentos, puxou. No entanto, não foi suficiente.

O encontro começou com dois jogos de serviço ganhos com grande confiança mas não demorou até haver muito mais Cristian Garín no encontro. Nuno Borges ainda conseguiu evitar os três pontos iniciais de break do chileno mas viu mesmo o adversário fazer o 2-1 que confirmou de seguida, mudando por completo até a própria confiança com que cada um encarava a partida. O português fazia duplas faltas, não conseguia ter armas contra as pancadas fortes do fundo do court do sul-americano e a ansiedade de querer fazer mais sem que estivesse a sair pelo menos o mínimo a notar-se até em bolas que eram bem trabalhadas mas que não tinham a melhor conclusão. Assim, e de forma natural, Garín fez novo break e fechou com 6-2.

Nuno Borges tinha de mostrar algo diferente desde o início do segundo set e o primeiro jogo de serviço veio responder a esse desejo. O português esteve melhor no primeiro serviço, trabalhou de outra forma os pontos, foi percebendo o que podia explorar nas características do chileno e fez o 1-0. Garín não perdeu consistência e deu uma resposta à letra mas Nuno Borges estava melhor, segurando o 2-1 apesar de ter um ponto de break e pela primeira vez levando o serviço do chileno às vantagens. Faltava só uma maior regularidade na cadência de pontos ganhos para a estabilização total do seu jogo, que surgiu antes de um jogo “chave”.

Com 3-2 no resultado e vantagem, Garín teve uma bola mais longa no limite da linha, ter-se-á ouvido um grito como que assinalar a bola fora, Nuno Borges fez a pancada seguinte e o chileno, com o court aberto depois de o português ter ficado no meio, atirou para fora. No entanto, o árbitro decidiu dar o ponto não a Borges mas a Garín, alegando interferência do público. O jogo esteve parado durante vários minutos, com o jogador português a chamar mesmo o supervisor Carlos Sanches e depois o seu adversário, sempre a tentar explicar que tinha continuado a jogada e que pelo menos deveria haver uma repetição do ponto. “Mas eu não tenho culpa. Ouvem-se tantos barulhos num jogo, dá para perceber as diferenças. Eu continuei a jogar. Assim tira-me o ponto e não tenho culpa”, argumentou. A decisão manteve-se e esse sexto jogo do segundo set teve mais de uma dezena de igualdades, com Borges a perder seis pontos de break antes do 3-3.

Quase meia hora depois, Nuno Borges não conseguiu ir buscar esse boost para o resto do encontro mas não acusou essa batalha perdida, mostrando-se disponível para a guerra com um jogo de serviço em branco que fez logo de seguida o 4-3. O próprio ambiente no court principal do Estoril Open estava diferente, com aquela bola no sexto jogo sempre presente na forma como se festejavam os winners de Nuno Borges e os erros de Cristian Guarín. A partida entrava numa fase decisiva onde qualquer erro no jogo de serviço poderia ser suficiente para fechar o encontro ou levar tudo para um decisivo parcial. Aí, o português tremeu. Com uma dupla falta, com um erro não forçado quando tinha o ponto “ganho”. Tremeu mas não caiu, fechando o 5-4 após salvar dois breaks e passando a pressão para o lado contrário. Tudo ficaria adiado para um tie break que começou com cinco mini breaks até ao 4-2 de Garín, que fechou o encontro com 7-3.