A reação de Nuno Borges após aquela derrota logo na ronda inaugural com o francês Quentin Halys em 2023 e sobretudo a forma como reagiu à mesma era quase um decreto para as aspirações que o português tinha em relação ao Estoril Open – podia não ser ali, podia não haver uma data certa, mas algum ano teria de ser o seu, já depois do histórico triunfo conquistado em pares com Frederico Marques que ficou como um cartão de visita. Mais: além de estar a jogar “em casa”, o jogador deixara indicações de que o sucesso era tudo menos passageiro. Ao longo da temporada poderia ter momentos melhores ou piores mas aquilo que fez no Open da Austrália e a recente revalidação do título no challenger de Phoenix mostravam que, mesmo tendo chegado mais tarde ao circuito ATP por opção própria enquanto acabava os estudos universitários nos EUA, tinha capacidade para ombrear com os feitos de João Sousa. No entanto, com tudo isso, tinha algo a provar.

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“As expectativas são um bocadinho maiores em relação ao ano passado. Ao mesmo tempo sei como é o ténis e que tenho uma primeira ronda complicada. Tenho de me focar nessa. Não é que tenha ganho tantos encontros aqui, não tenho tanta pressão assim e ainda tenho muito a provar aqui. Existe um pouco de pressão, as pessoas estão sempre à espera que os portugueses vão mais longe e sendo eu agora número um é normal que atenção esteja virada para mim. Mas estou a fazer o meu trabalho igual, o meu ano está a correr bem. Gostava que o Estoril Open corresse bem mas se não correr também não é o fim do mundo e, apesar de querer muito, as vezes não é como se quer. Mas as expectativas são boas”, comentara o maiato.

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“O meu objetivo principal continua a ser jogar os Jogos Olímpicos e tenho uma boa oportunidade de poder participar. Apesar dos torneios do Grand Slam continuarem a ser uma prioridade, acho que este era algo especial a adicionar este ano. Quero continuar a subir mas é incrível como um único torneio muda muito a história. É difícil por números mas gostava de voltar a entrar no top 50, de continuar a jogar estes torneios, Masters 1.000, Majors, porque sinto que é aqui que me ajuda a crescer. É contra os melhores do mundo que quero continuar a jogar e, apesar de o ranking não refletir isso, sinto que estou a jogar melhor e ainda tenho algo para evoluir”, acrescentara Nuno Borges, que não tinha um sorteio “fácil” pela frente.

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Apesar de ter chegado do qualifying, Lucas Pouille, de 30 anos, chegou a andar no top 10 do ranking ATP e chegou às meias-finais do Open da Austrália em 2019, já depois de ter ido aos quartos de Wimbledon e do US Open em 2016. Até os resultados em 2024 não tinham sido particularmente famosos a não ser a chegada à final do challenger de Nonthaburi no início do ano, tendo desistido por lesão, mas o francês era daquele tipo de adversários que, jogando ao seu melhor nível, poderia fazer esquecer o atual 241.º lugar no ranking. E foi isso que aconteceu, com uma entrada verdadeiramente demolidora que “gelou” as bancadas.

O encontro não começou da melhor forma para o português, que sofreu um break logo a abrir depois de um par de bolas onde pareceu denotar alguma ansiedade com a estreia neste Estoril Open antes de desperdiçar o contra break e ver a partida interrompida pela chuva com vantagem nula no serviço do francês. Não foi uma paragem muito longa mas teve tudo menos de abençoada para Nuno Borges: com uma percentagem muito baixa de primeiro serviço, com uma série de erros não forçados e sem capacidade para contrariar o melhor jogo do gaulês (com uma claque particularmente ruidosa no court principal), o maiato não conseguiu evitar uma “bicicleta” de 6-0 que não refletia em nada a real diferença entre os dois jogadores.

Quando se esperava que o final do primeiro set fosse uma espécie de reset para o encontro, o português não teve de novo uma entrada feliz no segundo parcial. Notavam-se algumas melhorias, o serviço estava a sair de forma mais fluida, Pouille continuava muito consistente no seu jogo e conseguia de novo fazer o break, tendo um início com 2-0. Depois, tudo começou a mudar: num encontro onde a voltou a estar a 30, Nuno Borges ganhou o seu primeiro jogo à nona tentativa, fez logo de seguida o break, ganhou o seu jogo de serviço logo a seguir com um nível que nada tinha a ver com o arranque do encontro e deu quase um “sinal” da confirmação da viragem pela forma como voltou a sorrir para a cadeira com 3-2, aproveitando o embalo para pressionar o adversário e somar novo break que estendia a passadeira para fechar o segundo set mas que teve um percalço logo a seguir com o contra break, antes da chegada da chuva com vantagem de 6-5 e uma nova interrupção, ainda mais curta, para o 6-6 e a decisão do set no tie break com triunfo por 8-6 do maiato depois de ter salvo no seu serviço um match point do gaulês. Estava dada uma real prova de força.

Em condições normais, Nuno Borges estava em vantagem. Em vantagem em termos físicos, tendo em conta que Pouille jogara na véspera e uma partida mais longa. Em vantagem em termos psicológicos, até pela forma como conseguiu levar o jogo para terceiro set. Em vantagem em termos anímicos, com as bancadas em delírio quase em resposta à “claque” do francês a gritar “Nuno, Nuno, Nuno”. Faltava, ainda assim, mais um clique. Um clique que demorou mas um clique que chegou mesmo no sétimo jogo, quando o português fez o break e passou para a frente por 4-3 antes de fechar o parcial e o encontro com 6-3 no final de uma “maratona” de duas horas e 20 minutos que se tornou o melhor arranque possível do Estoril Open, que tinha registado a vitória do espanhol Roberto Bautista Agut frente ao vice-campeão de 2023, Miomir Kecmanovic, e o triunfo do austríaco Dominic Thiem diante do alemão Maximiliar Marterer.