Era uma espécie de cimeira luso-francesa, acabou por tornar-se um autêntico pesadelo dos gauleses contra os portugueses. Quis o destino que as rondas iniciais do Estoril Open de 2024 colocassem em confronto quase toda a armada nacional contra adversários franceses e o saldo foi tudo menos positivo. Nos singulares, João Sousa perdeu contra Arthur Fils naquele que foi o último encontro da carreira como profissional e Henrique Rocha também não conseguiu resistir frente a Gaël Monfils. Já nos pares, Nuno Borges e Frederico Cabral também ficaram logo pelo caminho diante de Sadio Doumbia e Fabien Reboul. Sobrou, quase como último resistente, Nuno Borges. E foi literalmente um resistente para passar a primeira ronda, algo que tinha falhado no ano anterior depois da surpreendente derrota com Quentin Halys… que também é francês.

Agarrou a bicicleta, começou a escalar e chegou ao topo da montanha: Nuno Borges salva match point, vence Pouille e avança no Estoril Open

Entre duas paragens devido à chuva pelo meio, o maiato teve um daqueles jogos que se acaba bem conferem um reforço extra de motivação mas que se termina mal é um rombo para as semanas que se seguem. Lucas Pouille, que chegou a andar no top 10 do ranking mundial, ganhou os oito primeiros jogos, teve hipótese de fechar o encontro no segundo parcial mas Nuno Borges conseguiu uma grande reviravolta, passando à ronda seguinte com um triunfo por 0-6, 7-6 (6) e 6-3). “Foi um misto de querer muito e ao mesmo tempo não estar a conseguir fazer nada, a não conseguir entrar no jogo. Ele jogou muito com isso e obrigou-me logo a ter de tomar decisões. De repente tudo muda, ele também não está a conseguir jogar… foi uma montanha russa. No terceiro set senti que estava por cima e comecei a sentir-me mais confortável no campo, com as minhas decisões e as jogadas. Este jogo mentalmente valeu por três e foi mais coração do que ténis”, referiu.

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Seguia-se Lorenzo Musetti, italiano que ocupa o 24.º lugar no ranking ATP e que contribuiu para a vitória dos transalpinos na última edição da Taça Davis após um longo jejum sem títulos. “Estou mais preocupado com o jogo de amanhã [terça-feira] de pares mas é um jogador muito talentoso, confortável na terra batida, mas também a fazer bons jogos em piso rápido. Vou tentar jogar com o facto de eu já ter jogado e ele não, porque hoje senti na pele o que isso é. Com o fator casa, espero estar a jogar melhor ténis do que hoje se quiser ter hipóteses”, comentara ainda na segunda-feira, antes de um dia cancelado devido à chuva e a derrota na estreia em pares mas sem que nada interferisse com aquilo que tinha em mente. E se no primeiro jogo houve mesmo mais coração do que ténis, agora houve muito ténis a entrar no coração de todos os presentes nas bancadas, que festejaram a passagem do português aos quartos do Estoril Open.

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A partida começou com o italiano a tentar marcar uma posição através do seu serviço, fechando os dois jogos iniciais em branco e com muita confiança na sua esquerda e no jogo no fundo do court, algo que lhe valeu de seguida o primeiro break do jogo com um dos melhores pontos até aí que fechou o 3-1 para Musetti. Estava na altura de o português tentar outras soluções, fosse nas respostas mais agressivas ao serviço do transalpino, fosse na aposta em amorties que por muito pouco não lhe deram o 0-40 na quinta partida mas que valeram depois o contra break. Nuno Borges estava cada vez mais confiante, segurando o 3-3 no seu jogo de serviço e tendo mais um ponto de break desperdiçado de seguida. A decisão iria mesmo para tie break, com o jogador português a salvar dois set points para o 6-6 antes de elevar o nível e ganhar por 7-4.

A forma como ganhou o primeiro set, ficando sobretudo na retina uma paralela em slice que funcionou quase como um golpe final para o italiano nessa discussão, teve prolongamento no arranque do segundo parcial com Nuno Borges a ganhar o seu jogo de serviço, a fazer o break e a confirmar de seguida com o 3-0. O maiato tinha todas as condições para fechar o triunfo e seguir para os quartos mas teve ainda de passar por ligeiro calafrio, salvando um ponto de break para fechar o 5-2 antes de ganhar o segundo set por 6-3, tornando-se o primeiro português a chegar ao top 8 da prova desde João Domingues em 2019, quando perdeu exatamente nos quartos frente ao vencedor da competição desse ano, Stefanos Tsitsipas. Nuno Borges vai defrontar agora Cristian Garín, que venceu em três sets o “carrasco” de João Sousa, Arthur Fils.